São Paulo O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, no programa "Roda Viva", da TV Cultura, que tomou a decisão de afastar Ricardo Berzoini (PT-SP) da coordenação-geral de sua campanha após não ter obtido dele resposta sobre quem, no partido, foi responsável pela "burrice" da operação dossiê tentativa de comprar provas contra políticos do PSDB supostamente envolvidos na máfia dos sanguessugas.
Ao relembrar o envolvimento de políticos da cúpula do PT em escândalos, o presidente citou Antônio Palocci e José Dirceu e disse que o princípio "sagrado" é afastar do governo aqueles que estão sob suspeita, para que se defendam nas instâncias adequadas.
Pela primeira vez, Lula discutiu abertamente o negócio entre a empresa do filho dele, a Gamecorp, e a Telemar. Disse que nada de irregular foi encontrado na vida profissional do filho e reiterou que, se qualquer ilegalidade for descoberta, qualquer um de seus parentes está sujeito à mesma legislação que qualquer brasileiro.
Pressionado a esclarecer a participação de petistas da coordenação de sua campanha no caso dossiê, Lula disse que não se pode ser "simplista" ao cobrar dele tais explicações. "Se os companheiros quisessem me ajudar, deveriam ter dito."
Sem abordar diretamente o mensalão, criticou duramente o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares por ter feito negociações financeiras com aliados nas eleições.
Dossiê e Berzoini
"Chamei o presidente do partido lá em casa e falei: Olha, quero saber quem fez essa burrice. Não vou dizer dizer o que estou pensando. Quero saber quem fez, porque isso é de uma sandice inominável. Ele me disse que não sabia. Me disse que não sabia. Falei: ô Ricardo, você, como presidente do partido, tem obrigação de apresentar para a sociedade uma resposta. Tem obrigação. E ele não fez. Na quarta-feira, eu o afastei da coordenação da campanha."
Petistas envolvidos
"Se fosse uma coisa boa, todo mundo contava. Como é coisa ruim, as pessoas escondem. Isso teria sido solucionado com mais facilidade se tivessem assumido publicamente as razões pelas quais fizeram, quem deu o dinheiro. Seria muito mais convincente para a sociedade e mais tranqüilo se tivesse acontecido, mas não aconteceu."
"A ordem dada à PF é que não deixe pedra sobre pedra. (...) Se os companheiros quisessem me ajudar, deveriam ter dito. Era o comportamento digno de alguém que disse que fazia uma coisa para ganhar eleição."
Vida pessoal
"Não me peça para falar o nome da mulher, do filho de um adversário. No caso do Collor em 89 eu lembro como se fosse hoje. (...) Se eu tiver que dizer isso ou perder as eleições, então eu perco as eleições. Porque tive a minha filha vítima disso."
Gamecorp e Telemar
"Do ponto de vista jurídico, a Telemar é uma empresa privada. A Previ, que tem ações na Telemar, não participa sequer da administração da Telemar porque não pode participar. Tem alguma coisa errada? Porque até agora, tudo foi investigado por meus adversários políticos. Um estardalhaço. Não posso tomar as dores do meu filho. Se ele está errado, ele paga. Agora, não posso impedir que ele trabalhe. (...) Vale para o meu filho o que vale para os 190 milhões de brasileiros. Se tem alguma dúvida, acionem ele. Só estou dizendo que da minha parte não tocarei nas coisas pessoais do meu adversário."
Escândalos e petistas
"O Palocci e o José Dirceu foram chamados para o governo pelas qualidades que tinham. Se no governo cometeram coisas que a Justiça entendeu que foram equivocadas, têm que ser afastados. Está para ser julgado. Não posso dizer que cometeram coisas erradas. Posso dizer é que eles viraram alvo de especulações e que eu não poderia mantê-los no governo. (...) É isso que é sagrado. É que não existe amigo nessas coisas. Existe comportamento."
Acordo PT-PL
"Nunca, em nenhuma reunião que tenha participado, se discutiu pagar a qualquer partido. O que aconteceu é que o PL pediu ajuda para o PT para sua campanha. E, na época, fiz uma crítica muito séria ao Delúbio porque achava abominável. Já tinha tido 46% dos votos, não ia ter muito mais voto com a vinda desses partidos para cá."
Debate
Lula voltou a dizer que estranhou a postura agressiva de seu adversário, Geraldo Alckmin (PSDB), durante o debate da Band. Para o presidente, Alckmin "estava ensandecido naquele programa". "Acho que ele pensou que poderia resolver o problema da guerra com uma única batalha." Na opinião do petista, que disse preferir um "debate programático", faltou a Alckmin sensibilidade para com os eleitores.
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