Ponta Grossa - A ação de cambistas resiste à troca do vale-transporte de papel pelo bilhete eletrônico nos municípios que já adotaram o sistema no Paraná. Embora o tíquete tenha deixado de ser moeda de troca, os créditos continuam sendo comercializados. Trabalhadores emprestam os cartões a cambistas, que compram os créditos e os revendem nos acessos dos terminais. A prática é comum em Ponta Grossa, onde o sistema foi adotado há dois anos, e em Londrina, onde a bilhetagem é usada desde 2004. Na região metropolitana de Curitiba (RMC), que começou a usar os cartões no início deste mês, ainda não há um plano de combate ao comércio paralelo.
Em Ponta Grossa, onde o sistema funciona desde 2006, o segmento dos trabalhadores de empresas alimenta a ação dos cambistas. A passagem, que custa R$ 2, é vendida por R$ 1,65 para os vendedores informais, que a revendem por R$ 1,75.
Perto de oito cambistas atuam diariamente no terminal central da cidade. O usuário paga a passagem ao cambista, que entra nos guichês do terminal com o cliente e passa o cartão na máquina de leitura, liberando a entrada do usuário no interior do terminal.
Um dos vendedores, que não quis ser identificado, disse que fatura em média R$ 600 por mês com a transação. O trabalho dura geralmente duas semanas, porque os créditos de cada cartão acabam logo. Por questão de segurança, os cambistas só compram os cartões de vendedores de confiança. Caso contrário, podem ser lesados com o bloqueio do bilhete por parte do revendedor.
A Viação Campos Gerais (VCG), que opera o transporte coletivo em Ponta Grossa, diz que a bilhetagem eletrônica reduziu o comércio paralelo, mas não o eliminou. O chefe de fiscalização viária da prefeitura, José Eduardo Lemes, considera que a ação dos cambistas não onera o sistema, já que a passagem a R$ 2 já foi paga pelo empresário no ato da compra, mas que os vendedores informais podem ser penalizados. Cada cartão, lembra, é vinculado ao funcionário através de nome e CPF. "Os cambistas podem ser autuados por falsidade ideológica", alerta Lemes.
Em Londrina, onde a bilhetagem eletrônica existe desde 2004, o diretor de transportes da Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU), Wilson Santos, revela que o sistema também não eliminou a figura do cambista, mas que tudo depende de fiscalização. "É uma cadeia: se tem cambista é porque tem funcionário que cede o cartão", afirma. Ele lembra que os funcionários deveriam ser fiscalizados por suas empresas. "Se ele faz a opção pelo vale-transporte e não o utiliza não pode nem ser indenizado pelo INSS se sofrer algum acidente no percurso da casa para o trabalho porque não estava usando o ônibus", comenta.
Fiscalização
O responsável pelo departamento de marketing da Dataprom, uma das empresas que opera o sistema de bilhetagem eletrônica no Paraná, Francisco Gioppo Nunes, afirma que a fiscalização deve ser responsabilidade dos gestores do serviço em cada município.
A implantação do sistema será gradativa nos 12 municípios da região metropolitana que não estão integrados à Rede Integrada de Transportes, que é gerenciada pela Urbanização de Curitiba (Urbs). Inicialmente, o bilhete eletrônico será comprado apenas por empresários que os repassarão aos seus funcionários. Na segunda etapa, o cartão será estendido a todos os usuários, incluindo os isentos.
O diretor executivo do Sindicato de ônibus de Curitiba e Região Metropolitana, Ayrton Amaral, diz que as empresas devem estar atentas quanto ao uso dos cartões pelos funcionários. Ele ressalta que o sistema reduz, em muito, o comércio paralelo, mas para que a prática seja eliminada é necessária a participação de todos.