A legalização dos bingos, afora o fator de desintegração familiar que o jogo causa, representará uma batalha vencida pelo crime organizado. Os promotores de Justiça, como nós, que trabalharam, e os que hoje integram grupos especializados do Ministério Público (Gaecos), voltados ao combate da criminalidade organizada, sabem bem o quanto a atividade de bingos possibilita a lavagem de dinheiro, pela facilidade de maquiagem contábil de tais empresas.
O combate às quadrilhas especializadas é voltado à quebra da estrutura administrativa e financeira dos bandos, pois não adianta prender apenas alguns integrantes da rede criminosa, porque outros assumirão o trabalho na teia da organização, que segue perene. Assim, a vingar a legalização, será comum a instituição de bingos por grupos criminosos, com gestão dos chamados "testas de ferro", prestando-se o dinheiro lavado para manter a estrutura criminosa.
Numa primeira ótica, o bingo pode parecer uma atividade "do bem", inocente, que gerará postos de trabalho, como gera a venda de DVDs, CDs piratas, produtos falsificados e "importados" do Paraguai. No entanto, a experiência que tivemos com o funcionamento de bingos, mediante liminares judiciais, dizem-nos o contrário e, se há algum efeito social positivo de tal atividade, ele é pulverizado pela desgraça social que o crime organizado traz. Não podemos transigir com as pequenas coisas, pois de pouco em pouco, o crime enche seu papo, digo, seu saco de dinheiro.
Paulo Sérgio Markovicz de Lima é promotor de Justiça do Ministério Público do Paraná. Hoje atua junto ao 1º Tribunal do Júri de Curitiba. Foi integrante da Promotoria de Investigação Criminal, unidade do MP-PR que precedeu o GAECO - Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado.
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