Uma bolsa sem costura ou uma embalagem de presente sem qualquer vestígio de fita adesiva. Parece muito tecnológico ou moderno, mas na verdade é o furoshiki, uma arte tradicional e centenária japonesa. Com um tecido quadrado, é possível embalar qualquer coisa, de um livro até engradados de bebidas, além de fazer bolsas para levar à praia, mercado ou passeios variados.
A designer e professora Sofia Nanka Kamatani, uma das responsáveis por disseminar o furoshiki no Brasil, conta que a técnica surgiu no Período Edo, entre os anos de 1600 e 1800, no Japão. "Os senhores de feudos frequentavam os banhos públicos e cada um carregava seu vestuário embrulhado no furoshiki, que era identificado com o brasão da família", conta. Além disso, nesse período havia muitos incêndios e o furoshiki servia como uma ferramenta para ajudar na mudança: os objetos embrulhados eram carregados nas costas e cabeça.
No Brasil, os imigrantes japoneses mantiveram a tradição e fizeram questão de repassá-la aos descendentes. Foi assim que a assessora de eventos Tereza Hatue de Rezende aprendeu a fazer os embrulhos. "Aprendi com a minha avó. Antigamente, carregávamos o lanche da escola assim", conta. Com Sofia, a avó também foi a responsável pelo primeiro contato com o furoshiki. "Aconteceu pelo gesto de ser presenteada pela minha avó, porque todos os meus parentes moram no Japão e esse elo com o furoshiki é muito forte, é a minha infância."
Sustentabilidade
Embora fizesse parte do cotidiano dos imigrantes no país, a técnica ficou esquecida até mesmo no Japão, mas voltou com força na última década com a difusão do conceito de sustentabilidade. Tereza conta que teve a inspiração para popularizar o furoshiki depois de ver os índices de consumo de sacola plástica no mundo.
Para quem, como Tereza, defende essa arte como alternativa ao plástico não há argumento melhor: o embrulho de pano é a concretização do conceito de "4Rs", de reuse, recicle, reduza e respeite. No ano passado, ela começou um projeto com moradoras da Vila das Torres. As mulheres cortaram os tecidos e aprenderam a fazer bolsas, que foram, inclusive, distribuídas em um evento de moda da capital.
Tanto Sofia quanto Tereza estão engajadas para disseminar essa cultura no país, em encontros e palestras sobre o tema. Para Sofia, o processo é apaixonante, porque a cada nova reunião, ouvia histórias de famílias que tinham alguma relação com o furoshiki. "Uma das histórias mais emocionantes foi de uma senhora japonesa que confidenciou que até hoje tem a carta do seu primeiro amor embrulhada no furoshiki. Dá para perceber o tamanho do amor que existe nesse embrulho."
Tereza Hatue de Rezende ensina o passo a passo para se fazer uma bolsa tipo ecobag com o furoshiki.
Mãos à obra