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Ordem Nacional de Mérito Científico

Bolsonaro retira condecoração dada a médico de estudo com superdosagem de cloroquina

Pesquisa, realizada entre abril e março de 2020, contou com a participação de 81 pacientes internados em estado grave no Hospital Delphina Aziz, de Manaus.| Foto: Reprodução (Foto: Reprodução)

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O presidente Jair Bolsonaro retirou a condecoração de "Comendador" da Ordem Nacional de Mérito Científico dada, por ele mesmo em decreto do dia 3 de novembro, ao médico Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda, coordenador de uma pesquisa com superdosagem de cloroquina em Manaus que resultou na morte de 11 pessoas e teve de ser interrompida. O estudo é alvo de investigação do Ministério Público Federal (MPF). A revogação do título foi comunicada em edição extra desta sexta-feira (5) do Diário Oficial da União.

Procurados, a Presidência da República, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e o Ministério da Saúde (MS) não responderam qual foi o motivo de inclusão e da exclusão do nome de Lacerda na lista dos condecorados na Ordem Nacional de Mérito Científico.

Em entrevista para a Gazeta do Povo, publicada em 16 de abril de 2020, Lacerda admitiu ter iniciado o uso de cloroquina com a dosagem de 600mg de 12 em 12 horas em pacientes graves no Hospital Delphina Aziz, em Manaus. A bula do remédio, no entanto, diz que a quantidade máxima da substância que pode ser ingerida por seres humanos é de, no máximo, 25 mg por quilo (de acordo com o peso do paciente) em 24 horas, não podendo ultrapassar 600 mg por dia; além disso, o documento diz que não se pode ingerir mais de 1.500 mg no decorrer de três dias.

Perguntado sobre a superdosagem na pesquisa chamada por ele de "Clorocovid", o médico disse ter copiado um estudo chinês - que nunca apresentou à reportagem - em que foi adotada a dosagem de 500 mg de 12 em 12 horas por 10 dias. Depois da entrevista, ele admitiu, por meio da sua assessoria de imprensa, ter usado cloroquina e não hidroxicloroquina como o suposto estudo chinês. A hidroxicloroquina é menos tóxica e admite dosagens maiores do que a cloroquina.

Em abril de 2020, o Ministério Público Federal (MPF) no Rio Grande do Sul abriu inquérito civil para apurar a pesquisa, mas ainda não houve nada conclusivo. A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), ligada ao Conselho Nacional de Saúde (CNS) e ao Ministério da Saúde, responsável pela avaliação de pesquisas científicas, arquivou a investigação apesar de ter identificado "descontrole" no estudo em relação à cadeia de prescrição, dispensação e aplicação das doses.

Em julho e agosto de 2021, a Gazeta do Povo publicou duas reportagens com parentes de pacientes que morreram durante a pesquisa com a suposta superdosagem de cloroquina. Eles mostraram prontuários das doses aplicadas e denunciaram ações que consideraram antiéticas, como a falta de transparência dos médicos envolvidos e falta de informações sobre o que estava ocorrendo com os pacientes.

Além de Marcus Lacerda, 27 pesquisadores assinam a pesquisa. Entre os financiadores do estudo estavam o governo do Amazonas, a Farmanguinhos (Fiocruz-Manaus) e a Fundação Oswaldo Cruz.


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