Seis dias depois de uma granada ter sido encontrada no Jardim Social, em Curitiba, um artefato parecido com uma bomba-relógio assustou quem estava no Tribunal do Júri, no Centro Cívico, no começo da tarde de ontem. O explosivo foi encontrado num banheiro do prédio, que teve de ser esvaziado. Cerca de cem pessoas estavam no local, a maioria estudantes de Direito que foram acompanhar um julgamento que acabou suspenso. A bomba foi desativada por um jato dágua. Ninguém ficou ferido e não houve danos ao edifício.
O advogado criminalista Dálio Zippin Filho, membro da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e que atuaria no júri de ontem, acredita que a bomba foi deixada no local como um recado para ele. "Acho estranho acontecer algo desse tipo justamente quando eu estava no tribunal. Era um júri sem nenhuma expressão", justifica.
Zippin disse que desde a última semana tem recebido recados para tomar cuidado e diz desconhecer a autoria das mensagens. "Não posso afirmar, mas acredito que tenha ligação com o PCC", conta. O motivo desse temor são as declarações feitas por ele na semana passada, durante os debates sobre a influência da facção criminosa paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) em penitenciárias do Paraná. "Acabei despertando a ira do secretário de Segurança (Luiz Fernando Delazari) e do PCC", avalia.
Zippin estava no Tribunal para defender Claudemir do Nascimento Rosa, acusado pela morte de Jonas Barbosa de Freitas, em 29 de abril de 2000. "O crime aconteceu em uma invasão. Ele não tinha advogado e acabei sendo indicado para pegar o caso", conta o advogado.
Susto
A notícia de que havia uma bomba no prédio surgiu quando o julgamento já havia começado. Quando uma testemunha estava sendo ouvida, o oficial de justiça José Vicente Gonçalves foi ao banheiro público masculino, localizado logo na entrada do tribunal. "Como costumamos fazer, fui buscar a lixeira para fumar", explicou.
Ao chegar ao banheiro, Gonçalves se deparou com a lixeira virada de ponta-cabeça. "Quando desvirei foi um susto", lembra. "Era uma sacola com três canos amarrados com fio. Em cima eu vi um relógio digital que corria o tempo rapidamente. Também tinha fios coloridos. Era uma bomba-relógio", afirma o oficial.
Gonçalves saiu do banheiro e foi até o juiz Rogério Etzel, que presidia o julgamento, e comunicou-o sobre o que havia encontrado. Após confirmar a existência do explosivo, o juiz explicou o que estava acontecendo e pediu para que todos que estavam no prédio saíssem em ordem. "Não houve pânico, mas todos pareciam nervosos", relata um dos estudantes que estava no auditório.
A área do tribunal foi isolada para que o grupo anti-bomba do Comando de Operações Especiais (COE) desativasse o explosivo. Em aproximadamente uma hora a bomba foi analisada e destruída. De acordo com o capitão Roberto Sampaio, do COE, um forte jato dágua foi utilizado para evitar que o artefato explodisse. "Não é possível precisar se era uma bomba-relógio ou algo que seria ativado por alguém de fora", comenta.
O explosivo foi montado com pólvora de rojão, bateria e canos de armamento cortados. "É um material de fácil acesso, mas é preciso ter um mínimo de conhecimento para fazer isso. Não era algo planejado por um leigo", avalia o capitão. "A explosão não causaria danos à estrutura do prédio. Seria mais um susto", conta Sampaio. Porém, caso uma pessoa estivesse no banheiro quando o artefato explodisse poderia ser morta. O material utilizado na montagem da bomba e as imagens registradas pelo sistema de monitoramento interno do tribunal foram encaminhados para a Delegacia de Explosivos, Armas e Munições (Deam), que investiga o caso.