Um incêndio de grandes proporções atingiu o Museu da Língua Portuguesa, na região central de São Paulo, na tarde desta segunda-feira (21). Um bombeiro civil morreu ao tentar conter o início das chamas, que só foram controladas às 18h30. A Estação da Luz, que fica ao lado do museu, não teria sido atingida. Durante quase três horas, era possível ver pequenas explosões no telhado e as labaredas chegaram a cinco metro de altura.
“O incêndio começou no primeiro andar [do museu] e passou rapidamente para o segundo por quanta da estrutura do prédio que é basicamente madeira”, afirmou o comandante dos Bombeiros, Valdir Pavão.
De acordo com o arquiteto Pedro Mendes da Rocha, filho de Paulo Mendes da Rocha, um dos responsáveis pelo projeto do museu, o telhado em madeira e zinco favorece a propagação das chamas. Ele explica que o prédio foi reforçado com estruturas de concreto aramado para tentar minimizar o risco de incêndio por conta da grande quantidade de madeira por se tratar de um prédio centenário.
“É uma tragédia que se repete. Em 1947, esse mesmo prédio foi consumido pelas chamas. A torre do relógio serviu como chaminé. Não imaginávamos que isso fosse voltar acontecer”, lamentou o arquiteto.
O Museu da Língua Portuguesa fica na Praça da Luz e, às segundas-feiras, fica fechado ao público. Segundo a Secretaria de Estado da Cultura, a sede administrativa fica em outro endereço, por isso é provável que não houvesse pessoas no museu. Por volta das 18h, uma pessoa ainda não identificada subiu no telhado do prédio e caminhou em direção as chamas.
Ao lado do prédio, fica a Estação da Luz, importante ponto de intercessão entre metrô e trem no centro de São Paulo. O incêndio afetou a circulação dos trens da Linha 7, que está paralisada entre as estações Luz e Barra Funda, e da linha 11, entra a Luz e a estação Brás.
Segundo a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), a ala do prédio destinada ao funcionamento da estação de trem não foi atingida pelo fogo. Ela foi fechada, entretanto, a pedido dos bombeiros, por questão de segurança devido à fumaça tóxica.
Acervo digital
Em entrevista à “Globonews”, na tarde desta segunda-feira, a coordenadora de conteúdos e roteiro do museu, Isa Grinspum Ferraz, classificou o incêndio como uma “tragédia”.
“[O museu] foi fruto do trabalho de muitos anos de uma equipe multidisciplinar de altíssimo nível, que trabalhou junta para criar uma coisa completamente nova. Ele mudou o paradigma dos museus no Brasil e mesmo fora do Brasil, ele era uma referência internacional”, resumiu a coordenadora.
Ferraz disse considerar o espaço “revolucionário”, não apenas pela “tecnologia e pelo formato”, mas pela forma de “encarar a língua portuguesa no Brasil para um público amplo”.
Inaugurado em março de 2006, o museu é um dos mais visitados do Brasil e da América do Sul. Ele foi concebido e implantado pela Fundação Roberto Marinho, instituição ligada ao Grupo Globo, graças a convênio com o governo de São Paulo, responsável pela gestão.
Outro incêndio em 1946
O edifício da Estação da Luz já havia passado por um incêndio de proporções parecidas na madrugada do dia 6 de novembro de 1946, quando o relógio da Luz foi completamente destruído pelo fogo, bem como toda a estrutura dianteira do edifício. A escassez de água atrapalhou o trabalho de salvamento naquela manhã, e os bombeiros chegaram a recorrer às águas do lago da Estação da Luz para abastecer as mangueiras. O fogo irrompeu na seção de Contabilidade da Estação por volta das 2 h e rapidamente se alastrou, só sendo controlado às 7 h. Dois bombeiros ficaram feridos. A Estação só seria inteiramente reconstruída em 1950.
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