O Corpo de Bombeiros do Rio vai realizar buscas por outras possíveis vítimas do acidente na Ciclovia Tim Maia por até três semanas. O comandante das unidades de salvamento marítimas, Marcelo Pinheiro, afirmou que a corporação trabalha com a possibilidade de que haja até mais três corpos no mar. Ainda não houve a confirmação de novas vítimas, já que ninguém procurou a Defesa Civil em busca de parentes desaparecidos após o desabamento da ciclovia.
“As buscas aéreas vão continuar até duas ou três semanas porque os corpos demoram de três a 15 dias para emergir à superfície. Além disso, eles podem se deslocar a distâncias muito grandes. Podem ser encontrados até na praia do Recreio dos Bandeirantes”, explicou Pinheiro.
Para secretário do Rio, ressaca que derrubou ciclovia é “evento” novo
O secretário municipal de Governo do Rio, Pedro Paulo Carvalho Teixeira, classificou como “um evento novo” a ressaca que atingiu e fez cair um trecho da Ciclovia Tim Maia, mas admitiu rever estruturas e protocolos municipais.
Leia a matéria completaSegundo o relato de testemunhas, pelo menos mais três pessoas teriam caído da pista, que ruiu em um trecho de aproximadamente 50 metros. Ciclistas que passavam no local disseram que uma das vítimas desaparecidas seria uma mulher que tirava fotos com o celular, encostada na mureta da pista.
Vítimas
Os corpos de dois homens resgatados no mar, anteontem, já foram identificados. O primeiro foi o do engenheiro Eduardo Albuquerque, 53 anos. Ele morava em Ipanema e corria de casa até o Leblon. A mulher dele, a médica Eliane Albuquerque, viu o acidente pela televisão e suspeitou que o marido pudesse mesmo estar entre as vítimas. Ficou desesperada ao ver o corpo na praia. O casal tem um filho de 15 anos. O corpo será cremado na tarde deste sábado.
A segunda vítima a ser identificada foi o gari comunitário Raimundo Severino da Silva, 60 anos, que foi enterrado na manhã deste sábado. A viúva Eliane Santos contou que o marido havia saído naquela manhã para dar uma volta em Copacabana. “Ele sempre fez isso nas folgas dele. Como você vai adivinhar que vai acontecer isso? Ele estava passando na hora. A onda veio e levou ele. Eu estou vivendo uma vida inesperada. Não estou acreditando que perdi meu marido por nada”, afirmou Eliane, que era casada com Silva havia 11 anos. Ela contou que Silva era gari comunitário havia quase 20 anos na Rocinha. Ela soube da morte dele por um amigo, às 23 horas de quinta-feira. Silva havia sido identificado pelas impressões digitais.
Os custos do enterro foram pagos pelo consórcio Contemat Geotecnia/Concrejato, responsável pela construção da ciclovia, informou a família. Um primo da vítima, Marco Antônio Silva, disse que ninguém poderia esperar que uma “ciclovia tão nova” pudesse desabar. “Eu espero que a justiça seja feita. Era um homem trabalhador, não merecia isso não”. Ele disse ainda que a família se preocupa com a situação financeira de Eliane. “Ela só tinha ele, que ajudava ela em tudo. Ele era o porto seguro dela. Agora, pra ela, desabou o chão. Não desabou só pra ele não, desabou pra ela também”, afirmou o primo.
Série de falhas
O desabamento de parte da Ciclovia Tim Maia se soma a uma série de problemas em obras da prefeitura do Rio na última década. Construído para ser “o mais moderno da América Latina”, o Estádio Olímpico do Engenhão, no bairro do Engenho Novo, zona norte do Rio, finalizado em 2007 para os Jogos Pan-Americanos daquele ano, ficou fechado por 23 meses, entre 2013 e 2015, por problemas estruturais em sua cobertura. Primeira obra do Pan, o estádio, que receberá provas de atletismo nos Jogos Olímpicos, em agosto, foi orçado em R$ 60 milhões, mas seu custo final alcançou os R$ 380 milhões. Em junho de 2013, a prefeitura anunciou que a cobertura teria de passar por um reforço estrutural imediato, pois um erro de projeto poderia causar um desabamento. Os custos ficaram com os consórcios Delta/Racional/Recoma e OAS/Odebrecht, cada um responsável por uma fase das obras.
Também construída para os jogos de 2007, a Vila do Pan, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, que abrigou atletas de 42 países e depois teve as unidades residenciais comercializadas, sofreu com afundamento de solo antes mesmo do início das competições. A vila, um condomínio de 17 prédios, com 1.480 apartamentos, a cargo da construtora Agenco, foi erguida em uma extensa área arenosa, e dois trechos longos do terreno cederam, formando crateras imensas. Lajes e estacas foram destruídas com isso.
Obra olímpica, o BRT Transoeste, corredor exclusivo de ônibus, também apresenta falhas. Inaugurado em 2012, com 52 quilômetros de extensão, entre Campo Grande e o Terminal Alvorada, na zona oeste, a pista de tráfego rápido logo apresentou sinais de que não suportaria a grande quantidade de veículos lotados esperada. Surgiram buracos e ondulações e também falhas nas faixas divisórias entre o corredor exclusivo de ônibus e as que servem aos demais veículos. Análise de especialistas mostrou que o material usado na pavimentação não era adequado ao peso dos veículos e às altas temperaturas do Rio. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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