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Andrea quer ajudar crianças carentes, não com roupas ou alimentos. Para ela, a confecção de bonecas é uma grande demonstração de carinho | Marco André Lima/ Gazeta do Povo
Andrea quer ajudar crianças carentes, não com roupas ou alimentos. Para ela, a confecção de bonecas é uma grande demonstração de carinho| Foto: Marco André Lima/ Gazeta do Povo

Produção

Blog ensina como fazer

Em 2010, a designer de bonecas Sarah Hanson resolveu criar um blog, o Dolly Donations, para mobilizar outras artesãs dos Estados Unidos e de outras nações a produzirem brinquedos para doar a crianças pobres. A iniciativa já atendeu meninos e meninas do Japão, Honduras, Etiópia e Haiti. Sarah faz contato com artesãos desses países e disponibiliza as informações para doações em seu site. Voluntários de todo o mundo confeccionam e enviam bonecas. Em função da ação descentralizada, não é possível saber o número exato de meninos e meninas beneficiados, mas somente em uma das ações foram enviadas mais de 500 peças ao Haiti.

No site também é possível encontrar moldes de bonecas acessíveis a qualquer pessoa, mesmo para quem nunca costurou na vida. "A missão da Dolly Donations é fazer a diferença na vida daqueles menos afortunados, especialmente crianças órfãs em todo o mundo, para lhes fornecer uma fonte de conforto", disse a artesã em entrevista por e-mail à Gazeta do Povo.

Uma preocupação da designer é garantir que as crianças possam se identificar com as bonecas. Por isso, para cada país que o brinquedo será enviado, há uma orientação sobre a idade e cor da pele dos meninos e meninas. O lema da iniciativa é garantir uma boneca de cada vez, simbolizando que qualquer pessoa pode ajudar e cada auxílio é válido. "Por meio das ações apoiadas pela Dolly, as pessoas podem criar uma boneca para uma criança com problemas, sabendo que vão ter um impacto emocional sobre ela", afirmou Sarah.

Iniciativas

Outros bons exemplos para seguir. Confira outras iniciativas:

Associação Brasileira de Brinquedotecas

Reúne endereço de instituições que precisam de doação de brinquedos, como creches, entidades assistenciais e hospitais. Há também o contato de diversas brinquedotecas. http://www.brinquedoteca.org.br

Mudar o Mundo

Criado em fevereiro de 2010, o site tem o objetivo de aproximar pessoas que desejam doar ou quem quer receber alguma doação. Tem uma ferramenta com o mapa do Brasil que mostra os doadores mais próximos de sua localidade. http://www.mudaromundo.com.br

Toys for Tots

Entidade criada em 1947 por um fuzileiro naval dos Estados Unidos, que reuniu amigos e distribuiu em um Natal 5 mil brinquedos. A iniciativa surgiu quando sua esposa confeccionou uma boneca para doação, mas não encontrou nenhuma entidade que auxiliasse na entrega do brinquedo. Em 1948, a Toys for Tots foi abraçada por fuzileiros navais de todos os EUA. A entidade já doou o equivalente a US$ 487 milhões para 188 milhões de crianças pobres. http://www.toysfortots.org

Donation Town

O site reúne organizações dos Estados Unidos e Canadá que buscam gratuitamente doações. O usuário digita o CEP de sua residência e aciona a entidade mais próxima. É possível fazer doações de diversos itens, como brinquedos, móveis e calçados. http://www.donationtown.org/

Ao ver pela televisão as cenas da reintegração de posse da ocupação do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), a pesquisadora e artesã curitibana Andrea Cordeiro decidiu fazer algo pelas cerca de mil crianças que, do dia para a noite, haviam perdido o lar. Nas redes sociais, ela e outras artesãs de diversas partes do Brasil começaram a debater o que poderia ser feito. Andrea se lembrou de um projeto nos Estados Unidos que confecciona e doa bonecas para crianças pobres em todo o mundo. A ideia foi importada e o Brasil também ganhou um "bonecas sem-fronteiras", como brinca carinhosamente a idealizadora da iniciativa.

A movimentação começou há três semanas e, em função da ampla adesão em todo o país, já foram confeccionadas 100 bonecas. A meta é chegar a 500. A repercussão nas redes sociais foi tamanha que a criadora do projeto americano, o Dolly Donations, também fez uma mobilização para mandar 200 peças para o Brasil. Segundo Andrea, o fato de o grupo mesmo confeccionar as bonecas mostra mais carinho e atenção com o outro, além de reforçar os laços de amizade e solidariedade de quem produz. "É diferente de comprar brinquedos e doar. Estamos mostrando para as crianças que há alguém que se preocupou verdadeiramente com elas", diz a pesquisadora.

O movimento foi todo organizado pela internet. Há 65 artesãos de estados como Rio Grande do Sul, Ceará e Santa Catarina que abraçaram a causa e se cadastraram na página criada por Andrea no Facebook. "Nos transformamos em um ‘viral’ do bem", conta. O grupo organizou a compra de materiais e chamou voluntários para a produção. Há dois fins de semana, os voluntários de Curitiba se reuniram. Mesmo sem se conhecer pessoalmente, Andrea conseguiu 20 pessoas na escola do filho, que ofereceu o espaço. Até costureiros de primeira viagem puderam participar, já que o molde das peças é simples. Vinte bonecas foram fabricadas e enviadas para São Paulo.

Liderança

Um dos grupos mais ativos foi o do Rio Grande do Sul, liderado pela artesã e professora universitária Ceres Torres, que produziu 40 peças. Também pelas redes sociais, Andrea descobriu um voluntário em São José dos Campos, cidade onde ocorreu a desocupação. O professor Luiz Augusto dos Reis se responsabilizou por mobilizar um grupo de "clowns" (palhaços), também pela internet, para ajudar na entrega dos presentes, que ocorrerá no final de fevereiro. Na Páscoa, o objetivo é entregar as bonecas enviadas dos Estados Unidos.

No Brasil, o grupo resolveu fazer também outros bichinhos, como cachorros e robôs, já que ainda há preconceito sobre meninos brincarem com bonecas. Até neste ponto o grupo foi assessorado pela internet e uma pesquisadora que mora na Suíça mandou um texto falando sobre a importância de meninos também terem bonecas, já que não conseguem estabelecer os mesmos laços afetivos com carrinhos e bolas.

Segundo Andrea, o maior ganho é que a iniciativa reuniu pessoas de todos os lados, de partidos políticos de esquerda, direita, sem partido, religiosos e ateus. A motivação deles é tentar ajudar as crianças a retomarem suas referências. "Quando um filho chora no berço e recebe a atenção dos pais, sabe que vai ficar tudo bem. Mas, naquele caso, a família foi desautorizada e, mesmo com os pais lá, nada mudou", diz a pesquisadora, que faz doutorado na Universidade Federal do Paraná sobre a Historiografia da Infância.

Brincadeiras ajudam a amenizar a dor em situações extremas

A pesquisadora Andrea Cor­deiro enfrentou alguma resistência na internet sobre a ideia de doar bonecas e não alimentos e roupas. "Digo que a comida e o abrigo são essenciais, mas o brinquedo, o afeto e o ca­­ri­­nho são tão importantes quanto", afirma. Segundo ela, os meninos e meninas podem encontrar na boneca um conforto e ajuda para se tornarem re­­silientes. "Questiono por que, para algumas crianças, a in­­fância é negada. Por que elas têm de virar adultas e não po­­dem brincar?"

No início do século 20, o psicólogo e pediatra inglês Donald Winnicott foi um dos primeiros a estudar a importância do brincar para as crianças. Professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, a psicóloga Flávia Maria de Paula Soares explica que os estudiosos descobriram que era possível ter acesso à psique da criança por meio da brincadeira. "A criança expressa seus conflitos pela brincadeira e, à medida que brinca, os resolve."

Segundo a professora, em situações extremas, como as vivenciadas pelas crianças da ocupação no interior de São Paulo, o lúdico pode ajudar a amenizar a dor. "O faz de conta é importante. É uma saída criativa para sair da aridez da situação real", explica Flávia.

Serviço:

Quem quiser se tornar voluntário pode contatar a pesquisadora Andrea Cordeiro pelo e-mail ou site: acascadacigarra@yahoo.com.br ; acascadacigarra.blogspot.com ; Fan Page no Facebook - Bonecas para as crianças de Pinheirinho.

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Interatividade

Você conhece alguém que, por conta própria, ajuda as pessoas mais carentes? Conte aqui sua história.

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As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

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