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Ultrapassagens em áreas proibidas tornam a BR-163 ainda mais perigosa | Christian Rizzi/ Gazeta do Povo
Ultrapassagens em áreas proibidas tornam a BR-163 ainda mais perigosa| Foto: Christian Rizzi/ Gazeta do Povo

Medo

O descaso com a via levou alguns trechos paranaenses da BR-163 a serem estigmatizados pelos motoristas. No município de Barracão, divisa com a cidade catarinense de Dionísio Cerqueira, um dos pontos críticos é a chamada Curva do Guareschi, também conhecida como "curva da morte" pelo fato de concentrar alto número de acidentes. A imprudência na curva pode ser fatal porque não há acostamento. Para os moradores de Barracão, a rodovia deveria ser duplicada pelo menos na entrada da cidade, onde há mais tráfego de veículos de passeio. "A entrada e a curva são pontos críticos", diz o morador de Barracão Adilson Pedom. Morador de Capitão Leônidas Marques, Valdemir Machado, 41 anos, tem comércio às margens da BR-163. Há 12 anos no local, ele já socorreu vítimas de acidentes e soube de muitas mortes que poderiam ter sido evitadas caso a pista apresentasse melhores condições de tráfego. "Em uma época, tinha acidente quase todo dia. De tanto acidente que eu via, não conseguia dormir à noite. Ficava assustado", conta. (DP)

Reivindicação

Só duplicação salva a rodovia

Cansados de reivindicar melhorias na BR-163, os moradores do Sudoeste lutam agora pela duplicação da via, já que reformas e manutenções feitas não resolvem o problema. Nas cidades por onde a rodovia passa, o histórico de pedidos de melhorias é antigo. Os caminhoneiros, que estão entre os principais usuários da via, ameaçam fazer um protesto caso as autoridades não deem atenção aos pedidos.

O presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Francisco Beltrão e Sudoeste do Paraná, Janir Bottega, diz que a rodovia é importante não só para os moradores do Paraná, mas também para gaúchos, catarinenses e os setores da agricultura, turismo e agroindústria. "Se duplicar entre a ponte do Rio Iguaçu e Cascavel, já diminui o tráfego. É um caos passar por ali", afirma.

Morador de Pato Branco, o caminhoneiro Celso Rodrigues, 45 anos, transita com frequência pela rodovia. Ele conhece a BR a partir do Mato Grosso e diz que no Paraná a rodovia é pior. "É o pior. Tem buraco e trânsito. De dia não dá para trafegar. É preciso andar à noite", revela. Para Rodrigues, é preciso fazer mais terceiras faixas para aliviar o tráfego intenso da rodovia.

Brasília

O deputado federal Assis Couto (PT) incluiu o pedido de duplicação do trecho Cascavel-Capitão Leônidas Marques no Plano Plurianual 2012-2015 e solicitou que a obra fosse incluída do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). No entanto, ainda não obteve retorno do governo federal. (DP)

Conhecida como Rodovia da Produção, a BR-163 transformou-se em sinônimo de perigo e descaso pelo menos nos cerca de 200 quilômetros entre Cascavel e Barracão, trecho que liga o Oeste ao Sudoeste do Paraná. Segmentos com sinalização precária, asfalto irregular, falta de acostamento e de terceira pista levaram a estrada a conquistar, neste ano, o título de pior ligação rodoviária do Paraná, conforme estudo da Confederação Nacional do Transporte (CNT). O tamanho do problema se reflete na vida dos motoristas. Neste ano, 30 pessoas morreram na rodovia, total 67% maior que em 2011.

Embora tenha importante papel como rota de escoamento da produção regional, a rodovia apresenta trechos praticamente intransitáveis por causa das condições precárias e do número de veí­culos que recebe. Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), mais de 8 mil veículos transitam entre Cascavel e Barracão diariamente. Destes, pelo menos 50% são caminhões que carregam grãos, madeira, animais e maquinários. A reportagem da Gazeta do Povo percorreu a via e conferiu a falta de manutenção na pista, que não é duplicada e é palco de constantes ultrapassagens arriscadas.

Um dos trechos mais críticos fica entre Cascavel e Capitão Leônidas Marques, onde o intenso tráfego de caminhões assusta qualquer motorista. São 60 quilômetros de asfalto ruim, com buracos e acostamento inadequado. "Não há muitos pontos de ultrapassagem", diz o agente da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Paulo César Soares, lotado no posto de Lindoeste. Nas proximidades de Capitão Leônidas, entre os quilômetros 140 a 144, o perigo aumenta. Em 2012, o trecho foi o que concentrou o maior número de acidentes na via, resultando em 19 feridos e duas mortes.

Próximo ao acesso a Francisco Beltrão, o mato impede a visibilidade das placas de sinalização. Na região de Capanema, a pintura das faixas está desgastada e o asfalto é precário. Há também trechos sem acostamento, o que coloca o motorista em risco. A pesquisa da CNT classificou a sinalização e a geometria da pista como "ruins". Os problemas seguem nos quilômetros seguintes.

Para quem dirige à noite, o perigo duplica, porque a estrada não tem tachas refletivas, conhecidas como "olho de gato".

Manutenção

Motoristas acostumados a transitar pela via reclamam do desgaste precoce dos carros. Vendedor de um frigorífico, Adriano Gehn, 32 anos, circula com frequência pela BR-163 e diz que o desgaste do veículo é maior em razão do estado precário da pista. "Perdi dois jogos de calotas em um ano e meio", conta.

O mecânico Anderson Savi recebe quase diariamente veículos com problemas causados pelas condições precárias da BR-163. Savi conta que os casos mais frequentes são pneus estourados, defeitos na ponta de eixo e na cruzeta. "O movimento é grande e a pista é ruim para tráfego", avalia.

Abandono gerou ação na Justiça

O abandono da BR-163 gerou uma ação na Justiça. No primeiro semestre deste ano, o Ministério Público Federal (MPF) em Cascavel instaurou uma ação civil pública contra o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e a União em razão das condições de abandono do trecho entre a ponte do Rio Iguaçu, em Marmelândia, e a BR-277, em Cascavel.

Conforme estatísticas da Polícia Rodoviária Federal (PRF), divulgadas na época, entre 1.º de janeiro e 4 de junho de 2012, foram registrados 77 acidentes na rodovia, com 8 mortos e 51 feridos. Boa parte das mortes deve-se às péssimas condições de tráfego.

Atualmente, o trecho entre a BR-277 e o trevo de Marmelândia, de 71,5 quilômetros, passa por manutenção. Outro trecho em que foi iniciada a melhoria liga Marmelândia a Barracão.

Balança

Em outubro de 2010, a rodovia, antes administrada pelo governo do Paraná, voltou a ser responsabilidade do governo federal. Com isso, a balança situada no Posto de Lindoeste foi desativada. Segundo o Dnit, a balança não está sendo usada porque era operada pelo DER. Sem controle, caminhões pesados circulam pela via e danificam o asfalto. (DP)

Norte-Sul

A BR-163 tem 3.467 quilômetros e liga Tenente Portela (RS) a Santarém (PA). A rodovia é considerada estratégica por ser rota de escoamento da produção de grãos do Norte para o Centro-Oeste e Sul do país. No Paraná, a 163 começa no município de Guaíra, passa por Toledo e segue até Barracão.

Via argentina é alternativa até Foz

Os motoristas que transitam entre o Sudoeste e a região de Foz do Iguaçu procuram com frequência rodovias argentinas para fugir da BR-163. No município de Bernardo de Irigoyen, fronteira com as cidades gêmeas de Barracão e Dionísio Cerqueira (SC), há uma rodovia que dá acesso à fronteira com Foz do Iguaçu.

Pelo trecho, o motorista circula cerca de 200 quilômetros até chegar a Foz. Na BR-163, o mesmo trajeto é de 296 quilômetros, contando ainda com dois pedágios – em Céu Azul e São Miguel do Iguaçu.

Morador de Barracão, o funcionário público Edilson Sales, 39 anos, viaja sempre via Argentina. Ele elogia a condição da estrada e diz que é bem mais tranquila. "A maior parte do pessoal do Sul viaja pela Argentina. Você consegue desenvolver uma velocidade constante", diz. (DP)

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