Os sem-terra brasiguaios acampados nas margens da BR-163, em Itaquiraí (MS), prometeram hoje "protestos mais radicais" para não desocupar a área até a próxima quinta-feira, 18. O prazo de retirada das mais de 600 barracas de lona plástica foi determinado pela Justiça, sob a alegação de que as obras de duplicação da rodovia tomarão toda extensão do km 97, atualmente ocupada pelos sem-terra ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais (MST).

CARREGANDO :)

Ontem, quase 1.500 homens, mulheres e crianças moradoras do acampamento bloquearam a estrada durante a parte da manhã, reivindicando alimentação e um lugar com estrutura para a mudança. Hoje, foram distribuídas 403 cestas básicas de produtos alimentícios pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Segundo o superintendente regional do Incra, Manuel Furtado Neves, "de momento não há mais negociação".

Ele explicou que "a parte que toca ao Incra já está feita. Foi viabilizada uma área de 8 hectares, perto do lugar onde é o acampamento. É provisória porque estamos a procura de terra para assentar os brasiguaios, eles têm prioridade", disse. "Outra saída seria a desapropriação de uma fazenda em Naviraí, vizinha de Itaquiraí, de 3.700 hectares, mas depende de liberação da Funai (Fundação Nacional do Índio), pois pode ser terra indígena", acrescentou.

Publicidade

A resistência de pelo menos metade dos brasiguaios é devido aos "perigos" que enfrentarão, no terreno provisório, situado dentro da Fazenda Santo Antônio, em Itaquiraí. O imóvel, com 16.926 hectares, foi comprada pelo Incra em 2007 por R$ 130 milhões. No mesmo ano, foi dividida em quatro assentamentos e em agosto deste ano transformado em palco de um sistema de corrupção, com prejuízos estimados em R$ 62 milhões para os cofres públicos, segundo investigação da Polícia Federal (PF).

Um grupo de 19 pessoas, entre elas funcionários do órgão, foi preso pela PF durante a Operação Tellus, acusado de participação ativa na venda de terras da reforma agrária. Também facilitavam a documentação dos imóveis comprados ilegalmente e privilegiava, mediante propinas, o assentamento de várias famílias. Esses crimes estão em uma séria de outros denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF).