Cascavel – Centenas de brasiguaios – como ficaram conhecidos os brasileiros que vivem no Paraguai – estão retornando ao Brasil. É o fenômeno da reimigração, dessa vez formado por filhos dos agricultores que adotaram o país vizinho na década de 70. As autoridades não têm dados oficiais sobre a quantidade de gente que bateu em retirada, de volta para casa, mas é público que os brasiguaios já incham os acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no interior do Paraná e Mato Grosso do Sul. Em Cascavel, os brasiguaios representam 40% das 450 famílias sem-terra que vivem no Assentamento Dorcelina Folador - a 30 quilômetros da cidade.

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O êxodo paraguaio deu seus primeiros sinais na década de 90, mas se intensificou há um ano, conforme constatação da reportagem em visita aos acampamentos sem-terra do município, onde vivem cerca de 1.800 famílias em cinco núcleos ligados ao movimento. Em todo o estado, esse número chega a 8.700 famílias. Osiel Correia, 37 anos, mulher e filhos estão entre as 200 famílias que vieram do Paraguai em 2006 e se instalaram no Dorcelina Folador.

O agricultor mora num barraco de tábuas de madeiras, coberto de lona preta, acompanhado da companheira Helena Ferreira Soares, 36, e das cinco filhas do casal - Roseli, 18; Adriana, 14; Fabiana, 12; Cristina, 8; e Rosângela, 4. Todas nasceram no país vizinho. A caçula ainda não tem registro de nascimento. Os Correia traduzem bem a situação enfrentada pelos imigrantes que moram do outro lado da fronteira. "Eu já passei muitas dificuldades no Paraguai, inclusive fome", recorda Osiel.

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A história dos Correia com o estrangeiro teve início em 1976, quando o casal Ana e Juventino Correia decidiu vender o que tinha em São Miguel do Iguaçu, no Oeste do Paraná, e levar os oito filhos para tentar a sorte do outro lado da Ponte da Amizade. O município foi um dos atingidos pela formação do lago da Hidrelétrica de Itaipu, cuja construção expulsou milhares de moradores na virada da década de 70 para 80. "Foi difícil. Encontramos um país que falava outra língua e que tinha costumes diferentes", diz Osiel. A família se estabeleceu em Santa Rita, região colonizada por brasileiros, localizada a cerca de 200 quilômetros da fronteira e hoje uma grande produtora de grãos, principalmente soja, da qual o Paraguai é o quarto maior exportador do mundo. Osiel era arrendatário de uma área de cinco alqueires onde cultivava soja, milho e feijão.

Com a lavoura em crise, os Correia tiveram seu retorno ao Brasil precipitado. E nas piores condições. Osiel e os seus chegaram apenas com a roupa do corpo e uns poucos pertences. Aos poucos, a família se reorganiza. As cinco filhas do agricultor estudam na escola itinerante do movimento. "Estou gostando daqui. É melhor do que o lugar onde a gente vivia. Pelo menos temos escola para estudar", destaca a filha Adriana, hoje representante de uma geração que faz o caminho de seus pais e avós, às avessas. Levantamento do governo brasileiro, publicado em 2004, demonstra que cerca de 380 mil famílias brasileiras vivem no Paraguai, resultado de 30 anos de fluxos migratórios.