Duas cidades em uma só
As cidades de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero parecem uma só. Os letreiros em espanhol e português são as ferramentas mais seguras para identificar cada território. Dividida por linhas imaginárias e marcos em alguns pontos, os municípios representam uma verdadeira integração entre Brasil e Paraguai, a começar pelos moradores.
"Na fronteira seca você é obrigado a aprender de tudo", diz o funcionário de uma loja de produtos agrícolas, Ronaldo Icassati, 25 anos. Para se ter uma ideia, ele fala português, espanhol e até guarani, que aprendeu nas ruas, no contato com os paraguaios. A loja onde Ronaldo trabalha fica a menos de 20 metros do lado paraguaio, em uma faixa na divisa imaginária com o Brasil, também conhecida pelos moradores locais como "terra de ninguém".
A fusão linguística é tamanha que alguns brasileiros, mesmo falando em português, têm um sotaque diferente. Não se sabe ao certo se são brasileiros ou paraguaios. "Falamos de tudo um pouco", diz Icassati.
Outro marco da integração é a entrada de Ponta Porã. Um monumento uma cuia de tererê (mate gelado típico do Paraguai) e uma cuia de chimarrão (bebida tradicional dos gaúchos) anuncia a fusão das culturas. (DP)
O volume de contrabando apreendido na região de Foz do Iguaçu é 23 vezes maior do que o registrado na fronteira entre Ponta Porã (MS) e Pedro Juan Caballero, Paraguai. Segundo a Receita Federal do Brasil (RF), ao longo de 2008 foram retidos cerca US$ 82 milhões em produtos na cidade paranaense. Em Ponta Porã, o total ao ano chega a R$ 8 milhões (US$ 3,5 milhões).
O perfil da fronteira sul-matogrossense poderia ser um convite ao crime. Fronteira seca e de pouca fiscalização, a cidade paraguaia tem uma infraestrutura voltada ao turismo de compras. Mas a mercadoria vendida em Pedro Juan Caballero é menos variada e mais cara em média 10 a 20% a mais do que a de Ciudad Del Este. O fluxo de compristas é maior em Foz do Iguaçu, que acaba tendo também apreensões mais expressivas. "Aqui tem contrabando, mas em escala menor", diz o delegado chefe da Polícia Federal de Ponta Porã, Caio Rodrigo Pellim.
Além do volume de contrabando, as duas fronteiras têm outras diferenças. Ao contrário do comércio de importados de Ciudad Del Este, onde a marcha de sacoleiros é intensa, as lojas de Pedro Juan Caballero têm os turistas como principais clientes.
O presidente da Câmara de Comércio de Pedro Juan Caballero, Khalil Mansour El Hage, diz que os sacoleiros representam apenas 15% da clientela. Voltado para os turistas, o comércio atende consumidores da região e de estados vizinhos. "Os visitantes vêm para por uma questão de prática, conforto e atendimento", diz.
Atualmente, Pedro Juan Caballero tem cerca de 400 lojas, entre elas, um complexo comercial com shopping, praça de alimentação e supermercado. A localização do shopping, na entrada da cidade, a segurança e facilidade de acesso em nada lembram o cenário encontrado na fronteira de Foz do Iguaçu, onde o movimento já é intenso somente para cruzar a Ponte da Amizade, que liga os dois países.
A maior parte dos comerciantes de Pedro Juan adquire os produtos de importadores de Ciudad Del Este, um dos motivos que faz o preço ser mais alto. Quando o dólar está com a cotação baixa, o movimento de compristas aumenta, mas ainda assim não se veem filas, nem mesmo para sair do país, como em Foz do Iguaçu. Por ser uma fronteira seca, o trânsito entre os dois países é liberado. "É fronteira aberta, o trânsito é livre e a fiscalização realizada em rodovias", diz o inspetor da Receita de Ponta Porã, Júlio César Lira. Segundo ele, a maior parte das mercadorias apreendidas são brinquedos e bugigangas. A Receita funciona todos os dias, das 7h30 às 22 horas, para os interessados em legalizar as mercadorias, acima da cota de US$ 300.
O corretor de imóveis Dermival Rodrigues, morador de Sidrolândia (MS), visita com freqüência o comércio de Pedro Juan, mas fica atento para respeitar a cota para não ser surpreendido nas rodovias. "A polícia para o carro para revistar", diz.
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