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Trabalho social e com meio ambiente trouxeram Marianne Spiller da Suíça para o Brasil | Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
Trabalho social e com meio ambiente trouxeram Marianne Spiller da Suíça para o Brasil| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

Tendência

Os refugiados ambientais

Catástrofes naturais, como os terremotos, são responsáveis por um novo tipo de imigração em vários continentes – o fluxo migratório de refugiados ambientais. Na opinião do sociólogo Dimas Floriani, professor da Universidade Federal do Paraná, essa é uma realidade atual. "A seca, os tsunâmis, os tremores de terra são alguns fatores que influenciam no deslocamento de pessoas em busca de locais mais seguros", explica.

Floriani acrescenta que imigrantes desse tipo não têm destinos em comum – deslocam-se para onde acreditam que terão melhores condições de vida e maior segurança. "Tem um pouco de tudo. Uma parte fica no país, outra vai para países vizinhos, outra para locais mais longe. No caso do Chile, provavelmente muitos vão sair do país ou se deslocar para outras regiões", avalia.

Após o terremoto que arrasou o Haiti, em janeiro passado, muitos haitianos deixaram o território de barco em busca de novas oportunidades em outros países. Alguns chegaram às ilhas britânicas Turcas e Caicos, no mar do Caribe, e outros foram barrados ao tentar entrar nos Estados Unidos. Por outro lado, os americanos anunciaram que receberiam órfãos afetados pelo desastre. Houve, inclusive, o caso de uma família de haitianos refugiados no Chile que sobreviveu ao outro terremoto que abalou o planeta neste ano, no final de fevereiro. (JO)

  • Confira de onde vem a maioria dos imigrantes no país e no estado

Em busca de novas oportunidades de vida e sonhos, eles atravessam fronteiras e deixam raízes para trás. Hoje, são cerca de 942 mil estrangeiros no Brasil, segundo dados da Polícia Federal (PF). Crescimento de 84% em relação ao último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que indicava 510 mil estrangeiros no país em 2000. Segundo especialistas, o aumento está relacionado a fluxos migratórios sazonais que variam, principalmente, de acordo com o bom momento econômico do país de destino e das oportunidades de vida existentes – o que indica uma situação favorável ao Brasil atualmente.

A economia é responsável por inibir ou incentivar a imigração. Um país em crise financeira faz com que muitas pessoas embarquem para outros destinos em busca de melhores condições. Por outro lado, uma nação que desponta economicamente e oferece emprego a estrangeiros atrai o movimento migratório.

De acordo com o delegado Ge­­raldo Eustáquio da Conceição, chefe da Divisão de Cadastro e Registro de Estrangeiros da PF, o maior número de imigrantes no Brasil é proveniente de países que contribuíram com a formação do povo brasileiro, como portugueses, italianos, japoneses e espanhóis. Os árabes são outro grupo significativo em terras brasileiras desde o começo do século 20. "Nos últimos 30 anos, tivemos a intensificação da chegada de asiáticos, em especial China e Coreia. Por fim, a partir dos anos 90, o Brasil passa a exer­­cer enorme atração na América do Sul", explica o delegado (veja nú­­meros de imigrantes no quadro).

A globalização e o capitalismo são responsáveis por mudanças no fluxo de imigração nas últimas décadas. O sociólogo Dimas Flo­riani, professor da Universidade Federal do Paraná, afirma que a imigração é, preponderantemente, influenciada por aspectos econômicos. E acrescenta que a imigração está ligada a ciclos históricos relacionados a crises políticas, bélicas e econômicas. "Os grandes grupos migratórios se deram em contexto de crise europeia. Vi­­nham em busca de alternativas de vida para ficar", exemplifica.

Para a antropóloga Giralda Sey­­ferth, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o Brasil também vive uma imigração qualificada, em busca de profissionais que atendam expectativas dos empregadores. "Hoje, a migração é mais seletiva, de acordo com a ocupação. A economia tem gerado postos superqualificados", complementa Floriani.

A oferta de trabalho e o mercado gastronômico brasileiro em expansão são alguns motivos que reforçaram a permanência do chef alemão Heiko Grabolle, 33 anos, em Florianópolis (SC), onde mora há sete anos. Mudou-se para terras tupiniquins em busca da brasileira que conheceu na Europa. Casa­ram-se em 2003, no dia em que seu visto de turista vencia. "Aqui trabalhamos para viver, diferentemente da Alemanha, onde se vive para trabalhar", conta. Hoje, o chef também trabalha como professor e consultor em gastronomia.

Adaptado ao ritmo do país, Grabolle somou a experiência que adquiriu no país natal à culinária brasileira. Contudo, ele lamenta que a profissão de cozinheiro não seja mais valorizada no Brasil. Mesmo assim, Grabolle não pensa em deixar o país. "Eu não volto mais. Que minha mãe não saiba, já sou mais brasileiro que alemão", brinca.

A advogada Ana Paula Dias Marques, especialista em Direito Internacional na área de imigração, explica que a legislação se adapta à realidade de cada momento. No ano passado, o Brasil anistiou cerca de 40 mil estrangeiros que estavam em situação irregular no país. "O governo brasileiro tem se mostrado atento às questões de imigração, adotando uma postura diferenciada em relação aos Estados Unidos e Europa", afirma o delegado da PF, Eustáquio da Conceição.

A falta de incentivos à vinda de estrangeiros em massa também contribui com novos perfis. "Agora temos uma coisa mais individual. Não vemos aviões lotados de pessoas que vêm ficar para sempre. Hoje é muito mais o privado buscando um profissional especializado", avalia Ana Paula. "Cada um pensa em desenvolver projetos que ofereçam retorno, inclusive aqueles imigrantes que ficam ilegais", complementa.

Viva o povo brasileiro

Além dos aspectos favoráveis da economia brasileira, que garantem melhores empregos a estrangeiros de países mais pobres e melhores oportunidades de negócio e investimento a imigrantes de nações mais ricas, a receptividade do brasileiro reforça a permanência de estrangeiros no país. "No Brasil, existe a ideologia de que o estrangeiro é bem visto. Aqui, somos mais tolerantes do que em outras sociedades", afirma o sociólogo Dimas Floriani. "O Brasil acolhe. Uma pessoa que passa muitos anos aqui dificilmente volta para seu país", complementa a advogada Ana Paula Dias Marques.

Foi a paixão pelo país e a solidariedade pelo povo brasileiro que fizeram com que a psicóloga suíça Marianne Spiller, 69 anos, fixasse residência no Brasil desde 1972. "Meu vínculo com a Suíça é muito grande, mas não penso em voltar. Tenho muito trabalho aqui." Ela veio conhecer o Brasil acompanhada do marido (já não estão mais juntos), identificaram-se com o país e decidiram ficar. Adotaram três filhos. "Tínhamos vontade de fazer um trabalho social. Viemos para o Brasil procurando um desafio maior, mas nada foi obstáculo. O povo brasileiro é muito receptivo, criativo, espontâneo", relata.

Marianne chegou a voltar dois anos para a Suíça, onde buscou parcerias para criar a Fundação Vida para Todos – Associação Bra­­sileira de Amparo à Infância (Abai), assim que voltasse para o Brasil. Localizada em Mandi­ritu­ba, na região metropolitana de Curitiba, a Abai atua hoje nas áreas de educação, reabilitação de dependentes químicos e na ecologia. "As pessoas precisam se unir para resolver os problemas do mundo."

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