Em novembro, tornado devastou Marechal Cândido Rondon| Foto: Gilmar Angelo/Portal Rondon

Esqueça aquela velha história de que não há desastres naturais no Brasil. Isso é mito. Relatório divulgado em novembro pelo Escritório das Nações Unidas para a Redução de Desastres (UNISDR) e o Centro de Pesquisas de Epidemiologia em Desastres (Cred) mostra que o Brasil é o único país das Américas que está na lista dos dez países com maior número de pessoas afetadas por desastres entre os anos de 1995 a 2015.

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Década de 2000 tem maior número de registros de desastres

Segundo o Atlas Brasileiro de Desastres Naturais, assinado pela UFSC e pela Defesa Civil Nacional, os dados coletados entre 1991 e 2012 permitem corroborar o discurso frequente sobre o aumento da ocorrência de desastres no Brasil.

Do total de registros oficializados no período – 38.996 registros – 8,5 mil (22%) ocorreram na década de 1990, e 21,7 mil (56%) na década de 2000. Apenas nos anos de 2010, 2011 e 2012 esse número somou 8,7 mil (22%).

Mas os índices não permitem afirmar que os desastres aumentaram em 78% no intervalo por causa da histórica fragilidade do Sistema de Defesa Civil em manter atualizados seus registros – conforme reconhecido pela própria pesquisa.

E basta ficar mais atento ao nosso estado para ter certeza disso. Um tornado causou inúmeros prejuízos em Marechal Cândido Rondon, no Oeste do Paraná, em 19 de novembro. , Uma semana depois, um terremoto atingiu a região Norte do país. Sem contar os problemas sérios deixados pelas chuvas quase ininterruptas no Sul e os transtornos causados no Nordeste pela seca – fenômeno que mais afeta a população brasileira, de acordo com o Atlas Brasileiro de Desastres Naturais. O estudo – feito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em parceria com a Secretaria Nacional de Defesa Civil – mostra também que o país registrou mais de 38 mil catástrofes entre 1991 e 2012.

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“Colocar que o Brasil não é atingido por desastres naturais é uma desinformação”, observa o professor de Geologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Renato Eugenio de Lima, que atualmente comanda a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Curitiba. Ele explica que o fato de estarmos dentro de uma plataforma geológica “mais estável” não quer dizer que não existam pontos dentro desta área mais propícios a ocorrências de fenômenos, que se diferem ao longo do território.

“No Sul, estamos tendo um ano atípico de chuvas por causa do El Niño provavelmente. Desde janeiro o Sudeste enfrente uma seca que tem gerado sacrifício enorme da população e da economia. Também há seca no Nordeste, a Chapada Diamantina enfrenta incêndios e Santa Catarina tem inundações. Isso também é desastre natural”, pontua o professor, que também faz parte do Centro de Apoio Científico em Desastres da UFPR.

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Muita ou pouca água

O climatologista e chefe de Pesquisa do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), José Marengo, afirma que, no Brasil, em torno de 75% dos desastres ocasionados por fenômenos naturais estão relacionados à água – pelo excesso ou pela falta dela. No restante dos registros estão ainda tremores de menores intensidades se comparados a países mais propensos, ventos fortes (que muitas vezes chegam a se transformar em tornados), e ondas de calor.

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“No Peru há terremotos, mas lá não há chuvas tão intensas, enchentes frequentes como aqui. O fato é que cada país tem seus desastres”, observa o pesquisador, que apontou como um dos piores desastres brasileiros a tragédia enfrentada por moradores do Vale do Itajaí, em Santa Catarina, em 2008. Naquele ano, o estado enfrentou a pior enchente das últimas três décadas na região.