Cooperação
União em prol dos direitos humanos
No campo dos direitos humanos, o Brasil, por meio de organizações não governamentais, também atua de forma decisiva em outros países. Há uma década a ONG Conectas trabalha para fortalecer entidades de defesa de direitos no hemisfério sul. "Percebemos que uma instituição que trabalha pelo desarmamento em Joanesburgo poderia contribuir com uma organização semelhante em São Paulo", explica Lúcia Nader, diretora executiva da Conectas.
Em um colóquio anual, a ONG reúne especialistas e militantes de direitos humanos que atuam em todo o mundo. Nos dez anos de trabalho, 1.050 pessoas de 60 países já participaram do evento. Há também um programa de estágio para instituições africanas. Em 2011, um participante do Programa de Intercâmbio para África Lusófona voltou para o país de origem, Guiné-Bissau, e conseguiu mobilizar o parlamento para a aprovação de uma lei proibindo a mutilação genital de mulheres. "Muitas vezes, em contextos sem uma sociedade civil livre e forte, a cooperação com ONGs internacionais é essencial, como foi para o Brasil durante a ditadura militar, por exemplo", afirma Lúcia. (PC)
Colaboração inclui saúde e educação
A cooperação internacional ganhou força nos últimos anos em diversos setores no Brasil, como educação e saúde. A Universidade Federal do Paraná (UFPR), por exemplo, institucionalizou em 2009 suas ações na área de relações internacionais. Há 25 anos já ocorriam intercâmbios entre universitários paranaenses e de outras nacionalidades, mas eram iniciativas pontuais, que muitas vezes nem passavam pela reitoria. "A cooperação internacional dependia de ações individuais dos professores", conta o assessor de relações internacionais da UFPR, Carlos José Siqueira.
Segundo ele, em 2012 passa a funcionar um fundo institucional que vai financiar bolsas de estudo de doutorado para acadêmicos de outros países. "Receber estrangeiros é possibilidade de se internacionalizar em casa", diz Siqueira. Desde 2006, 366 alunos de fora vieram estudar na UFPR e a previsão é de que em 2012 sejam 58 estudantes. Há também 70 alunos africanos, sul-americanos e caribenhos que estudam na UFPR por meio de uma parceria com o governo federal e Ministério das Relações Exteriores.
Saúde
A principal contribuição do Brasil na área da sáude está relacionada ao combate da Aids. Em 2011, o governo federal manteve cooperação técnica com 13 países africanos, com políticas públicas de prevenção, assistência e tratamento, logística de insumos e medicamentos e vigilância epidemiológica. Na Zâmbia, país africano vizinho de Moçambique, uma das cooperações realizadas resultou na criação de um centro especializado em HIV/AIDS na University Teaching Hospital, na capital do país. (PC)
Um efeito colateral do crescimento econômico brasileiro é a mudança de posição no universo da ajuda humanitária. Grande receptor de recursos dos países ricos, o Brasil passou nos últimos anos a enviar mais dinheiro para fora. O governo federal gastou, somente em 2010, R$ 1 bilhão em cooperação técnica com outras nações. O valor é cerca de um terço do total investido em cinco anos, entre 2005 e 2009, aproximadamente R$ 2,8 bilhões. Os dados foram levantados em um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que em março deve divulgar a análise completa sobre 2010.
Coordenador do estudo do Ipea, João Brígido Bezerra Lima explica que as ações do Brasil não envolvem a doação direta de recursos para outros países. O foco é a partilha do saber técnico que algumas áreas do governo federal conseguiram adquirir. Os servidores brasileiros são enviados a outros países para orientar ações em suas áreas de conhecimento. O Brasil, por exemplo, fortaleceu ações na área da saúde, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e da agricultura, com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O objetivo é ampliar as relações externas. "É a transferência de um saber sem transferência direta de recursos", diz Lima.
Por meio dessa política, o Brasil conseguiu ajudar projetos de reestruturação do Haiti, socializando o know how obtido para superação da pobreza. "Passamos a ser referência na cooperação para o desenvolvimento econômico. Há hoje uma forte organização para a internacionalização de organismos brasileiros", analisa o pesquisador do Ipea.
O órgão consultou a dotação orçamentária de todos os ministérios com o objetivo de retratar o investimento brasileiro. Para a elaboração do relatório de 2010, 285 servidores federais participaram do levantamento de informações, o que deve ser feito anualmente a partir de 2011. As decisões estratégicas sobre o tipo de cooperação e os futuros parceiros passam pelo crivo da Agência Brasileira de Cooperação, ligada ao Ministério das Relações Exteriores (MRE). A perspectiva agora é ir até os países cooperados e ver quais os efetivos resultados alcançados.
Diplomacia
Para a pesquisadora Cristina Pecequilo, professora de Relações Internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp), o aumento da cooperação internacional é reflexo da mudança do perfil da política externa brasileira. "Há também a ampliação de recursos disponíveis, em função da estabilidade econômica", completa. Cristina avalia que esta é uma forma de consolidar a posição do país no campo diplomático. "Traz ganhos reais, porque mostra que somos capazes de agregar outras nações de maneira positiva", analisa.
No cenário internacional o país constrói uma imagem positiva, porque os gastos são com cooperação e não com guerras, por exemplo. "Há reforço do prestígio brasileiro no sistema internacional e a troca de experiências também propicia aprendizado", avalia a professora de relações internacionais.
A Embrapa é um dos órgãos do governo que mais recebe solicitações para atuar em cooperação técnica. As pesquisas desenvolvidas nas últimas décadas, que ajudaram a aumentar a produtividade no campo brasileiro, são o chamariz para países que querem "turbinar" a agricultura. Antônio Carlos Prado, coordenador de cooperação técnica da Secretaria de Relações Internacionais da Embrapa, conta que na África há um importante projeto para melhorar a produção de algodão. Os pesquisadores estão verificando se a variedade de algodão desenvolvida pela Embrapa poderia ter a mesma performance em nações africanas.
Trabalho da Pastoral foi levado para 20 países
A experiência brasileira no combate à pobreza e desnutrição infantil levou a Pastoral da Criança a expandir suas ações para outros países. Com um custo mensal baixíssimo por criança, cerca de R$ 2, a instituição viu que poderia levar o trabalho iniciado pela fundadora, Zilda Arns, para outros meninos e outras meninas. A Pastoral da Criança Internacional está atualmente em 20 países, sendo que em 16 há uma organização formal.
A ideia de internacionalizar as ações surgiu em 1991, mas problemas com a legislação brasileira impediam a ampliação do trabalho. Pela lei, verbas que entram no Brasil para projetos sociais não podem sair do país. A solução veio com a criação da Pastoral Internacional no Uruguai, em 2008, com leis mais flexíveis.
Com a institucionalização da entidade no exterior, a atuação ganhou mais efetividade. Hoje há 50 mil voluntários que acompanham 9 mil crianças em outros países. Os números ainda são pequenos quando comparados aos do Brasil, que tem 250 mil voluntários para cuidar de 1,5 milhão de meninos e meninas, mas as perspectivas são positivas.
Coordenador internacional da pastoral, Nelson Arns Neumann diz que o maior empecilho é a burocracia. "O voluntário quer trabalhar com a criança, por isso concentramos a burocracia na coordenação nacional", explica. Levar esse modelo de prestação de contas e avaliação dos resultados para países que ainda carecem de infraestrutura básica é o maior desafio. "É uma realidade que o Brasil enfrentava há 30 ou 40 anos. E para ganhar escala é preciso sistema de informação sólido", diz.
Filipinas
Desde 2003, a Irmã Terezinha Kunen, 62 anos, coordena a Pastoral da Criança nas Filipinas, na Ásia. Para se adaptar à realidade do país, a religiosa teve de aprender os dois idiomas locais mais usados e também compreender alguns dos 102 dialetos usados na região, formada por 7 mil ilhas. Apesar de ser uma nação com maioria cristã, a igreja local não tinha atividades voltadas ao trabalho social. Coube à Irmã Terezinha passar os ensinamentos de solidariedade pregados pela Pastoral.
Além da barreira óbvia do idioma, a voluntária precisou lidar com as diferenças culturais e a pobreza extrema. "No início, não tínhamos nada, nem um computador. Trabalhávamos com os líderes somente com cartolina. Aos poucos, a comunidade local percebeu a importância do trabalho e passou a ajudar. Estão encantados com a nossa metodologia. Querem a pastoral em toda a parte, porque viram os resultados", diz.
Terezinha veio ao Brasil para se atualizar sobre as ações da entidade e volta nesta semana para as Filipinas. "Eu adoro ser missionária. Tem uma paixão por ajudar que não deixa a gente ficar quieta."
Interatividade
É importante que o Brasil se dedique a países em desvantagem econômica e social? Por quê?
Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br
As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora