São Paulo - O Instituto Adolfo Lutz, da Secretaria de Saúde de São Paulo, anunciou ontem o isolamento de um subtipo do vírus da influenza A (H1N1), a chamada gripe suína, etapa importante para a produção da vacina brasileira contra a doença. O isolamento foi feito pela equipe da virologista Terezinha Maria de Paiva.
Os técnicos brasileiros perceberam um padrão diferente para o vírus daquele que foi registrado pelo Centro de Controle de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, com base em amostras retiradas de pacientes da Califórnia. O isolamento do vírus tornou possível o sequenciamento genético da estirpe brasileira do vírus, que foi batizado de A/São Paulo/1454/H1N1.
De acordo com o instituto, a caracterização genética é fundamental para saber se o padrão viral se mantém ou já se diferenciou dos encontrados em outras regiões do mundo. O sequenciamento também contribuirá para a produção da vacina brasileira e para a avaliação da resposta dos doentes aos antivirais.
Em São Paulo, o primeiro caso de infecção humana pelo vírus foi identificado em um homem de 26 anos que apresentou os sintomas da gripe ao retornar de uma viagem ao México. O paciente foi internado em 24 de abril no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e recuperou-se. Amostra de secreção respiratória deste paciente foi investigada pelos pesquisadores do Adolfo Lutz, que depois isolaram o vírus.
O estudo revelou as 1.701 bases e a análise comparativa indicou a presença de mudanças e alteração de aminoácidos os "tijolos" que formam as proteínas. A proteína neuraminidase ("N") não se alterou.
O comparativo entre o que foi isolado em São Paulo e o vírus da Califórnia foi possível após o vírus ser fotografado pelo setor de microscopia eletrônica do instituto a imagem foi ampliada em 200 mil vezes, em equipamento capaz de aumentar esse tipo de imagem em até 1 milhão de vezes.
Segundo Clélia Aranda, coordenadora de Controle de Doenças do Instituto Adolfo Lutz, foram avaliadas as estruturas do vírus chamadas constantes onde não estão previstas mudanças e as que podem sofrer variação.
A mutação na proteína hemaglutinina já era esperada. "As mutações são frequentes e é a partir delas que se podem fazer as modificações das vacinas", afirmou. Ainda é cedo, entretanto, para avaliar o que a mutação venha a significar em termos de virulência e de capacidade de infecção.
A produção de uma vacina pelo Instituto Butantã que já faz testes para gripe sazonal e deverá iniciar a produção em 2010 depende de análise prévia do CDC e da Organização Mundial da Saúde (OMS).
O trabalho do Adolfo Lutz é inédito no Brasil desde o surgimento dos primeiros relatos da gripe suína. No mundo, pesquisas em banco de dados revelarem existir cerca de 2 mil estirpes diferentes do vírus.
Balanço
Em todo o Brasil já foram confirmados pelo Ministério da Saúde 79 casos da doença. Boletim divulgado ontem registra dois novos casos em Santa Catarina, dois em Minas e um no Rio.