O Brasil está longe de ser um paraíso para a terceira idade. A falta de segurança pública, a má qualidade do transporte urbano e a baixa escolaridade são os principais desafios do país para garantir o bem-estar da sua população idosa. Essas áreas possuem os piores desempenhos do Brasil no levantamento anual Global AgeWatch Index 2015, realizado pela organização HelpAge International em parceria com a Universidade de Southampton, do Reino Unido.
Atrás de 10 nações da América Latina, o Brasil está em 56.º lugar no ranking dos melhores países do mundo para os idosos viverem – melhorou duas posições em relação ao ano passado. Ao todo, o estudo avaliou o bem-estar social e econômico da terceira idade em 96 países.
O pior índice refere-se a um ambiente favorável para os idosos viverem. A pesquisa colocou o Brasil entre os últimos neste quesito – na 87.ª posição (Veja o ranking do Global AgeWatch Index 2015). O alto número de denúncias sobre abuso, que chegou a 21.178 em 2014 segundo a Secretaria de Direitos Humanos, contribuiu para isso. Somam-se as dificuldades em transitar pelas cidades. Apenas 45% dos idosos estão satisfeitos com o transporte público e 28% sentem-se seguros ao andar sozinhos onde vivem.
Alerta
Os dados alertam para um problema que as projeções populacionais vêm apontando: em poucas décadas, o Brasil será um país de idosos. Em 2030, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a nação terá quase o dobro de população com mais de 60 anos – chegando a perto de 14%. Trata-se de ponto crucial na elaboração de qualquer política pública.
Segundo o sociólogo Julio Suzuki, diretor-presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), é impensável planejar o país sem considerar o envelhecimento populacional. “Envelhecimento deveria ser a palavra de ordem na elaboração de políticas públicas de longo prazo para garantir melhor qualidade de vida, mas não é isso que acontece”, afirma.
Acessibilidade e saúde
Suzuki afirma que as dificuldades para o idoso utilizar com qualidade o transporte público, por exemplo, são recorrentes. “Não há ônibus suficientes e os idosos têm dificuldade para se deslocar. Muitos são obrigados a ficar de pé por um longo tempo”, diz.
As dificuldades de acessibilidade e locomoção no meio urbano, inclusive, podem levar o idoso a desencadear problemas de saúde. Ao não se sentir acolhido e não encontrar espaços para exercer sua cidadania, como ressalta o médico geriatra e professor da PUC-PR José Mário Tupiná Machado, o idoso tende a se isolar. Ele prefere não sair de casa para não ter de enfrentar as inúmeras dificuldades de deslocamento.
“A falta de interatividade pode levar à depressão e a outras doenças psicológicas. No Brasil, não se valoriza a bagagem cultural do idoso. Acham que ele se tornou obsoleto, quando merecia ter um espaço e programas para poder fazer parte da sociedade”, afirma Tupiná.
Não há como o idoso ter melhores condições de vida se não houver uma mudança de cultura do brasileiro, segundo o geriatra. “A população jovem não está acostumada a lidar com o idoso. Acha que ele não tem nada a contribuir. Isso precisa mudar”, afirma. Ele acredita, porém, que essa mudança de paradigma ainda irá demorar algumas décadas. “Isso envolve uma alteração na escala de valores da sociedade. As pessoas têm que pensar que todos nós vamos envelhecer um dia.”