São Paulo - O bibliófilo e empresário José Mindlin, de 95 anos, morreu na manhã de ontem, em São Paulo, vítima de falência múltipla dos órgãos, ocorrida após complicações cardíacas e pulmonares. Mindlin estava internado na unidade havia um mês para tratar uma pneumonia.
Responsável por organizar a maior e mais importante biblioteca privada do país, doada em 2006 à Universidade de São Paulo (USP), o também fundador da Metal Leve e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) recebeu homenagens durante o velório realizado no Hospital Albert Einstein, na zona sul da capital paulista.
Durante a cerimônia, em que compareceram dezenas de pessoas, a contribuição à USP e outras importantes atuações, como decisões tomadas durante a ditadura, foram lembradas por amigos do mundo político.
A família preferiu uma cerimônia reservada a parentes e amigos e não quis dar declarações durante a homenagem.
Por volta das 15 horas, pouco antes de o corpo deixar o local, parentes abraçavam-se enquanto ouviam-se cantos em hebraico. O caixão seguiu para o Cemitério Israelita da Vila Mariana, na zona sul, onde Mindlin foi enterrado no fim da tarde.
O governador José Serra (PSDB) decretou luto oficial de três dias em razão da morte. "Muita gente se refere a ele como bibliófilo, mas ele foi mais do que isso. Foi um resistente ao regime autoritário", afirmou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ao deixar o velório.
Em nota, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a morte de Mindlin. "Ele foi um grande brasileiro e motivo de orgulho para todos nós. Com seu imenso amor à cultura, sua defesa da liberdade e sua conduta empresarial, prestou serviços extraordinários ao país. E, apesar da idade, ainda tinha força e disposição para contribuir com o progresso nacional."
Presente na homenagem, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), divulgou nota em que exaltou a doação dos livros de Mindlin à USP. "José Mindlin foi um gigante da cultura brasileira. Como todo grande homem, deixa um grande legado, que é a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin", afirmou na nota.
O reitor da USP, João Grandino Rodas, explicou que o acervo de Mindlin será digitalizado. Sua atitude deixou acessíveis ao público obras como o primeiro exemplar de Os Lusíadas, de Camões, e mapas brasileiros raríssimos que foram colecionados pelo bibliófilo.
Ainda segundo Rodas, foram necessários 15 anos de "luta" para que a USP recebesse os livros. "No Brasil, muitas instituições têm verdadeira ojeriza às doações privadas e ele foi pioneiro nisso." O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso enfatizou que foi necessária mudança legal para permitir a doação sem custos para donatários. "Foi um gesto importante porque, no Brasil, não temos a prática de doar", complementou a ex-prefeita Marta Suplicy (PT).