País símbolo da educação, a Finlândia causou frisson quando foi anunciada, em março deste ano, como o primeira nação a abolir as disciplinas da grade escolar. O governo finlandês desmentiu a história. As disciplinas continuam. Mas os projetos que incentivam a interdisciplinaridade serão obrigatórios em 2016.
“As práticas colaborativas nas salas de aula, em que os alunos trabalham ao mesmo tempo com professores de matérias diferentes baseados em projetos temáticos será o caminho do futuro da educação finlandesa”, diz a diplomata Raisa Ojala, da Embaixada da Finlândia no Brasil.
Por aqui, esse processo vive sua fase embrionária. Na última década e meia, a legislação avançou. As Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio (DCNEM) de 1998, por exemplo, estabelecem a interdisciplinaridade como um dos cinco “princípios pedagógicos” estruturadores dos currículos dessa etapa escolar. Identidade, diversidade, autonomia e contextualização fecham o time.
Na prática, as disciplinas pouco dialogam. “Vemos um sistema extremamente duro e tradicionalista, que está incrustado em quem nós somos”, opina a professora do Instituto Federal do Paraná (IFPR) Maristela Gabardo, que em 2014 passou cinco meses na Finlândia, pelo projeto Professores para o Futuro.
Considerado o “centro do saber”, o professor tem pouco espaço para errar e, portanto, de experimentar. Os alunos, por sua vez, não desenvolvem sua autonomia, critica Maristela. Para um ensino interdisciplinar, o grupo precisa sair de sua “zona de conforto” e estar preparado para trabalhar com o erro.
Ao aprender em compartimentos, muitas vezes o estudante tem dificuldade de significar um conteúdo na sua realidade. Mudar isso passa por uma nova mentalidade dos professores, o que inclui novas metodologias nas licenciaturas, no ensino superior.
Um projeto interdisciplinar exige diálogo também entre os professores. Além disso, é preciso preparar aulas que levem em conta os caminhos percorridos em sala de aula. “Mas os professores trabalham muito, têm uma sobrecarga de trabalho grande”, critica a docente do IFPR. A Lei do Piso Nacional do Magistério, de 2008, estabelece que um terço da jornada deve ser cumprida fora da sala de aula, na chamada hora-atividade.
O tempo também é um entrave para desenvolvimento de projetos integrados entre as disciplinas. Para isso, o ensino integral é uma arma fundamental. Mas no Paraná a modalidade abrangeu apenas 9,22% das matrículas do ensino básico público, em 2014. No Brasil, a média foi de 15,21%, segundo dados do Censo Escolar, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC).