O Programa Espacial Brasileiro receberá R$ 2,1 bilhões de investimentos federais nos próximos quatro anos. Entre as principais metas estão o lançamento de quatro satélites e a construção de um foguete. Os recursos estão previstos no Plano Plurianual (PPA) de 2012-2015 e têm o objetivo de reestruturar a política espacial do país. Para especialistas, a reorganização do setor é estratégica e pode gerar um salto de desenvolvimento tecnológico no Brasil.
Ainda que a área espacial demande mais orçamento (a Índia, por exemplo, investe US$ 1 bilhão por ano), o valor do PPA é muito superior aos US$ 8 milhões de 1998, ano com menor repasse para o programa. Em 2010, foram R$ 300 milhões.
Investir em política espacial significa, basicamente, trabalhar com o desenvolvimento de satélites e de foguetes para enviá-los ao espaço. Para fins civis, os satélites têm duas funções primordiais. A primeira é o monitoramento do clima, do desmatamento e de queimadas. A segunda está ligada às telecomunicações, à transmissão do sinal de televisão e rádio, por exemplo.
"É imprescindível ao país dominar as Ciências Espaciais. Precisamos defender nossas fronteiras, apoiar a defesa e integrar o país por meio das telecomunicações", diz o presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Federais na Área de Ciência e Tecnologia, Ivanil Elisiário.
Para o presidente da Associação Aeroespacial Brasileira (AAB), Paulo Moraes Junior, os novos recursos do PPA permitiriam levar o Programa Espacial Brasileiro a um novo estágio. "As principais metas para o setor nos próximos anos relacionam-se à ampliação do acesso ao espaço, através do desenvolvimento de novos veículos lançadores de satélites e de novos satélites", explica Junior, também coordenador do Programa de Veículos Lançadores Cruzeiro do Sul.
Soluções cotidianas
Por trás do investimento no espaço, o Brasil tenta dominar um processo de desenvolvimento tecnológico que se provou bem-sucedido em outros países. Inovações que aparecem no setor aeroespacial têm o potencial de se transformar em soluções para uso comum, como mostra a experiência da Nasa, a agência espacial norte-americana, dona de diversas patentes comercializadas ao redor do mundo. O "travesseiro da Nasa" não leva esse nome por acaso.
No caso brasileiro, mesmo com mais investimento, o programa espacial ainda terá de superar algumas barreiras. A primeira é acelerar o desenvolvimento dos equipamentos. O governo pretende colocar em órbita no ano que vem um primeiro satélite, mas ele terá de ser comprado de fornecedores estrangeiros, o que pode atrasar o plano de um equipamento novo por ano.
Outro gargalo é a falta de mão de obra. Segundo o sindicato da categoria, nos próximos 10 anos metade dos profissionais vai se aposentar e não haverá pessoas para substituí-los. Como não foram abertos concursos nos últimos anos, os atuais técnicos não terão tempo de repassar o conhecimento adquirido durante décadas.
Para especialistas no setor, o grande problema é que apenas três universidades no país têm cursos de Engenharia Espacial. Uma delas, o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), abriu a graduação apenas em 2010. A Universidade de Brasília pretende iniciar o curso em 2012. Com isso, faltam engenheiros "prontos" no mercado.
União com a Ucrânia gera controvérsias
A decisão de o Brasil se unir à Ucrânia para realizar o desenvolvimento de foguetes para o lançamento de satélites é criticada por parte da comunidade científica brasileira. Isso porque o país investiu até agora um montante superior ao desembolsado pela nação europeia, e ainda haveria problemas com a tecnologia utilizada. As negociações começaram em 1999 e o acordo foi firmado em 2003.
Para iniciar as operações, os dois países criaram uma empresa binacional chamada ACS (Alcântara Cyclone Space), que vai operar na base de Alcântara, no Maranhão. Enquanto o Brasil já teria investido pouco mais de R$ 200 milhões, a Ucrânia desembolsou metade da cifra. Em junho de 2011, o governo brasileiro decidiu não liberar mais R$ 50 milhões previstos, enquanto os ucranianos não derem sua contrapartida.
O foguete ucraniano pode levar satélites de pequeno porte, mas as empresas privadas trabalham com satélite de médio porte. O blogueiro Duda Falcão, criador de um dos maiores blogs nacionais sobre política espacial, aponta outro problema. O tipo de combustível usado nos foguetes, a hidrazina, é considerado prejudicial à saúde e pode causar danos ao meio ambiente. Há também conflitos com comunidades quilombolas da região.
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