Brasília O governo federal promete dobrar os investimentos para tentar afastar o Brasil do título de "país dos banguelas". A meta é que os programas de saúde bucal do Ministério da Saúde recebam R$ 2,7 bilhões entre 2007 e 2010. O valor significa um acréscimo de R$ 1,4 bilhão ao que foi investido no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A idéia é expandir o projeto Brasil Sorridente. Nele, estão incluídos gratuitamente desde serviços de prevenção até atendimentos mais complexos, como tratamentos de câncer de boca e canal. Por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), o programa atende 75 milhões de pessoas, mas a expectativa é que esse número chegue a 100 milhões nos próximos quatro anos.
Menina dos olhos de Lula, o Brasil Sorridente nasceu pelas mãos de um dentista de Maringá, Gilberto Pucca.
"Os problemas de saúde bucal estão intimamente ligados à exclusão social e por isso se transformaram em prioridade", explica o paranaense. É ele o coordenador do programa desde 2003 e quem garante a ampliação dos recursos para a área.
A primeira tarefa do dentista no cargo foi realizar um diagnóstico nacional. O panorama encontrado, entretanto, foi assustador.
Segundo o levantamento, pelo menos 30 milhões de brasileiros, mais do que a população da Venezuela, não tinham sequer um dente. Além disso, 28 milhões jamais tinham passado por uma consulta odontológica.
"A população carente sempre foi simplesmente esquecida e o caminho era arrancar os dentes", diz Pucca. A primeira política pública do Brasil Sorridente para o problema foi a criação de Equipes de Saúde Bucal (ESB), inseridas no Programa Saúde da Família. Elas são compostas por um dentista e um auxiliar, montadas para atender um grupo de 2,5 mil famílias.
Prevenção
O Brasil Sorridente mantém atualmente 15.492 equipes, que devem chegar a até 18 mil em dezembro. Elas cuidam do trabalho de prevenção a doenças e fazem o atendimento clínico básico, como o tratamento de cáries. Um dos principais exames é o de câncer de boca, que mata 4 mil brasileiros por ano.
Outra ação do programa foi a implantação dos Centros de Especialidade Odontológica, que oferecem os tratamentos mais complexos. Eles atendem pacientes com necessidades especiais, ofertam cirurgias e tratamentos endodônticos e de periodontia.
Pucca explica que, apesar da ênfase na prevenção e no tratamento de doenças, os 30 milhões de brasileiros sem dentes não foram esquecidos. Ele conta que foram montados com dinheiro federal 215 laboratórios regionais de prótese dentária. Cada um recebe R$ 15 mil por mês para trabalhos de reabilitação e de novas próteses.
Residentes
O último estágio do Brasil Sorridente é a qualificação de dentistas em cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial.
A idéia é habilitar profissionais para o trabalho em hospitais como residentes a exemplo do que já ocorre entre os médicos. Para isso, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, anunciou no último dia 20 a liberação, pelo Fundo Nacional de Saúde, de R$ 2 milhões para financiamento de 42 bolsas de pós-graduação para a área, destinadas a estudantes e professores de 14 instituições de ensino superior do país.
No ano passado, três instituições foram pioneiras nesse tipo de convênio a Universidade Estadual Paulista de Araraquara, o Hospital Vila Penteado (SP) e a Universidade Estadual de Maringá (UEM).