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Saúde

Brasil tem déficit de enfermeiros

Ana Cláudia e a equipe do Hospital Evangélico: “A área é muito rica e sobram vagas. Isso permite escolher a melhor oferta em termos de condições de trabalho e salário” | Henry Milléo/Gazeta do Povo
Ana Cláudia e a equipe do Hospital Evangélico: “A área é muito rica e sobram vagas. Isso permite escolher a melhor oferta em termos de condições de trabalho e salário” (Foto: Henry Milléo/Gazeta do Povo)

Quando o assunto é o investimento na formação de enfermeiros, o Brasil possui a segunda pior posição entre os países industrializados. Para cada mil habitantes, existe apenas 0,9 enfermeiro, taxa semelhante à da Índia, e à frente apenas do Chile. Isso é o que revela estudo elaborado pela Organização e Cooperação para o Desenvol­vimento Econômico (OECD na sigla em inglês) com 40 países – os 34 membros da instituição e seis emergentes.

A oferta de enfermeiros em relação à de médicos também coloca o país em último lugar na pesquisa, com 0,5 enfermeiro para cada médico, mesmo índice dos chilenos. A pesquisa, de 2009 e divulgada neste ano, leva em conta tanto os profissionais com graduação quanto aqueles que atuam como técnicos e auxiliares de enfermagem.

Para se ter um parâmetro, a Rússia, país com nível de desenvolvimento semelhante ao brasileiro, possui 8,1 enfermeiros por mil habitantes, e 1,9 enfermeiro para cada médico. Já a Índia e a China possuem índices um pouco acima, embora ainda baixos (veja gráfico). No primeiro item, a campeã é a Islândia, com taxa de 15,3 enfermeiros por mil habitantes, e no segundo, a Irlanda, com 5 enfermeiros para cada médico.

Déficit preocupante

A pesquisa da OECD reflete um déficit conhecido das associações e conselhos que reúnem os profissionais de enfermagem no país. De acordo com a presidente da seção paranaense da Associação Brasileira de Enfer­­ma­­gem (Aben) e secretária de saúde de Carambeí, nos Campos Gerais, Carmen Moura Santos, o Brasil necessitaria de pelo menos 350 mil profissionais a mais.

A falta é mais sentida em cidades do interior e nas regiões Norte e Nordeste, onde muitas vezes não há enfermeiros 24 horas por dia nos hospitais, ou então um mesmo enfermeiro assume mais de uma equipe ou é responsável por mais de uma unidade básica de saúde, o que é proibido por lei. "A distribuição é muito desigual, e em alguns locais esse índice [apresentado pela pesquisa] pode ser ainda menor, o que impacta na qualidade do serviço", diz a enfermeira.

Pela lei, há diferenças entre enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem. Apenas o primeiro pode prescrever cuidados e é sempre o chefe da equipe, enquanto os demais podem executar os serviços, sempre sob a supervisão do enfermeiro. Cada equipe deve ter um enfermeiro, e deve haver sempre um profissional desta categoria à disposição 24 horas por dia.

Cuidados

A desigualdade na relação entre enfermeiros e médicos impacta negativamente na saúde, de acordo com o membro do Cons­elho Federal de Enfer­magem (Cofen) Antônio Marcos Freire. "O médico é responsável pelo diagnóstico e por indicar o tratamento, mas é o enfermeiro que prescreve os cuidados e tem maior contato com o paciente. Logo, se estão em menor número, essa parte fica comprometida."

Freire dá um exemplo que ilustra bem os problemas decorrentes dessa desproporcionalidade, que envolve a hora de dar à luz. Geralmente, cabe ao médico fazer o parto, mas é o enfermeiro o responsável por acompanhar a parturiente e ajudá-la com procedimentos que aliviem a dor, como massagens, mudanças na posição do leito e técnicas de respiração. Com o déficit, é comum que muitas não tenham esse acompanhamento.

"O enfermeiro pode ajudar a mulher nesse momento de ansiedade, ajudando-a a fazer a força necessária e a economizar energia. Em casos em que ela é orientada de forma incorreta ou nem é orientada, é comum que não tenha forças para empurrar o bebê e acabe sendo necessária uma cesária, aumentando os risco de morte materna", diz Freire.

Preconceito é histórico

Historicamente, a Enfermagem sempre foi vista como um ofício menor se comparado com a Me­­di­­cina, embora ambas tenham pa­­peis igualmente importantes na área de Saúde. "É uma questão de cul­­tura. A Medicina é uma ciência mais antiga, e o status social do médico sempre foi maior do que o do enfermeiro. Isso começa a mu­­dar, até porque é o enfermeiro que está 24 horas com o paciente, e as pessoas começam a valorizá-lo", analisa a coordenadora do Curso de Enfermagem da Facul­dade Evan­­gélica, Amarilis Schia­von Paschoal.

Antônio Mar­­­­­cos Freire lembra que a En­­fer­magem tam­­bém sofreu preconceitos por ser historicamente uma profissão feminina, já que o ma­­chismo quando essa ciência surgiu considerava inferiores os ofícios ligados ao gênero. Quando escolheu seguir a profissão, há 15 anos, ele sofreu resistência inclusive dos pais. "Havia a ideia de que a Medi­ci­­na era para os homens e a Enfer­magem para as mulheres, pe­­la no­­­­ção de subserviência que havia entre as duas funções, da enfermeira servindo ao médico." "As pessoas sempre reclamam por mais médicos, pois elas querem consulta, querem tratar, to­­mar re­­médios, mas o que faltam mesmo são mais enfermeiros, que focam principalmente nos cuidados e na qualidade de vida através da prevenção", diz a presidente da Asso­ciação Brasileira de Enfer­ma­­gem no Paraná, Carmen Moura Santos.

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