Reunião da SBPC
Haddad quer ampliar número de mestres e doutores no país
Goiânia (GO) - Bruna Maestri Walter, enviada especial
O governo federal pretende ampliar o porcentual de professores de ensino superior com mestrado e doutorado, que atualmente está em 56%, para 75%. A meta, fixada no Plano Nacional de Educação (PNE) para o período de 2011 a 2020, foi reafirmada ontem pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, a uma plateia formada principalmente por pesquisadores, durante a 63.ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Goiânia.
O discurso acalmou a comunidade científica, preocupada com o projeto de lei que tramita no Senado que permite a contratação temporária de professores universitários sem pós-graduação. "Esse projeto de lei vai na contramão do que propõe o PNE", disse o ministro. Segundo ele, há espaço para profissionais experientes sem pós-graduação nas universidades, mas isso dever ser a exceção não a regra. "O caminho da qualificação é a exigência de titulação cada vez mais elevada", afirmou.
O governo pretende ainda elevar gradualmente o número de matrículas para atingir a titulação anual de 60 mil mestres e 25 mil doutores. Para isso, o financiamento estudantil e a oferta de cursos, incluindo a educação a distância, serão ampliados.
Para cumprir
O PNE institui 20 metas para serem cumpridas entre 2011 e 2020, entre elas universalização da pré-escola, redução do analfabetismo, aumento do acesso ao ensino superior e melhor qualificação e remuneração dos professores. Outra meta é aumentar os investimentos anuais em educação de 5% para 7% do Produto Interno Bruto (PIB).
Segundo Haddad, as metas foram cuidadosamente estabelecidas para que sejam honradas. "A grande maioria das metas temos que cumprir", disse. "Se chegarmos a 2020 com metade das metas não cumpridas, o documento vai perder credibilidade perante a sociedade." O plano está tramitando no Congresso e já recebeu 2,9 mil emendas.
O Brasil se prepara para realizar um concurso internacional que deve recrutar pesquisadores e docentes de fora do país para as áreas de ciência e tecnologia. Ao sair de um encontro em que a presidente Dilma Rousseff recebeu o neurocientista Miguel Nicolelis, o ministro Aloisio Mercadante, da Ciência e Tecnologia, disse que o governo abrirá, em breve, vagas para pesquisadores estrangeiros temporários nas instituições de ponta do Brasil. Segundo ele, o alvo são cientistas que perderam seus postos em universidades estrangeiras por causa da crise.
O ministro citou experiência recente da Universidade de Campinas (Unicamp), que trouxe pesquisadores e professores estrangeiros para períodos de até dois anos na universidade paulista. "Vamos dar um salto quântico", disse o ministro, falando também do recém-anunciado programa que pretende enviar 75 mil graduandos e doutorandos brasileiros para universidades no exterior. O governo espera que a maior parte das bolsas seja bancada por empresas daqui.
"Hoje é um momento raro na história econômica, o Brasil cresce, tem estabilidade, investe. E estamos assistindo a uma recessão nos países desenvolvidos. Tivemos uma diáspora de cérebros no passado, mas agora queremos atrair inteligência para o Brasil", declarou.
O ministro disse que o país tem excelentes cientistas, mas que a iniciativa do governo responde à exigência da sociedade atual de expandir as fronteiras do conhecimento. "Você não desenvolve projeto de ponta em tecnologia e ciência sem colaboração internacional. E o Brasil tem de pensar em estar na ponta."
Lista de desejos
Na conversa com Dilma, Nicolelis pediu apoio para dois projetos: a instalação de 12 escolas multilíngues nas fronteiras do Brasil e o desenvolvimento do projeto "Andar de novo" para o início da Copa do Mundo de 2014. As escolas teriam ensino normal pela manhã e os estudantes dos dois países teriam aulas conjuntas de ciência no período da tarde. As aulas seriam em português e espanhol, propôs Nicolelis.
Sobre o "Andar de novo", a ideia é que um paraplégico possa dar o pontapé inicial do Mundial no Brasil. Os cientistas trabalham para unir homem e máquina por meio de uma veste robótica controlada pelo cérebro. "A presidente adorou a ousadia", disse Nicolelis.
Mercadante afirmou que o projeto é um "sonho". "Imagine um menino, uma menina, tetraplégico ou paraplégico entrar andando em um campo de futebol e chutar uma bola. É uma coisa tão fantástica quanto os feitos de Santos Dumont. Espero que a gente consiga fazer isso."
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