Com onze medalhas de ouro, dez de prata e seis de bronze, o Brasil conquistou o primeiro lugar na World Skills, uma espécie de ‘olimpíada’ do ensino técnico. No evento que ocorreu em agosto, em São Paulo, o país ficou à frente de nações com tradição na área, como Coreia do Sul e Alemanha. Ao todo, cerca de 60 países participaram da disputa em 50 modalidades, divididas em seis categorias. A competição é realizada a cada dois anos.
O ouro brasileiro não é por acaso. Os alunos passam por uma maratona de treinamento antes de competir. Eles são a ponta de lança de um ensino técnico que busca impulsionar o setor produtivo no país. A seleção dos participantes fica a cargo do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), que realiza etapas estaduais, regionais e nacional da Olimpíada do Conhecimento.
Os melhores colocados ganham bolsas e treinamento para a World Skills. A tática rendeu ao país bons resultados. De 2007 para cá, o país conquistou duas medalhas de prata, uma de bronze, além de um quinto lugar, no quadro geral da competição.
Seleção
Coordenadora de Educação Profissional do Senai Paraná, Vanessa Sorda Frason explica que os alunos selecionados são como a “Fórmula 1” do ensino técnico. “Existe um investimento na formação específica desses alunos, com treino, planejamento, e isso retorna para o processo de base [do ensino], criando um ciclo”.
O ensino “de ponta” casa com o ideal do Senai de montar seus cursos pensando no futuro a curto prazo do setor produtivo. “Um curso técnico leva dois anos, então não posso apenas olhar a realidade atual, tenho que pensar na perspectiva tecnológica”, explica o gerente executivo de educação profissional do Senai nacional, Felipe Morgado.
Os currículos do Senai são pensados com um “prazo de validade” por um comitê setorial, do qual participam técnicos, empresas, entidades de classe e poder público. “Essas pessoas recebem um estudo de prospectiva tecnológica que fala qual o futuro daquele setor [e] qual seria o perfil de um profissional que deve sair de um curso do Senai”.
Formando talentos
A partir desta análise técnica, cursos podem ser criados e extintos conforme a tendência da indústria. O mesmo vale para as categorias da World Skills. A edição deste ano, por exemplo, foi a primeira com “modelagem de protótipos”. O curitibano Alesson Lopes, 22, foi o representante brasileiro na modalidade.
É como se fosse Design Industrial; só que ao invés de desenhar, ele executa o projeto. Um bloco de matéria prima é transformado em produto (no caso da competição, um telefone com fio). A banca leva em conta critérios como pintura, acabamentos nas quinas (a máquina faz cortes retos, para fazer uma ondulação é preciso utilizar outro material), colagem de adesivos, entre outros.
Alesson conta que se matriculou no curso de Aprendizagem Industrial em Mecânica Geral, no Senai da Cidade Industrial de Curitiba (CIC), por acaso, sem saber bem o que era. Deu certo. Fã dos estudos, passou na seleção e entrou para uma turma subsidiada pela Bosch. Nela os alunos devem passar metade do tempo em sala, metade na indústria. Ele foi dispensado da fábrica para treinar. Ganhou medalha de ouro na Olimpíada do Conhecimento, em 2014.
Seu treinador, Sander Costa Pinto, também competiu na World Skills, em 2011. Aos 24 anos, virou professor. Em sua oficina, no Senai, hoje treina Germano d’Espindula, de 19 anos. Também aluno de uma turma da Bosch, o rapaz se prepara para competir em “desenho mecânico em CAD”. A categoria – a mesma disputada por Sander – é dividida em várias provas e o aluno deve dominar todas. Em uma delas, recebe o desenho técnico de um componente - a peça de um motor, por exemplo - e deve construí-lo no programa de computador. Em outra prova, recebe a própria peça e faz o caminho inverso: tem de extrair da peça o desenho com as medidas.