Com apenas 22 anos, a brasileira Anielle Guedes impressiona não só pelo conhecimento a respeito do que fala, mas também pela experiência. Já foi tradutora da Anistia Internacional, filmou um documentário apresentado na Unesco, discursou duas vezes na ONU e participou de um curso na Agência Espacial Americana (Nasa). Hoje, ela é dona de uma startup que quer reduzir os custos da construção civil utilizando a impressão 3D.
Nascida em São Paulo, Anielle fez faculdades de Economia e Física. Trancou as duas, por não encontrar o que queria. Ano passado achou o caminho: durante um curso realizado na Singularity University, na Nasa, a jovem entrou em contato com empresas que realizavam impressão 3D de materiais de construção, o que diminui gastos e corta prazos. Encantada, resolveu criar a sua própria startup: a Urban3D.
Por meio da empresa, Anielle quer alterar a lógica do mercado da construção civil. A ideia seria imprimir as moradias em poucas semanas e por um custo até 80% menor do que é praticado pelas empresas tradicionais, graças a um maquinário mais barato e um material mais sustentável e acessível.
Contando com a ajuda de apenas cinco pessoas, entre engenheiros e desenvolvedores de negócios,Anielle pretende utilizar impressoras para criar módulos pré-formatados digitalmente. Essas máquinas, que possuem uma estrutura imensa, utilizariam um concreto especial para imprimir vigas, pavimentos, paredes e detalhes da arquitetura das residências. Para isso, a impressora faria extrusão do concreto, colocando-o camada por camada para fazer paredes e outras estruturas. Este robô, que já está com o protótipo pronto, só precisa de financiamento para desenvolver o primeiro produto funcional.
A tecnologia é determinante para atingir objetivos de fazer cidades melhores, mais inclusivas, mais sustentáveis, além de, principalmente, promover a qualidade de vida das pessoas.
Apesar dos poucos funcionários, a Urban3D conta com importantes parceiros para desenvolver materiais e a impressora em questão. Uma empresa alemã na área de química está criando um novo produto feito a base de recicláveis para substituir o concreto. Empresas na área de maquinário pesado e de robótica estão desenvolvendo máquinas e tecnologias para viabilizar a impressão como planejada e realizada em outros locais do globo.
A Nasa também já teria procurado Anielle para desenvolver um projeto ainda não divulgado. Além disso, ela afirma que a ONU, que convidou para discursar sobre a Urban3D em Genebra, também é uma de suas parceiras, divulgando o projeto em escala global.
Tecnologia social
A impressão 3D de materiais de construção não é inteiramente nova. Alguns fatores, porém, diferenciam a Urban3D de outras companhias, segundo Anielle. “O primeiro é que as outras empresas tem um enfoque muito grande no desenvolvimento de maquinários. Mas nós também pensamos nos materiais”, conta ela. “E estamos olhando para a impressão in loco, não de peças. Além disso, eles falam em imprimir casinhas de um andar. O nosso produto final será um prédio de, no mínimo, quatro andares.”
Pelo mundo
Outras empresas ao redor do mundo estão entrando no mercado da impressão 3D de prédios. Na China, a WinSun construiu um conjunto de dez casas em 24 horas, usando uma mistura de materiais de construção e resíduos industriais. No começo deste ano, em uma parceria com o governo de Dubai, a mesma empresa anunciou a construção do primeiro prédio funcional do mundo. Na Holanda, a DUS Architects quer construir pequenas casinhas ao longo de um dos canais de Amsterdã. Já a inglesa Foster & Partners fechou parceria com a Agência Espacial Europeia para construir moradias impressas na Lua.
No Brasil, ela tem o objetivo de construir moradias sociais. “Já contatamos a prefeitura e o Ministério do Planejamento”, conta. “Tentaremos, também, fechar parceria com o CDHU.”
O objetivo de Anielle, porém, vai além. “O mundo tem um déficit habitacional de dois bilhões de pessoas. Em 15 anos, esse número vai subir para 4 bilhões. E nós não temos dinheiro para acompanhar esse crescimento”, comenta. “Como posso fazer algo útil para isso?”
A resposta? Para Anielle, a tecnologia.
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