Descrito pelos familiares e amigos como exemplo de paciência, respeito e romantismo, um casal de Curitiba, no Paraná, comemorou 75 anos de casamento no último fim de semana. “É a primeira celebração de Bodas de Brilhante que faço, uma oportunidade rara!”, afirmou o Padre Salvador Ramos Nogueira, de 78 anos, convidado por Leonildo Tragante e sua esposa Maria Madalena para dirigir a celebração.
Morador de Arapongas, no Norte do estado, essa foi a quarta vez que o sacerdote conduziu a renovação dos votos matrimoniais do casal, pois foi escolhido para a mesma tarefa na comemoração de 25 anos de união, em 1974, depois nas Bodas de Ouro, em 1999, e na festa de 70 anos de casamento, em 2019.
“E sempre é uma emoção vê-los tão felizes por renovar as promessas de fidelidade nupcial ao Deus da vida”, relata o clérigo, ao citar que Leonildo e Madalena transmitem o legado precioso de firmeza e persistência na relação a dois. “Eles mostram que, em setenta e cinco anos ou mais, o casamento sempre vai depender de luta, resiliência e perdão.”
De acordo com o genro Alberto José Silva, que veio de São Paulo para organizar as Bodas de Brilhante dos sogros, Madalena e Leonildo têm um relacionamento baseado na paixão, amizade e respeito. “E eu, como engenheiro químico, posso dizer que esses materiais constituem a fórmula perfeita para o amor duradouro”, afirmou em seu discurso na celebração, quando citou também a importância do trabalho como pilar para o casamento tão feliz.
Em entrevista à Gazeta do Povo, Madalena conta que o esposo – que ela chama carinhosamente de Nico – sempre foi muito trabalhador, atuando como empreiteiro, eletricista, instalador de antena e administrador.
“Ele fazia o que fosse preciso para trazer o melhor à nossa família”, conta a paranaense de 88 anos, que viu o esposo abrir um armazém de “secos e molhados” nos primeiros anos de união, depois uma fábrica de muros e uma empresa de saneamento que prestou serviços à Prefeitura de Curitiba.
“Ele fazia o que fosse preciso para trazer o melhor à nossa família”
Maria Madalena Tragante, de 88 anos, a respeito do esposo Leonildo Tragante
“E eu cuidava da casa, dos filhos e também ajudava nos negócios”, informa a idosa, que atendia clientes no armazém, realizava cobranças e auxiliava o marido na parte administrativa. “Inclusive, depois que o Nico passou a trabalhar para a prefeitura, era eu quem fazia as folhas de medição para ele”, revela.
Segundo a paranaense, ela, o esposo e os filhos moraram por anos na casa dos pais, até construírem a casa da família, então a mãe Zilda Carpejani e seu sogro Guilherme Tragante ajudavam com as crianças nesse período.
Além disso, os pais davam orientações para o relacionamento dos recém-casados. “Nós respeitávamos o que eles falavam e somos muito gratos”, recorda a idosa, ao citar, inclusive, que a Sra. Zilda e o Sr. Guilherme foram responsáveis pela união que agora chega aos 75 anos. “Nosso casamento foi um presente dos nossos pais!”, declara.
O casamento foi realizado em casa, em 22 de outubro de 1949
De acordo com ela, o juiz e o escrivão do Cartório Cajuru, de Curitiba, foram à casa da família no dia do seu aniversário de 13 anos, quando ela colocou um vestido de noiva para tirar foto com Leonildo, na época com 20 anos.
A Gazeta do Povo entrou em contato com o cartório citado, e a certidão do casamento segue arquivada no local. Segundo o documento, a celebração ocorreu às 16h25 de 22 de outubro de 1949, e foi conduzida pelo juiz de paz Manoel Ribeiro de Campos.
“E um fato interessante é que eu ganhei um marido que não namorei”, conta a idosa, informando que nunca havia se relacionado com nenhum rapaz. “Já o Nico tinha uma namorada na época, mas teve que casar comigo porque o pai dele pediu”, brinca.
O idoso de 95 anos, no entanto, garante que era com a Madalena que ele queria casar e, por isso, a aceitou como esposa com alegria. “Essa história de que eu tinha outra namorada é conversa dela”, diz, rindo. “E estamos aqui, com fé em Deus, completando 75 anos juntos”, continuou.
Companheirismo e paciência: chaves para os 75 anos de união
Segundo eles, as chaves para o relacionamento perdurar foram o companheirismo e a paciência, que ajudaram o casal a enfrentar as lutas, desde o início. Pouco depois do casamento, por exemplo, Madalena engravidou da primeira filha e teve uma bebê saudável, mas a criança contraiu meningite e faleceu aos dez meses de idade.
Quase duas décadas depois, Leonildo sofreu uma fratura exposta na perna durante o trabalho, e Madalena cuidou do esposo por vários meses, atenção que foi retribuída por Leonildo em 1992. Nesse ano, a paranaense descobriu que sofria de câncer no reto, o que exigiu cinco cirurgias para retirar o tumor e o uso de uma bolsa de colostomia que a acompanha até hoje. “Quem me ajudou a superar foi meu marido. Ele foi companheiro e amigo”.
Segundo ela, situações como essas fizeram com que colocassem em prática a promessa que haviam feito de serem fiéis um ao outro “na saúde e na doença”, tornando o relacionamento ainda mais forte e fazendo com que valorizassem muito a vida, a família e o bem-estar do cônjuge.
Por isso, se comprometeram a “não brigar” e decidiram que aquele que ficasse nervoso por alguma situação deveria sair de casa por alguns momentos para respirar. “Até hoje isso acontece e, depois que a gente volta, damos risada do fato”, comenta Madalena, afirmando também que o casal nunca discutiu na frente dos filhos.
O caçula Guilherme Tadeu Tragante, de 70 anos, confirma: “Meus pais sempre se respeitaram e eu não me recordo de vê-los tendo uma discussão pesada”, relata, ao pontuar que, além de companheiros, os dois velhinhos são independentes. “Eles têm o celular deles, vão em festas, descem sozinhos para a praia e simplesmente nos avisam que foram”.
Para a filha mais velha, Gracia Tragante, é uma benção ter os pais com 88 e 95 anos tão lúcidos e fortes assim. “Estão comemorando a vida e o legado de uma grande e intensa jornada”, celebra a moradora de São Paulo que completará no ano que vem 50 anos de casamento com o esposo Alberto José Silva. Com certeza, “a riqueza do convívio, das vivências, dos exemplos e aprendizados nós absorvemos para a nossa vida também”.
Como é a rotina do casal?
Ver a família seguindo seus passos motiva o casal a continuar. “Um dos netos nos falou nas Bodas de Brilhante que vai sempre segurar as mãos da esposa, igual o vô segura a mão da vó, e isso é imensamente gratificante”, dia dona Madalena, que faz questão de manter a família unida para que exista essa troca de experiências, de exemplo e afeto.
“Faço comida para todos, preparo bolos e doces que o Nico gosta e sempre saímos passear”, diz, informando que o marido também cultiva mudas de plantas e faz questão de acompanhá-la aonde vai. “A verdade é que a gente não sabe mais viver longe um do outro, então seguiremos juntos até chegar nossa hora”, promete.
Fotos: Steve Carvalho / Arquivo Pessoal
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