Embora o brasileiro diga acreditar na relação entre zika vírus e o aumento de casos de microcefalia no país, ele ainda não está disposto a adiar planos por medo da doença. É o que aponta levantamento nacional produzido pelo Instituto Paraná Pesquisas exclusivamente para a Gazeta do Povo.
Leia mais sobre o Aedes aegypti e as doenças ocasionadas pelo mosquito
INFOGRÁFICO: percepção dos brasileiros sobre o zika vírus
Segundo a pesquisa, cerca de 60% dos brasileiros acreditam que a enfermidade transmitida pelo mosquito Aedes aegypti é responsável pelo surto de microcefalia vivido no Brasil desde o fim do ano passado. No entanto, apenas 19% diz que deixou ou deixaria de viajar por medo de ser contaminado pelo vírus. Quando o assunto é o plano de ter um filho, o medo da doença parece ser maior. Mesmo assim, 61% afirma que não deixaria de engravidar ou ter um filho por causa das incertezas relacionadas ao zika.
Por outro lado, a pesquisa também mostra que as pessoas estão se cuidando mais e adotaram novos hábitos no cotidiano, como o uso de repelente e a limpeza mais frequente de pontos suscetíveis à proliferação do mosquito. No levantamento, cerca de 92% dos brasileiros admitiram ter ampliado os cuidados pessoais para evitar picadas do mosquito e a proliferação do Aedes aegypti.
“As pessoas estão se cuidando mais, mas o que percebemos é que essa questão do zika ainda não é um impeditivo para viajarem ou terem filho. Mesmo no Nordeste, onde o número de bebês com microcefalia é maior, percebemos esse comportamento”, comenta Murilo Hidalgo, diretor do Paraná Pesquisas.
O levantamento mostra que, no Nordeste, 41% das pessoas dizem que adiaram ou adiariam os planos de ter um filho por medo da doença. Embora seja o maior percentual dessa resposta entre as regiões brasileiras (no Norte e Centro Oeste foi de 38,5%, no Sudeste de 35,6% e no Sul de 36,4%), ainda é maioria quem resolveu manter os planos de gestação.
Para Hidalgo, esse comportamento tem relação com o desconhecimento de boa parte da população sobre o zika. “Ainda não é uma coisa tão próxima e as pessoas não sabem muito bem quais são os sintomas e a gravidade da doença além do risco para as gestantes”, comenta Hidalgo.
Na maior parte dos casos, os sintomas da zika são mesmo brandos. Se assemelham aos de uma gripe forte ou a uma alergia de pele. Eles passam em poucos dias, sem necessidade de buscar auxílio médico e isso faz com que em muitas situações o zika passe despercebido. Isso também colabora para a desconfiança da população sobre um suposto exagero sobre o Aedes.
Edmarcia Moimás, proprietária de um restaurante em Colorado, cidade ao Norte do estado que vive um surto de dengue e registra casos de zika, é uma das descrentes. Ela diz desconfiar que o aumento do número de casos seja inflado pela imprensa. “Não vemos tantos casos assim como dizem. Eu mesma tive manchas vermelhas e coceira, até senti um cansaço maior, mas não procurei o posto de saúde porque logo passou. Não sei se era dengue ou zika. Só acho que essa ideia de epidemia cria um pânico desnecessário na população”, afirma.
Que doença é essa?
O elevado número de casos suspeitos notificados de dengue, zika e chikungunya – no Paraná já são 57 mil notificações de dengue e cerca de 1,5 mil de zika e chikungunya – faz aumentar a dificuldade entre médicos e outros profissionais de saúde encarregados de diagnosticar os pacientes, já que os sintomas das três doenças são muito parecidos entre si e semelhantes aos sintomas de uma gripe mais forte ou de alergias. Estudos apontam que surtos de gripe e dengue podem coincidir devido às condições climáticas propícias para os vírus. “Embora a influenza seja uma doença com alta sazonalidade no Sul e Sudeste, ela pode ocorrer durante todo o ano e, em alguns casos, as pessoas infectadas não apresentam as manifestações da síndrome gripal. A dengue e outras infecções também podem manifestar-se apenas com febre”, explica Lucia Bricks, diretora médica de Influenza na América Latina da Sanofi Pasteur.
Aborto
Os brasileiros rejeitam a ideia de liberar o aborto no caso de gestação de bebês com microcefalia. De acordo com a pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas, 62% dos brasileiros diz ser contra essa ideia. Há alguns meses, grupos defensores do aborto informaram que pretendem ir ao Supremo Tribunal Federal requerer a liberação da interrupção da gravidez no caso de bebês com a má-formação.
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