A expectativa de vida no Brasil passou de 69,3 para 72,7 anos em uma década, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um terço dos homens e um quinto das mulheres nascidos entre 2000 e 2005, porém, não chegarão nem aos 65 anos. E para piorar, o tempo de vida saudável dos brasileiros após os 60 anos é bem inferior ao de países desenvolvidos. Por aqui, chega a 13,5 anos o período que os homens passam doentes e 11,5 anos, para as mulheres. "As pessoas passam mais de uma década com condições de vida precárias, o que tem impacto nas finanças públicas, com perda de produtividade e custos hospitalares", diz o autor da pesquisa, Milko Matijascic, diretor do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). Na comparação com outros países em desenvolvimento, a situação só é pior na Índia, Rússia e África do Sul.

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Os indicadores de expectativa de vida saudável no Brasil são iguais aos que México e Argentina apresentavam no início da década de 1990, e equivalentes aos de países como Finlândia, EUA e Alemanha na década de 1970.

Até 2025, o número de idosos deve dobrar no País. Isso traz à tona novos problemas. Já sobrecarregado, o sistema de saúde brasileiro atende 20 milhões de idosos, ou 10,5% da população. Em 17 anos terá 40 milhões de pessoas com mais de 65 anos em suas filas. "Nossos idosos têm, muitas vezes, péssimas condições socioeconômicas", diz a diretora do Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde, Claunara Schilling. "O analfabetismo é determinante para a saúde."

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O mesmo vale para a previdência. Dados de 2005, mostram que apenas 42,6% das aposentadorias concedidas naquele ano resultaram de fatores previsíveis, como idade ou tempo de contribuição. Ou seja, 57,4% foram resultado de fatores de risco, como invalidez, doenças e acidentes. "Além dos gastos com saúde, existem outros mais difíceis de serem medidos, como a necessidade de uma pessoa receber os cuidados de um familiar, que fica impedido de trabalhar", diz Matijascic.

Na lista dos fatores de risco figuram doenças crônicas como hipertensão e diabetes, responsáveis pela principal causa de mortes no País: as doenças cardiovasculares. Entre essas, o acidente vascular cerebral (AVC) é destaque: mais de 90 mil mortes em 2005. Estima-se que 40% dos pacientes que sobrevivem a um AVC ficam com seqüela moderada ou grave, e 25% permanecem com algum grau de limitação física. Outra conseqüência das doenças circulatórias, a insuficiência renal, obriga 80 mil pessoas a passarem por diálise no País.

Segundo Claunara, o ministério aposta na ampliação do Programa Saúde da Família (PSF) para responder à demanda que se forma nos serviços de alta complexidade. A expectativa da pasta é atender 70% da população até 2011. Hoje, a cobertura é de aproximadamente 50%. "Temos cobertura razoável, com mais de 28 mil equipes", diz Claunara.

Matijascic concorda. Investir na prevenção é mais barato que tratar os pacientes depois da doença instalada. O pesquisador acredita que investimentos sociais podem mudar o atual quadro, que tem reflexos diretos na capacidade produtiva e na competitividade do País. "A desigualdade é diminuída não só com programas de transferência de renda, mas com investimentos em serviços sociais, como a saúde."

A lógica é simples: quanto menor o investimento do Estado em saúde, maior o gasto de famílias e empresas com esse item. O custo, no caso das empresas, tende a ser repassado para a sua produção, o que diminui a competitividade. "Os países mais competitivos são os que investem em segurança social. O gasto com saúde, por exemplo, não é preocupação para uma empresa sueca", diz Matijascic.

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No consultório de Clineu Almada, professor de geriatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), 50% dos pacientes têm menos de 60 anos. São pessoas preocupadas com a terceira idade que bate à porta. Muitos acompanharam o envelhecimento de seus pais - e as doenças que o tempo trouxe. A expectativa é ir mais longe do que eles.

"As pessoas com mais de 65 anos normalmente têm de três a cinco doenças associadas", diz o geriatra. "Não ter nenhuma doença é privilégio para poucos idosos." Se depender da postura dessa "nova geração", essa perspectiva pode mudar. Para os que já chegaram à terceira idade doentes, resta "gerenciar a doença", afirma o médico.