Brasília – A capital federal completou ontem 47 anos espelhando-se em Curitiba como modelo de planejamento urbano. Nos próximos meses, o Distrito Federal vai utilizar fórmulas da cidade para aprimorar principalmente o sistema de transporte, considerado um dos mais caóticos do país. As mudanças passam pela integração viária e criação de canaletas exclusivas para ônibus biarticulados.

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As transformações estão nas mãos do ex-prefeito da capital paranaense Cassio Taniguchi. O agora secretário de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente terá como aliado o ex-governador do Paraná Jaime Lerner. Ele será um consultor para projetos pontuais de arquitetura e urbanismo.

Recém-eleito deputado federal, Taniguchi pôs de lado a vaga na Câmara para atender um chamado expresso da direção nacional do Democratas, o antigo PFL. Tornou-se braço direito do governador distrital, José Roberto Arruda, na luta contra a desordem provocada pelo inchaço populacional das cidades-satélite de Brasília.

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O desafio, no entanto, não será dos mais fáceis. "Estamos tratando de um sistema de transporte que simplesmente não funciona, dentro de cidades fragmentadas", diz Taniguchi. Brasília tem 2,3 milhões de habitantes e 70% dos empregos concentrados no Plano Piloto, onde estão os edifícios públicos nacionais como os ministérios, Congresso e Palácio do Planalto.

O problema é que 80% dos habitantes do Distrito Federal moram fora do Plano Piloto. "É um pêndulo diário, de gente que vai e volta para trabalhar, que precisa ser regulado", explica o secretário. Para fazer o ajuste, ele tem nas mãos um sistema de transporte subutilizado, dinheiro, e a carta-branca do governador Arruda.

Ícone da ineficácia, o metrô é o primeiro ponto a passar por modificações. O sistema começou a ser construído nos anos 1990, começou a funcionar em 2001, e já consumiu R$ 1,6 bilhão. Entretanto, é utilizado por apenas 50 mil passageiros por dia.

"Confortável até que é. O duro é que não funciona quando a gente precisa", diz o recepcionista de hotel Wilson Siqueira, 48 anos. Morador da cidade-satélite de Águas Claras, ele não pode usar o metrô diariamente por causa do horário restrito de funcionamento, das 8 às 20 horas, de segunda à sexta-feira.

As linhas alcançam atualmente 35 quilômetros. Na segunda-feira, o governo distrital liberou R$ 100 milhões para a construção de mais cinco estações, completando 16, e elevando para 42 quilômetros a extensão total do sistema. A partir da próxima segunda-feira, o horário de funcionamento será ampliado das 6 horas às 23h30, diariamente. A intenção é chegar aos 120 mil passageiros por dia para que o metrô deixe de ser deficitário.

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A partir desses ajustes, a tarefa será unir o sistema aos ônibus, criando vias alimentadoras. Aí começam as semelhanças com os terminais curitibanos. Essa integração inclui a adoção de tarifa única e, de acordo com Taniguchi, deve ser colocada em prática dentro de três meses.

O terceiro passo é a construção de 80 quilômetros de vias exclusivas para os ônibus. São 10 quilômetros a mais do que o sistema de Curitiba, que começou a ser implantado na década de 70. A expectativa é de um investimento inicial de R$ 250 milhões e que o sistema comece a funcionar em dois anos. Indiretamente, o recurso deve movimentar a economia paranaense, já que os biarticulados que rodarão por Brasília possivelmente serão montados em Curitiba.