Dois adolescentes, na faixa dos 15 anos, trocam socos na saída de um colégio particular em um bairro nobre de Curitiba. A cena ocorreu há cerca de duas semanas e, desde então, as imagens têm circulado pelos celulares dos adolescentes. Depois de quase 30 segundos do vídeo, um adulto, que parece estar observando tudo, põe fim à briga.
O fato alerta para um problema que tem ocorrido nas escolas públicas e particulares do estado. De acordo com dados do Batalhão da Patrulha Escolar Comunitária (BPEC), da Polícia Militar, 19,8% das ocorrências atendidas em 2013 nas escolas estaduais são referentes a brigas entre adolescentes. É o principal motivo dos atendimentos realizados nessas escolas.
"Uma margem de 85% dessas brigas são resolvidas com mediação de conflito", explica o chefe do planejamento da BPEC, capitão Dalton Gean Perovano. Segundo ele, as causas dos desentendimentos variam, mas giram em torno de namoros, xingamentos e até bullying virtual. "São quase sempre motivos banais", constata. O BPEC faz atendimento às escolas estaduais, mas, quando acionado, também vai aos colégios particulares.
Responsabilidade
Para o coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente, Murillo Digiácomo, a escola é responsável pela educação de seus alunos dentro e fora dos estabelecimentos de ensino, assim como os pais. "Se está acontecendo isso com seus alunos, a escola é responsável. Ela tem de tentar trabalhar a questão da tolerância", diz o promotor.
Na avaliação dele, a educação do aluno, independentemente do local onde ele esteja naquele momento, é também dever da escola. "A briga demonstra uma falta de educação. Apresenta uma falha também da escola. Também da família. É dever de todos prevenir esse tipo de ocorrência", alerta.
A professora da Unopar e mestre em Educação Sonia Maria Mendes França defende que a família e a escola precisam estreitar ainda mais o relacionamento. "Temos percebido um universo de intolerância (nas escolas). O individualismo está muito presente nisso", explica a professora.
De acordo com ela, é preciso que a escola e a família estejam atentas aos indícios de violência, que normalmente antecedem a briga. "Essa forma de lidar com o outro precisa ser trabalhada em casa", comenta. Para a especialista, há despreparo da escola para resolver questões sobre violência.
Digiácomo alerta, no entanto, que expulsar alunos em razão de brigas só piora a situação, pois deixa o adolescente abandonado. Trata-se de uma fuga da responsabilidade, segundo ele. "Não dá para aceitar esse tipo de comportamento da escola", conclui.