Recife O primeiro aluno diferente a professora jamais esquece. Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque é o único da turma de alfabetização do Instituto Castro Alves, no Recife, de quem Elba de Vasconcelos Galindo, na época com 17, ainda se recorda. Inclusive pelo nome. Não era para menos. Todos os dias ela se preparava para receber aquele menino trabalhoso que exigia dedicação especial. Muito apegado aos pais (Durval Buarque Lima e Benedita Cavalcanti Queiroz, a dona Bibi), o garoto armava um escândalo quando chegava à sala de aula. E era sempre igual. Chorava, tinha dores no estômago, vomitava, até batia o pé. Terminava conseguindo o que mais queria: voltar para casa.
O período de adaptação foi prolongado: um semestre. Mas, passado o trauma inicial da mudança do espaço doméstico para o escolar, tudo ficou diferente. Como no conto de Hans Christian Andersen, o patinho feio da turma tornou-se cisne: alfabetizou-se em apenas três meses, virou um aluno atento e comportado. E tanto a ex-diretora como a ex-mestra e amigos dos tempos de colégio lembram-se dele como um menino inteligente, dedicado aos estudos e sobretudo solidário.
Cristovam, hoje com 62 anos, senador e candidato do PDT à Presidência, lembra sua resistência inicial à sala de aula. Relata que os primeiros dias foram difíceis: muito agarrado aos pais, preferia passar o dia perto deles. "Na época eu não tinha idéia do que era inferno e muito menos de usar esse conceito como metáfora. Mas acredito hoje que, como filho mais velho, fui provavelmente superprotegido pela minha mãe. Era um menino tímido, assustado, que sofria de insegurança fora de casa. E me sentia sozinho em relação à proteção familiar. Mas felizmente meus pais não sucumbiram à minha chantagem emocional."
Elba diz que ele demorou tanto a se curar que nunca esqueceu o aluno difícil. E o reconheceu quando o viu pela primeira vez na televisão.
"Pensei em como uma criança tão complicada se transformara em um homem tão brilhante", disse.
Cristovam também estudou no Colégio São Luís, dos irmãos maristas, que funciona ainda no mesmo local. Lá começou a amizade com Carlos Morel, hoje um cientista internacionalmente respeitado, que responde pela Coordenação Geral do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde da Fundação Osvaldo Cruz. Morel é o mais antigo amigo do candidato a Presidência pelo PDT. Eles estudaram juntos desde o 3.º ano primário, no São Luís, em 1953. O ex-colega Melchiades Montenegro Filho afirma que, além de estudioso, Cristovam na época já mostrava o lado humanista que o destacaria no futuro.
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