Crateras semelhantes àquela que surgiu na Guatelama também são encontradas no Brasil. Especialistas ouvidos pelo G1 afirmam que fenômenos similares já ocorreram no Paraná, em São Paulo, em Mato Grosso e em Mato Grosso do Sul.
O professor de geologia e diretor do Centro de Apoio Científico em Desastres da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Renato Lima, explicou que esse tipo de depressão recebe o nome técnico de dolina e ocorre em solos onde há rochas calcárias. "Essas rochas são dissolvidas pela passagem da água ao longo de milhares de anos. Às vezes, uma grande caverna desaba na profundidade e, na superfície, surge uma cratera. Geralmente, são bastante circulares", disse.
Segundo o professor, o surgimento desse tipo de cratera é lento. "É mais comum que aconteça devagar, mas o solo pode entrar em colapso e desabar de repente".
Professor do curso de geologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Carlos Humberto afirma que a intervenção do homem acelera o desabamento. "Em todo lugar onde há rochas calcárias é possível acontecer esse tipo de cratera, mas é um processo lento e natural. No entanto, o homem pode acelerar o processo com intervenções no solo e antecipar o desabamento."
Casos no Brasil
Lima ressalta que buracos desse tipo são comuns ao Norte da Região Metropolitana de Curitiba, em municípios como Almirante Tamandaré, Cerro Azul, Rio Branco do Sul e Adrianópolis. "Um buraco com cerca de cem metros de largura e 35 de profundidade surgiu em Almirante Tamandaré (PR), há cerca de dois anos", afirmou Lima.
O professor Carlos Humberto lembra de crateras semelhantes nos municípios de Nobres, em Mato Grosso; de Bonito, em Mato Grosso do Sul; e de Cajamar, no interior de São Paulo. "Em Cajamar, por exemplo, foi retirada a água de uma caverna subterrânea. O solo ficou instável e o teto dessa caverna desabou em 1986, o que abriu um buraco enorme. É um caso em que o homem acelerou o processo."
Segundo os especialistas, é possível prever o surgimento de fenômenos desse tipo. "É necessário fazer um estudo específico de risco geológico nas áreas onde há rochas que podem sofrer esse processo", afirmou Lima.
Segundo Humberto, nem sempre é possível evitar, já que é algo natural. "Quando se conhece o solo, dá para minimizar os danos e evitar que esse desabamento seja acelerado", diz.
Ação do homem
Já o professor do departamento de geologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Thomas Ferreira da Costa Campos não acredita que a cratera na Guatemala tenha sido provocada por forças da natureza. Para o geólogo, provavelmente havia uma estrutura feita pelo homem, que pode ter cedido por infiltração de água.
"Eu imagino que era um grande poço construído há centenas de anos. Depois, esse poço foi coberto pelo solo. O teto cedeu pela infiltração de água e pelo peso das estruturas urbanas que estavam sobre ele. Então, tudo que estava em cima caiu", disse.
O especialista estranha o formato do buraco. "A cratera é totalmente circular e as paredes são verticais. Ela fica no alto, em cima de uma ladeira, então não há água acumulada para fazer a terra ceder. Acredito que o buraco foi causado pelo desabamento de uma estrutura feita pelo homem. Nem uma cratera de um vulcão é tão retinha", afirmou Campos.
De acordo com Campos, dependendo da estrutura geológica do solo, a água diminui a força de atrito das partículas, dissolve o material e provoca o desabamento. "Mas qualquer deslizamento segue a força da gravidade e as encostas estabelecem um equilíbrio a 45º. É estranho um formato cilíndrico tão vertical, com paredes tão retas", disse.
Para Campos, o buraco não é consequência de uma dolina. Ele ressalta que esse é um processo demorado e não ocorre de repente. Pelas imagens, o solo da região não seria formado por rochas calcárias. "Dolina é um processo em que a água ataca o calcário, mas leva milhares de anos para ocorrer. Nunca surge de um dia para o outro e ocorre em situações muito específicas. Na Guatemala, não acredito que seja uma dolina", disse.