Em tempos de passagem de ônibus cara, congestionamentos intermináveis e de preocupação com a saúde e com o meio ambiente, a bicicleta vem ganhando destaque como meio de transporte. Mas em Curitiba os ciclistas reclamam dos problemas que encontram pelo caminho. Um dos pontos mais críticos, que conta com uma ciclovia cheia de buracos, em péssimas condições, está na Rua Rio Norte Belém, próximo ao Parque São Lourenço.
“Este trecho da ciclovia foi construído bem rápido, mas logo começou a quebrar. Agora faz mais de um ano que está assim. Os moradores e os ciclistas reclamam muito, está muito ruim. A prefeitura até tentou arrumar e colocar um pouco de piche, mas com a chuva a erosão aumentou e a ciclovia desceu mais ainda. Está bem perigoso, esse pedaço precisa ser todo refeito”, diz a servidora pública Giovana Valverde, 19 anos, que utiliza a ciclovia diariamente para ir do bairro São Lourenço ao Centro Cívico.
Morador da região, o comerciante João Moura, 56, costuma caminhar na calçada que fica ao lado da ciclovia. “É complicado, volta e meia eles arrumam, mas volta a abrir buracos. Esse trecho sempre complica, é arriscado para quem passa. Já vi criança caindo aqui com a bicicleta”, conta.
Tendo a bicicleta como principal meio de locomoção, o professor Kauê Avanzi, 28, acredita que os problemas recorrentes na ciclovia são frutos de falhas no projeto e na construção. “Ela está construída em um lugar que tem erosão provocada pelo rio, está muito próxima à área do rio. O projeto deveria ser revisto e melhorado pelos engenheiros. Este ponto é muito ruim, já tive prejuízos aqui quando cai num buraco e entortei a roda. Precisei desembolsar uns R$ 50 para comprar uma nova”, aponta.
Coordenador de grupo de ciclistas amadores Pedala Fanny, o autônomo Moacir Fachini, 50, conta que estes buracos do bairro São Lourenço estão entre os piores da cidade. “Não está ruim, está horrível. A gente sabe, inclusive, de gente que caiu e se machucou bastante neste trecho da ciclovia. Eu mesmo quase tomei um tombo feio ali. Isso é uma vergonha, várias reclamações foram feitas pelo 156, mas a situação permanece sem solução. As melhores ciclovias de Curitiba estão na região central. Em ruas do Boqueirão, Parolin e Portão, temos problemas com buracos, ciclovias interrompidas, falta de iluminação e segurança”, reclama.
Para o mecânico Adenir Pressanin, 46, que segue todos os dias do Lindoia ao Pinheirinho, passar pela ciclovia da Rua Aluízo Finzeto, no Prado Velho, é arriscado. “Aqui não tem iluminação pública. É perigoso, principalmente à noite, quando aumenta o risco de ser assaltado. E não é só isso, é muito ruim ter que compartilhar a ciclovia com os pedestres, como acontece aqui e na Linha Verde. Também na Linha Verde, a prefeitura fez uma ciclovia linda, só que cheia de curvas, boa para passear, mas ruim para quem está indo trabalhar. No resto da cidade faltam muitas ciclovias. Quem precisa ir do Pinheirinho até a Vila Zumbi (dos Palmares, em Colombo), não encontra uma pelo caminho”, observa.
Utilizando a ciclovia compartilhada para correr, o engenheiro de produção Sandro Santos, 45, reclama da falta de cuidados e manutenção. “Passo todos os dias por aqui e o que sempre incomoda é o mato, geralmente bem alto. Agora está cortado, mas não costuma ser assim. Também tem o lixo que fica espalhado pela rua, uma pena. Poderia ser sempre assim, como está agora”.
Prefeitura
A Prefeitura de Curitiba informou que uma equipe do departamento de Pontes e Drenagens da Secretaria de Obras Públicas foi enviada na semana passada para fazer uma vistoria na ciclovia da Rua Rio Norte Belém, nas proximidades com a Rua João Guariza, no São Lourenço, e o local foi sinalizado para não ter riscos de acidentes. “Já está programada para breve uma intervenção no local para correção do pavimento da ciclovia e em seguida a construção de um muro de contenção no rio para evitar novos problemas com o solo. Trabalho semelhante com o que está sendo feito no canal do Rio Belém, dentro do Bosque do Papa, em obra retomada pela prefeitura em janeiro deste ano”, promete.
Já no Prado Velho, na ciclovia das Ruas Aluízo Finzeto e Pedro de Toledo, o problema é a falta de segurança, que aumenta por conta da iluminação insuficiente. Queixa que deve ser resolvido com a nova iluminação. “Está em andamento um processo licitatório para implantar uma nova iluminação nesta ciclovia. A licitação está na fase de homologação e a previsão é que dentro 60 dias as obras comecem”, promete a prefeitura no comunicado.
Avanço
Ativista da ciclomobilidade, fundador da Associação de Ciclistas do Alto Iguaçu (CicloIguaçu) e um dos responsáveis pela Coordenação de Mobilidade Urbana da Secretaria de Trânsito de Curitiba (Setran) na gestão Gustavo Fruet, Jorge Brand – o agora vereador Goura (PDT), afirma que Curitiba avançou nos últimos anos, mas que ainda faltam ações para que a bicicleta se consolide ainda mais como um modal popular na cidade.
“Nos últimos anos conseguimos instituir um primeiro tratamento da bicicleta como meio de transporte. Isso aconteceu graças a varias ações conjuntas, entre elas, com campanhas educativas e de conscientização, distribuição de equipamentos de segurança para os ciclistas e obras de infraestrutura, como novas ciclovias”.
Segundo Goura, Curitiba conta hoje com cerca de 214 quilômetros em sua malha cicloviária, que inclui as vias calmas, ciclovias, ciclofaixas, ciclorrotas e passeios compartilhados. No entanto, ele e outros adeptos das bicicletas esperam uma definição das novas políticas públicas que serão adotadas pela gestão Rafael Greca (PMN).
“Conseguimos com a atual gestão que a Coordenação de Mobilidade da Setran fosse mantida. Também esperamos que as vias calmas permaneçam como estão, afinal, não podemos priorizar um fluxo imaginário dos veículos se sobrepondo a segurança dos ciclistas e pedestres. Esperamos um Plano Diretor Cicloviário, com força de lei e a expansão da malha cicloviária. Garantir conexão com a região metropolitana também é fundamental, assim como a instalação de bicicletários nos terminais de ônibus. Curitiba avançou muito, mas ainda não é o suficiente. Precisamos de um tratamento técnico e não político para a questão”, diz.
Questionada pela reportagem, a prefeitura não detalhou quais são os projetos para a malha cicloviária.