Recicladora
Máquina vai acelerar obras
Com a máquina parareciclagem de asfalto comprada ano passado, a prefeitura espera reduzir em 40% o custo de pavimentação e diminuir o prazo de execução das obras. A meta é recuperar até cinco quilômetros de ruas de antipó por mês. Com a recicladora, o asfalto velho é triturado, misturado com cimento e em 40 minutos devolvido para a mesma rua como base para a nova pavimentação. Depois de umedecido e compactado o material está pronto para receber a capa asfáltica.
Presidente do conselho fiscal do Instituto de Engenharia do Paraná, o engenheiro Cléber Homphreys não conhece detalhes da reciclagem da prefeitura, mas diz que essa é uma tendência moderna.
"É não só viável como também louvável por reaproveitar o material já existente." Assim se evita a necessidade de mais matéria-prima e de local para descartar esse material. E ainda há uma vantagem. No caso de solo arenoso, o acréscimo de cimento ao antipó resulta num material com característica de base de rodovia, ou seja, mais resistente.
Curitiba é a capital do improviso em suas vias públicas. De cada 10 quilômetros de ruas, apenas 2,8 quilômetros têm asfalto. O restante, os motoristas que transitam pelos bairros conhecem bem. Na mesma proporção, 3,6 quilômetros de ruas são revestidos de antipó (fina camada de asfalto toda ondulada de tantos remendos, prestes a deteriorar), outros 2,6 quilômetros estão se deteriorando e um quilômetro é simplesmente de terra pura. Portanto, rodar pelas ruas de Curitiba requer tempo, paciência e provisão extra de recursos para reparos no carro.
Algumas dessas vias se transformam em armadilhas nos dias de chuva, como no limite entre Curitiba e Araucária. O problema começa ainda sob o nome de Rua Nestor Pereira Habkosk, numa esquina da Avenida Araucária, e piora 300 metros adiante, ao transpor a linha limítrofe, já com nova nomenclatura: Rua dos Palmenses. O ponto mais crítico está constantemente úmido por causa de inúmeros olhos dágua, situação que se agrava quando chove. Não são poucos os carros e caminhões que quebraram nos buracos. Os reflexos são sentidos por toda a vizinhança.
Dono de uma distribuidora de materiais de construção, Joacir da Luz Santos teve de reerguer três vezes o muro do seu depósito. Quando um caminhão quebra nos buracos, ninguém sobe nem desce o declive. Em três ocasiões, carretas avançaram sobre o muro de Joacir ao manobrar para fazer o retorno. A residência logo em frente também teve semelhante prejuízo. Além dos moradores do bairro Barigui do CIC, a rua é usada por empresas instaladas na região, onde também fica a Casa de Custódia. Os caminhoneiros precisam ser bons de cálculo. É preciso parar e planejar a travessia.
Joacir e alguns vizinhos já tiveram de socorrer um caminhoneiro que passou a noite dentro do caminhão quebrado. Até a chegada do guincho, não houve quem pudesse subir ou descer. Mesmo em tempo bom há quem evite a rua, até quando é obrigado a passar por ela, caso do ônibus escolar. Os moradores cobram pavimentação. Movimento não falta. Em 15 minutos na tarde de terça-feira, a reportagem contou 37 carros, ônibus e caminhões passando no local. Entretanto, pelos critérios da Secretaria de Obras de Curitiba o asfalto vai demorar para chegar à Rua dos Palmenses.
Prioridade em xeque
Segundo o secretário Mário Yoshio Tookuni, a ordem de prioridade considera as ruas por onde passa o transporte coletivo, as ligações entre bairros, onde há comércio intenso e equipamentos públicos, como escola, creche, hospital, escola. Nesses casos deve haver asfalto, não antipó. Em última análise, as vias em melhores condições deveriam ser aquelas onde passam os ônibus, o que nem sempre acontece. As ruas Leão Mocelin e Antônio Carlos Raimundo, em Santa Felicidade, são apenas dois dos muitos exemplos que desmentem a prioridade da Secretaria de Obras.
Nessas vias, revestidas de antipó quando deveriam ter asfalto definitivo, os buracos persistem há mais de dois meses. Elas também contrariam as estatísticas da Secretaria de Obras, que diz atender aos pedidos de tapa-buracos num prazo médio de 45 a 50 dias. Já foi pior. Segundo Tookuni, a média era de 90 dias. Melhorou, segundo ele, porque mais gente foi incorporada às operações tapa-buracos. Atualmente, 250 homens divididos em 33 equipes percorrem todo santo dia as ruas da capital à caça de buracos. Nem precisam procurar muito, pois cada chuva deixa um lastro de crateras nos bairros. O trabalho consome R$ 5 milhões por mês.
Pelos cálculos da secretaria, a trégua nas chuvas permitiu que buracos fossem tapados ao longo de 582 quilômetros de ruas. São necessários três dias secos para fazer o trabalho. O antipó foi uma opção barata e de cara manutenção, como se nota de sucessivas administrações municipais. É barato, mas dura pouco três anos, quando muito. Ele não tem meio-fio, não tem base adequada para suportar peso de carro e não tem esgotamento sanitário. O objetivo de agora em diante, segundo Tookuni, é substituí-lo por pavimento definitivo. Trabalho não falta.
Curitiba tem hoje 1.300 quilômetros de ruas com asfalto definitivo, 1.650 quilômetros com antipó ainda não deteriorado, 1.200 quilômetros de antipó com a vida útil vencida há muito tempo (feita entre 15 e 35 anos atrás) e 450 quilômetros de saibro. De acordo com o secretário, nos últimos cinco anos 300 quilômetros de antipó viraram pavimento definitivo. Nesse ritmo, a capital levaria 47 anos para asfaltar todas as ruas hoje com antipó. O tempo pode ser abreviado com a nova máquina adquirida no ano passado pela prefeitura, que recicla o antipó misturando-o com cimento para servir de base para o asfalto da própria rua.
Os curitibanos precisam cobrar mais se quiserem ver sua rua asfaltada ou o buraco tapado. No caso da pavimentação, o caminho certo é criar grupos locais de pressão e participar das audiências públicas para incluir o pedido no orçamento municipal. Já para o tapa-buraco, deve-se ligar para o telefone 156 da prefeitura. "O pedido cai na mesa do gerente daquela regional", explica o secretário.
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