Todos os anos, durante o mês de janeiro, indígenas do interior do estado mulheres, em sua grande maioria vêm a Curitiba para vender artesanato. Com elas vêm também as crianças, que dormem em acampamentos improvisados, como o instalado debaixo do Viaduto do Capanema, no centro da cidade, e ficam sujeitas a situações de risco. "A região deles está saturada da venda de artesanato, então eles vêm para cá vender e ganhar um dinheiro extra. É uma questão de sobrevivência", diz o coordenador técnico regional da Fundação Nacional do Índio (Funai), João Luiz Serpa Silvério.
A região da qual fala Silvério é o Centro-Sul do estado, onde está o posto indígena de Rio das Cobras, no município de Nova Laranjeiras. A maioria dos índios é da tribo Kaingang, e as crianças, segundo ele, acabam vindo junto por conta das férias escolares. O problema é que, nas ruas, elas ficam expostas a situações de risco. "A gente tenta sensibilizá-los, falar para que eles não tragam as crianças, mas eles têm o direito de ir e vir", constata Silvério.
O assessor para assuntos fundiários do governo estadual, Hamilton Serighelli, diz que alguns projetos estão sendo estudados em Nova Laranjeiras para cuidar da segurança das crianças. Um deles é um centro de atividades para ocupá-las no contra-turno o que não resolve o problema das férias escolares. O outro é a construção de um centro cultural Kaingang na BR-277, onde o viajante poderia comprar o artesanato e comer a comida típica da tribo. Isso, segundo o assessor, potencializaria o comércio local e serviria de alternativa mais segura às barracas instaladas à beira da rodovia. "As crianças ficam correndo na rodovia, é muito perigoso". Além disso, Serighelli diz que também há um projeto sendo desenvolvido com o coordenador da Copa do Mundo no Paraná, Mário Celso Cunha, de fazer um espaço para que os índios vendam artesanato em Curitiba durante o mundial.
Outra iniciativa, esta na capital, também demora a sair do papel: a construção de uma casa de passagem para os índios. "O governo do estado nos concedeu um terreno na Vila Izabel para construir a Casa de Saúde Indígena, mas quando a Funasa [Fundação Nacional de Saúde] assumiu a saúde do índio, perdemos o direito do terreno na Funai", explica Silvério, que acrescentou que a Fundação está tentando ajustar o termo de concessão do terreno com a Assembleia Legislativa, mudando a descrição para a casa de passagem. "Enquanto isso não sai, não podemos fazer nada para ajudar os índios que vem para cá, até porque não temos recurso", justifica.
A Fundação de Ação Social (FAS) da prefeitura, por sua vez, informou que está discutindo ações integradas com o Ministério Público do estado e outras instituições, mas que a responsabilidade de resolver o problema é da Funai.