Pesquisas dão pistas de como encontrar o bem-estar
Não há receita pronta, mas pesquisadores dão pistas do que ouvem nos consultórios e vêem nas pesquisas. Eis algumas: a felicidade não está ligada a qualquer meio externo e sim ao estado de espírito. Dedique grande parte do tempo à família e amigos, estimulando e desfrutando dessas relações. Expresse gratidão pelo que tem. Faça voluntariado, ajude amigos, colegas de trabalho e estranhos. Seja otimista ao imaginar o futuro. Saboreie a vida, prazeres e tente viver o momento presente. Valorize as pequenas coisas e não só os grandes acontecimentos. Faça exercício físico. Encontre seu lado espiritual ou religioso.
O Butão, país da Ásia entre a Índia e o Tibet, criou uma visão alternativa para medir as riquezas de um país na década de 1970. Em vez de somente medir as riquezas materiais, passou a medir também a felicidade, o bem-estar da população e o desenvolvimento sustentável. Criou então o índice Felicidade Interna Bruta (FIB), pois o Produto Interno Bruto (PIB) não dava mais conta desses conceitos. A conta é simples: quando um país vende seus recursos naturais, por exemplo, o resultado final é tido como crescimento, mas os danos ambientais e sociais podem ser irreversíveis.
O cálculo do FIB inclui o padrão de vida econômica, educação de qualidade, saúde, expectativa de vida e longevidade comunitária, proteção ambiental, acesso à cultura, bons critérios de governança, gerenciamento equilibrado e bem-estar psicológico. Para o economista da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP) Ladislau Dowbor, a principal defasagem do PIB é não contabilizar os estoques de recursos naturais. "Se um país exporta petróleo, corta suas florestas, na verdade está reduzindo o estoque de riquezas", afirma.
As Nações Unidas adotaram a metodologia do Butão, e Dowbor não vê nada de esotérico ou utópico nesse índice. "É feita uma pesquisa de percepção com a população que identifica quais os eixos mais importantes para sua felicidade. Isso se torna um referencial para políticas públicas". A professora Maria Salette Mayer de Aquino, da Universidade Estadual de Campinas, acredita que a mudança é necessária para garantir a felicidade e a continuação da vida. "Todos estão cansados de saber que se mantivermos nosso atual padrão de consumo serão necessários cinco planetas", diz. Para Dowbor, é preciso mudar o paradigma do que significa felicidade e lucro. "Precisamos redescobrir coisas essenciais para a vida, como ter amigos, conhecer o bairro e valorizar a família".
A antropóloga Susan Andrews lembra que o PIB dos Estados Unidos triplicou desde 1950, mas hoje uma em quatro pessoas é infeliz ou deprimida, o número de divórcios duplicou, o de crimes violentos quadruplicou e a população carcerária está cinco vezes maior. "Os americanos aumentaram sua riqueza, mas no processo perderam algo muito mais precioso seu sentido de comunidade", explica. Na opinião de Susan, o FIB pode ser facilmente aplicado no Brasil. Os butaneses, com ajuda de economistas da Europa, EUA e Canadá, desenvolveram indicadores quantitativos sofisticados para medir a felicidade. Eles se baseiam em pesquisas psicológicas sobre fatores que aumentam o bem- estar subjetivo.
O Butão tinha uma política isolacionista até rei Jigme Singye Wangchuck abrir as fronteiras na década de 1980. Em 2006 ele abdicou ao trono em favor do filho e implantou a democracia no país. Antes, já havia revolucionado com a idéia de criar o índice Felicidade Interna Bruta (FIB). Hoje o país é visto como exemplo a ser seguido. Mais de 70% do território tem cobertura vegetal original e há investimentos na área de turismo ecológico. Em 1982, a expectativa de vida era de 43 anos, hoje é 65. A mortalidade infantil caiu de 163 por mil nascidos vivos para 52 por mil. Apesar disso, há problemas: a televisão só chegou ao país em 1999 e há conflitos étnicos com os vizinhos nepaleses. (PC)
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Interatividade
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