Bombeiros salvaram o pai e dois filhos da enchurrada repentina no Rio Catira, em Morretes, domingo.| Foto: Facebook Corpo de Bombeiros/Reprodução

O resgate de três pessoas – sendo duas crianças – no fim da tarde deste domingo (5) em um rio em Morretes, no Litoral do Paraná, reacendeu o alerta para ocorrências do fenômeno cabeça d’água - aumento muito rápido do nível dos rios causado por chuvas nas cabeceiras ou nos trechos mais altos do leito - , que, desde o começou do ano, já causou uma morte no Paraná.

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Vídeo divulgado pelo Corpo de Bombeiros mostra o momento em que um menino de 12 anos e uma menina de 6 anos são retirados de uma pedra em que ficaram ilhados após serem surpreendidos pela cheia abrupta do Rio Mãe Catira. Eles estavam com o pai, de 41 anos. Por sorte, ninguém ficou ferido. Na mesma situação, um casal foi arrastado pela correnteza e socorrido em um ponto mais à frente pelas próprias pessoas que estavam ao redor do rio.

ASSISTA AO VÍDEO DA FAMÍLIA SENDO RESGATADA NO RIO CATIRA

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A fotógrafa Diane Paes, de Araucária, na região metropolitana de Curitiba, presenciou a situação. Ela conta que voltava de um passeio de boia cross no Rio Nhundiaquara quando resolveu parar nas proximidades do Rio Mãe Catira para lanchar.

“Muita gente julgou o pai, ficou se perguntando o que ele estava fazendo ali. Mas ele estava em uma região de curva e foi tudo muito de surpresa. Ele não estava esperando. Ninguém estava, até porque o rio estava muito raso e tinha bastante pedra. Para se ter uma ideia as crianças estavam brincando em pocinhas”, comentou a fotógrafa, que foi surpreendida pelos gritos das crianças. “Vi quanto o menino conseguiu ir para a pedra. O pai conseguiu ir para a mesma pedra. Ele agarrou a menina e foi. Ela chorava muito”, relembra Diane.

Segundo o sargento Cristiano Luis Meduna, que participou do resgate, bombeiros que patrulham a região começaram a emitir alertas de possibilidade de cabeça d’água desde as 16h30, quando foram avisados sobre as condições do tempo. Também foram deslocados para o local uma equipe do Samu e outra de Bombeiros para atender a ocorrência.

“É um resgate difícil tanto para a segurança das vítimas como para a segurança dos próprios bombeiros. Tivemos que preparar um cenário dentro do protocolo e com todos os equipamentos disponíveis para operações em águas rápidas”, comentou o sargento, para quem a parte mais delicada do trabalho foi convencer a menina de seis anos a confiar que a travessia montada por eles era segura. “Ela realmente ficou mais assustada e não queria largar o pai. Apesar disso, a gente conseguiu manter uma certa tranquilidade e fazer com que o resgate fosse tranquilo”.

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Chuva em excesso aumenta casos em 2017

Os casos de cabeça d’água aumentaram no Litoral do Paraná nesta temporada. Somente em Morretes, o Corpo de Bombeiros registrou seis resgates e um óbito, contra cinco resgates e três óbitos na temporada passada. Os dados não levam em conta o resgate feito neste domingo e também não especificam se as operações são decorrentes necessariamente de cabeças d’água, mas sabe-se que o óbito – há duas semanas – foi causado pelo fenômeno.

“Esse é um fenômeno normal de uma região serrana. Acontece no mundo inteiro. Porém, esse ano está mais corriqueiro, sendo que temos vários registros durante a semana aqui no Litoral do Paraná”, relata o tenente Murilo Oliveira Santos.

Caracterizado pelo aumento súbito do volume, velocidade e nível do rio, as cabeças d’água são provocadas por fortes chuvas – principalmente acima das montanhas. E o alto volume de precipitação ajuda a explicar a incidência constante do fenômeno.

Conforme o Simepar, as chuvas têm sido agressivas nesse verão, com grande concentração em curto espaço de tempo. A média, que é de 350 mm nesta época, foi superada em janeiro tanto em Antonina como em Guaratuba e Paranaguá, que atingiram, respectivamente, 463 mm, 400 mm e 477 mm.

“A cabeça d’água pode demorar algumas horas para atingir os rios, mas também pode demorar minutos ou segundos”, alerta o capitão Ícaro Gabriel Greinert .

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Fique atento para não ser vítima da cabeça d´água

Chuva é risco
“Se a pessoa perceber que vai começar a chover, tem que imediatamente sair do rio. Se ela perceber nas montanhas o tempo está fechando, já há muitas nuvens, também tem que sair”, pondera o capitão Ícaro Gabriel Greinert

Cor, velocidade e barulho
O tenente Murilo Oliveira Santos aconselha a ficar atento a alguns sinais que vêm do próprio rio. Segundo ele, embora muitas vezes não dê tempo, tão logo for percebido um aumento súbito na quantidade de água e na velocidade do rio a melhor alternativa é correr para fora da água. “Quando a cabeça d’água está chegando, realmente você consegue escutar um barulho maior, um estrondo. Muitas vezes a correnteza que desce vem carregando detritos”.

Use equipamentos de segurança
Mesmo com a água rasa, a velha dica continua valendo. Usar equipamentos de segurança como coletes e capacetes são essenciais para qualquer atividade dentro da água. Ainda mais para crianças, que nunca devem estar desacompanhadas. Mas atenção: brinquedos infláveis, como boias, não são equipamentos de segurança.

Sinalização e conversa
Ao longo dos rios do Litoral, vários pontos têm sinalização que alertam para o fenômeno. Mas pontos mais afastados, onde o fluxo de turistas é menor, podem não ter placas. Por isso, a dica é evitar esses lugares. Deu vontade de aproveitar a água mesmo assim? Converse com quem trabalha ou mora ao redor. Moradores de entorno de rios geralmente são orientados a informar sobre a possibilidade de correnteza forte.

Fui surpreendido. E agora?
Se perceber a chegada de uma cabeça d’água, o ideal é chegar na margem antes que a correnteza fique forte demais. Mas se não deu tempo, procure uma pedra em que possa se ancorar. “O risco nesse não é a profundidade, mas a velocidade da água. Portanto, não tente nadar”, alerta o capitão Ícaro Gabriel Greinert.

Resgate da família no Rio Catira