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O aquecimento é global, mas as iniciativas para combatê-lo passam também por ações locais. É claro que as grandes nações poluidoras precisam de atitudes de grande escala. O cidadão comum e a cidadezinha do interior, no entanto, também têm de dar sua parcela para resolver o problema, que é cada vez mais discutido em todo o mundo. O ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, virou o símbolo mundial de enfrentamento da tragédia anunciada – a ponto de o documentário Uma Verdade Inconveniente, que é uma verdadeira aula de Gore sobre a questão, ter levado o Oscar deste ano.

O deputado estadual Luiz Eduardo Cheida (PMDB), ex-secretário estadual do Meio Ambiente, faz as vezes de Al Gore local, com quem diz se identificar. Militante de questões ambientais há 32 anos, ele assumiu no dia 7 de março a presidência da Comissão de Ecologia e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa. E também bate na tecla de que as pessoas ainda não perceberam o tamanho da encrenca: o aquecimento global pode, em 50 anos, provocar mudanças climáticas comparáveis às ocorridas em centenas de anos no passado e complicar de vez a vida humana na Terra. Cheida é cético. Acredita que as pessoas só irão aderir às causas ambientais depois de um "choque de realidade", quando enchentes e vendavais baterem à sua porta. Confira os principais trechos da entrevista.

Como o senhor vê o problema do aquecimento global?

Indiscutivelmente essa é a prioridade sobre todas as outras questões. Não existe nada na questão ambiental que tenha tantas variáveis. O clima depende da luz do Sol, da temperatura, da salinidade, da pressão, da velocidade dos ventos, da rotação da Terra, da translação, da inclinação do planeta. Depende de tantas coisas que é impossível o homem corrigir. O clima é uma equação de dezenas de variáveis. E por ele afetar tanto a Terra, a vida como um todo, deve ser prioridade.

Que políticas públicas podem ser e estão sendo adotadas para que o Paraná esteja preparado para combater esse problema?

Não há uma receita. É um conjunto de ações que vai desde a questão dos costumes de cada pessoa até o cumprimento da lei que obriga plantar matas ciliares que protegem os rios. Também é fundamental questionar o modelo agrícola do Paraná. Ambientalmente, se queremos um Paraná para sempre, temos de mexer no modelo agrícola. É preciso ainda fazer com que a sociedade participe das discussões. O Fórum Paranaense de Mudanças Climáticas precisa se capilarizar, ir desde as pequenas cidades até as grandes metrópoles do Paraná. Outra questão é neutralizar as emissões de gases estufa. Quanto mais as pessoas economizarem (luz, papel, combustível), menor será a emissão. Estou fazendo um levantamento para saber quanto nós precisamos plantar de árvores. Não que isso signifique uma baita contribuição, mas os grandes problemas globais do clima nada mais são do que a soma dos pequenos problemas locais.

Que ações individuais podem contribuir para minimizar o impacto ambiental?

O Paraná produz 20 mil toneladas de lixo todos os dias que são vertidas para os aterros. Os aterros emitem gás metano, que é 22 vezes mais agressivo que o gás carbônico para o efeito estufa. Se nós fizermos a simples reciclagem do lixo e vertermos menos para o aterro, vamos emitir menos metano. Pode se fazer isso com uma lei que obrigue o cidadão a reciclar. A prefeitura não recolhe o seu lixo se você não reciclar. Essa é uma mudança de costume que pode vir por meio da lei.

O senhor falou do Fórum para atrair a participação da comunidade...

Para corresponsabilizar as pessoas. Esse nosso papo pode ficar muito no que é que o governo vai fazer, o que a Assembléia vai fazer. A resolução da questão climática só ocorrerá por meio de um esforço coletivo. É um exercício conjunto. Não adianta eu aqui querer fazer uma bela lei ou o governador querer editar um belo decreto. Isso tudo ajuda, mas quem realmente vai modificar é um exercício coletivo. A pessoa mais importante nisso tudo é o cidadão.

Mas o Fórum foi criado em novembro de 2005 e até hoje foram apenas duas reuniões. A que se deve essa falta de participação?

São pouquíssimas pessoas que acham isso importante. Por isso não funciona.

Qual é a atividade paranaense que mais emite mais gases estufa hoje?

Não sei quantificar. Mas há duas importantes: a queima da cana e os reservatórios hidroelétricos. Depois acho que vêm os lixões e a frota de veículos.

Quais as soluções para esses problemas?

A queima da cana é um dilema. Existe solução que é o corte mecânico da cana, mas o desemprego seria na ordem de 70 mil pessoas só no Paraná. Ainda não há uma resposta para isso. Nós temos uma ampliação da área plantada e uma tendência de que isso cresça. O ideal seria que essas novas lavouras usassem o corte mecânico. A solução a médio e longo prazos seria a mecanização. No caso das usinas hidroelétricas, o Paraná está tão bem servido que não precisaria de barrageamento de mais nenhum rio. Os nossos rios interiores mais importantes (Tibagi, Ivaí, Piquiri) não poderiam ser barrageados. Não precisamos disso. A energia eólica não é muito viável para nós, mas a energia solar é. O lixo, é preciso reciclar.

Existe algum estudo no Paraná para minimizar os danos do aquecimento global?

Não. Espero que a gente possa fazer isso e chegar a um mapeamento correto.

Quando as pessoas vão se conscientizar sobre o problema do aquecimento global?

É preciso um choque de realidade para acordar. Não quer dizer que todo mundo que sofre uma catástrofe natural adquire consciência. Mas não é a questão da consciência, é a questão da ação. Uma coisa é você ter a consciência, outra é transformá-la em ação. Isso é difícil. Só um choque de realidade para fazer isso. O trabalho da imprensa e da sociedade pode fazer as pessos acordarem. Ora, nós queremos a ciência, a tecnologia e o progresso, mas não a qualquer custo. Nós queremos ter o mundo para sempre. Esse é um dilema em que a humanidade se encontra.

Luiz Eduardo Cheida, deputado estadual pelo PMDB e presidente da Comissão de Ecologia e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa.

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