Nos inícios de 2005, uma professora perguntou aos alunos do sétimo ano quem gostaria de falar sobre a Escola Municipal Papa João XXIII, no bairro Portão. A ocasião pedia. O “Papa” – primeiro colégio da rede municipal, fundado em 1963 – figurava em quarto lugar na lista das dez melhores escolas públicas brasileiras. O ranking foi feito pelo Ministério da Educação, em tempos já pré-históricos dos sistemas de avaliação de ensino. Pois Ester Pina Bondezan, 13 anos, se ofereceu.
“Acho que aquela iniciativa mexeu um pouco com a minha vida”, conta a hoje estudante de Sistemas de Informação na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). A foto de Ester saiu na capa da Gazeta do Povo – com a menina fazendo pose para mostrar o emblema de sua instituição. Era um momento afirmativo, e não é demais dizer que a estudante o carregou para a vida.
Ela continua se oferecendo para tomar a palavra, em especial na 1.ª Igreja Batista Regular de Curitiba, no Portão. Ali seu pai é pastor. Ali Ester lidera um grupo de jovens. É boa falante. Tem ideias claras. Mostra-se uma representante castiça dos evangélicos jovens, que chegaram à faculdade, circulam na classe média e sabem que precisam ser firmes naquilo que pensam. “Na universidade é bem difícil, claro. Mas transito bem”, diz a jovem dada a fazer amigos e a manifestar sua opinião – sem que para isso seja preciso romper com quem pensa diferente.
Foi justo a escola pública seu laboratório de convívio com a diferença. No “Papa” teve proximidade com meninos e meninas de todas as classes sociais e religiões. No ensino médio – como bolsista do renomado Colégio Martinus – conheceu “outras paisagens”, mas logo voltou a seu ninho. Antes de ingressar na faculdade, trabalhou cinco meses no Call center da Brasil Telecom. Causava impressão ver ao telefone aquela jovem com tanta formação. “Deixei minha timidez de lado”, lembra. Depois veio o ensino superior – ali lida com as dissonâncias de um ambiente laico, tenso, politizado.
A ética que rege Ester é protestante – “cada pessoa pode mudar o lugar onde está”, diz. Professa que as mazelas sociais do Brasil vão se diluir a médio e longo prazo, assim que as pessoas mudarem suas condutas. Fora do esforço pessoal, diz, vê pouca salvação. Às vezes sua posição causa estranheza. Vive cercada de colegas que acreditam nos pecados sociais. Ela segue a seu modo. Diz o que pensa, como naquele dia de 2005 em que se voluntariou a falar de sua escola. E agora? “Estou na fase de virar gente grande”, comenta – a vida profissional se aproxima, planeja o casamento e algumas poucas ambições. Seu tipo é pé no chão.