Em cinco anos, o número de casamentos no Paraná cresceu 21%. Ao todo, 287,7 mil casais disseram “sim”, perante um juiz de paz. Desde 2010, o número de uniões civis no estado só aumenta. A contar pelo primeiro semestre, 2015 deve confirmar a tendência, indicando que os especialistas estão certos: o aumento dos casórios está mais relacionado a aspectos culturais do que econômicos.
INFOGRÁFICO: Acompanhe o crescimento no número de casamentos no estado desde 2010
Por paradoxal que seja, a autonomia conquistada pelas mulheres nas últimas dos anos 1960 para cá pode ter sido um fator propulsor do matrimônio. É que a noção de casamento enquanto escolha, antes restrita a algumas “mulheres libertárias”, aos poucos passa a prevalecer, o que encoraja as mulheres a ver o casamento como uma escolha de companheiro de vida, e não um destino inevitável, explica a antropóloga da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mirian Goldenberg, estudiosa da conjugalidade.
Divórcio ‘fácil’ pesa a favor dos casórios
Leia a matéria completa“Uma grande mudança é que hoje as mulheres trabalham, estudam, querem ser independentes. Você pode querer ter só um parceiro sexual, mas não precisa. Ela é livre para escolher”, explica Goldenberg, que é autora da tese “Toda mulher é meio Leila Diniz”.
Diretor de registro civil da Associação (Anoreg), o cartorário Ricardo Leão aponta que a “segurança jurídica” pesa a favor do casamento. “É uma instituição já madura no meio jurídico. Tem todas as regras já consolidadas no código civil, regime de bens, alteração de nome. As pessoas procuram ser felizes, e dentro do casamento elas podem ter isso e ainda definir as regras dos regimes patrimoniais”.
É o que incentiva casais já antigos a lavrar a união. “Nos anos 1990 muitas pessoas utilizavam a união estável informal, sem formalizar nenhum documento. Nós temos visto essas pessoas retornarem aos cartórios para reconhecer estas uniões. Muitos já adquiriram um bem, um carro, e estão preocupados com a sucessão, inclusive previdenciária”, relata Leão.
O boom do mercado imobiliário seria um incentivo extra. Em uma década, o crédito do setor passou de R$ 3 bilhões para R$ 109 bilhões, entre 2004 e 2013, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Uma boa fatia foi para financiar a “casa própria”– modalidade utilizada no programa Minha Casa Minha Vida, por exemplo. É aí que entra o casal, que compõe renda para liberar o financiamento.
Mas os fatores materiais são antes uma consequência do que a causa do casamento, insiste Goldenberg. “As pessoas querem se casar para dizer em meio a tanta escolha, tanta liberdade, eu quero você. Muito mais do que comprar apartamento. Isso são projetos que você faz a partir de um compromisso anterior. O ato de se comprometer é muito mais romântico”.
Os casamentos ocorrem por motivos diversos. Um deles é o “recasamento”, de quem já teve um primeiro parceiro, a união de quem já vive junto há muito tempo, mas agora “tem certeza que esta é a pessoa certa”. Para a antropóloga, a tendência é esta: “as escolhas serem cada vez maiores, e aí muda o significado de você viver com uma pessoa, é porque você realmente quer curtir uma parceria boa, não é em função de interesses materiais”.
Felizes para sempre na segunda chance
A empresária Nenni Bazzani e o publicitário Rodolfo Schneider se conheceram em algum ponto de 2006, em uma dessas reuniões comerciais – as empresas em que ambos trabalhavam eram parceiras entre si. Coquetel aqui, reunião acolá, nunca passaram da relação comercial. Ela já estava divorciada do primeiro marido. Ele, separado e com dois filhos.
Mas pergunte do dia em que se encontraram num bar, em 2010, e eles te contam nos mínimos detalhes, das frases trocadas à roupa que usavam no dia. A troca de olhares foi como numa propaganda. O mundo girou em câmera lenta e uma luz de alerta acendeu, como quem diz “este é o cara”.
Deste primeiro encontro veio o segundo, depois o pedido de namoro, e em dez dias Nenni já era apresentada como namorada à família de Rodolfo, “porque eu já sabia que queria passar o resto da minha vida com ela.”
Em um ano estavam casados. A decisão de comprar um apartamento juntos foi o fator desencadeador. “Se a gente vai morar junto, por que não casar?” Mas não foi nada pragmático; pelo contrário: foi por amor. “Para mim foi muito importante oficializar aquilo tudo, também pela sensação de que era para o resto da vida”, conta Nenni.
Rodolfo confessa: “Nunca achei que fosse casar”. No fim das contas, o casal – embora tenha aberto mão da igreja – optou por uma cerimônia tradicional, com votos, troca de alianças, vestido de noiva e tudo. Não se arrependem, sentem que a cerimônia e troca de papéis trouxe um marco que o simples “morar junto” não seria capaz de dar conta.
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