Ano passado, 23% dos voos previstos nos aeroportos brasileiros sofreram atrasos ou foram cancelados. O número, divulgado semana passada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), é parte do índice de eficiência operacional (IEO), porcentual que calcula as chances de o passageiro embarcar ou aterrissar sem problemas no país. Pela primeira vez, desde 2007, o IEO sofreu queda, passando de 80% em 2009 para 77% em 2010. Por outro lado, a média de passageiros embarcando e aterrissando nos aeroportos aumentou 40% no mesmo período. Para especialistas e autoridades do setor, a qualidade da prestação de serviços, apesar da baixa pequena no último ano, tende a piorar.
A previsão leva em conta uma equação difícil de ser balanceada: a evolução da demanda de passageiros contra os investimentos em infraestrutura. Em 2007, uma média de 9,2 milhões de pessoas por mês viajou de avião no país, número que chegou a 12,9 milhões em 2010. Considerando os primeiros cinco meses deste ano, a média é ainda maior, com 14,3 milhões de passageiros passando pelos aeroportos brasileiros a cada mês (veja infográfico). Enquanto isso, a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) afirma ter investido R$ 1,1 bilhão em obras desde 2006, ano do caos aéreo.
Valor insuficiente, segundo o presidente da Associação Nacional em Defesa dos Direitos dos Passageiros do Transporte Aéreo (Andep), Cláudio Candiota Filho. "Hoje a desculpa mais usada para os problemas nos aeroportos é que houve um grande crescimento da demanda. A questão não é essa. A infraestrutura no transporte aéreo precisa ser planejada pensando em décadas à frente. Eu preciso projetar a demanda que vou ter daqui a dez anos se quiser manter minha estrutura eficaz e compatível. E esse planejamento não ocorreu no passado recente", avalia.
Os problemas de estrutura não se referem somente aos terminais de passageiros esgotados, mas também à falta de espaço para as aeronaves ficarem estacionadas. O gargalo cria o chamado sequenciamento, em que os aviões têm de aguardar no chão ou no espaço aéreo até serem autorizados a decolar ou aterrissar, gerando atrasos nos voos.
"Boa estrutura é aquela que tem folga de capacidade para operar. E, hoje, há uma correlação direta entre o aumento da demanda e a não aptidão da capacidade operacional dos aeroportos, seja pelas poucas pistas disponíveis, terminais pequenos ou falta de equipamentos modernos de navegação", analisa o doutor em Engenharia de Transportes e ex-secretário de Transportes do Paraná Mario Stamm Júnior.
Atrasos
No último ano, o índice de pontualidade dos voos brasileiros sofreu queda de 4 pontos porcentuais, passando de 87% em 2009 para 83% em 2010. O índice medido pela Anac aponta o porcentual de etapas de voo previstas que partiram ou aterrissaram pontualmente. Sete dos dez maiores aeroportos, porém, incluindo o Afonso Pena, na Grande Curitiba, apresentaram índice abaixo da média nacional, considerando a atuação das principais companhias aéreas.
O Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, registrou um índice de pontualidade de 76%. Para o ex-comandante e consultor na área de aviação Arnaldo Macedo Caron, os transtornos causados pelos constantes atrasos aos passageiros se tornam ainda maiores com as informações desencontradas repassadas pelas companhias aéreas. "O que incomoda mais o passageiro é a incerteza. É preferível dizer de uma vez que o voo vai atrasar duas horas ou que será cancelado. Nesses casos, falta organização das companhias", critica.
Privatização é esperança de dias melhores
A melhoria dos serviços nos aeroportos brasileiros deve passar pela concessão a empresas privadas. A medida foi anunciada em abril pela presidente Dilma Rousseff, inicialmente para os aeroportos de Guarulhos (SP), Viracopos (SP) e Brasília. "A tendência é que o mercado aéreo cresça ainda mais, principalmente para o transporte de cargas, devido às dificuldades na locomoção terrestre. E, como empresa pública, a Infraero não terá capacidade de investimentos e gestão", diz o coordenador do Conselho Temático de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Paulo Ceschin. "O que se precisa é de investimentos rápidos, feitos pelo setor privado ou pelo governo. O reforço na infraestrutura está dentro do âmbito do governo, mas, naturalmente, pode e deve contar com a iniciativa privada", completa Stamm.
Segundo o governo, os editais de concessão devem ficar prontos em dezembro. Investidores privados terão participação de até 51% nas Sociedades de Propósito Específico (SPEs), modelo adotado para os terminais. A Infraero ficará com a fatia restante.
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