Extração de madeira e produção de carvão teve maior número de trabalhadores resgatados| Foto: Henry Milléo/Gazeta do Povo

Futuro

Proibição da lista suja prejudica a sociedade, diz sindicato

No fim de janeiro, uma liminar do ministro Ricardo Lewandowski em favor da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias impediu a publicação do nome de empresas e pessoas físicas que submetem funcionários ao regime de escravidão, a chamada lista suja.

Para Rosa Jorge, presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho, essa é uma decisão que prejudica a sociedade e tem de ser revertida. "Esse foi um dos principais avanços que obtivemos no combate ao trabalho análogo à escravidão. Não podemos retroceder", disse.

Sem condições

Além disso, Rosa afirma que as condições de exercer a fiscalização também têm diminuído. "As operações estão apresentando resultado menores tanto na libertação de adultos em condições análogas a de escravidão quanto na descoberta do trabalho infantil", afirma.

Na avaliação de Alexandre Lyra, chefe da Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo do Ministério do Trabalho, a diferença se deve a mudanças na estratégia de investigação e às informações que se originam de denúncias espontâneas. "Boa parte das ações fiscalizatórias é baseada nas informações que a população fornece. Além disso, experimentamos novas abordagens de inteligência fiscal", afirmou.

CARREGANDO :)

Três trabalhadores passaram um período de quatro meses em 2014 dividindo uma barraca de lona mantida em pé por pedaços de pau. Sem luz e colchões, o grupo preparava seus alimentos em uma fogueira, buscava água de uma nascente, não tinha banheiro e estava a 25 quilômetros do núcleo urbano mais próximo, situado na cidade de Mangueirinha, no interior do Estado.

Esse é um exemplo de como vivem os trabalhadores que são resgatados de condições análogas à escravidão. Na comparação entre 2013 e 2014, esse número diminuiu de 61 para 14 trabalhadores no Paraná, segundo um levantamento divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em 28 de janeiro, dia nacional de combate ao trabalho escravo.

Publicidade

Madeira e carvão

Do total de resgatados no Paraná, 13 saíram de operações comandadas pelo auditor fiscal Maurício Pavesi na área rural, especialmente em atividades ligadas à extração de madeira e à produção de carvão vegetal. Além disso, foram registradas pelo Ministério Público 75 denúncias de trabalho análogo à escravidão em 2014, contra 63 no ano anterior. Desse total, 25 resultaram em termo de ajustamento de conduta, em que o empregador é obrigado a indenizar o trabalhador.

Para Pavesi, no entanto, a quantidade de resgatados poderia ser bem maior, assim como o número de operações, caso o efetivo de auditores aumentasse. "O número reduzido de auditores fiscais do trabalho compromete a fiscalização. Várias operações que realizamos foram frustradas porque os infratores desmontaram a atividade antes de chegarmos", afirma.

Rixa atrapalha

O procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho, Gláucio Araújo de Oliveira, afirma, ainda, que rixas entre o superintendente regional do Trabalho, Neivo Beraldin, e os órgãos parceiros estão impedindo resultados melhores. "Nossa relação deveria ser próxima devido à interdependência entre a fiscalização e o Judiciário. Mas não converso com ele há mais de um ano", diz.

Publicidade

O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait), por exemplo, já encaminhou ao Ministério do Trabalho e Emprego dois pedidos de exoneração de Beraldin, alegando interferências ilegais e indevidas. Procurada, a Superintendência Regional do Trabalho não comentou o assunto.