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Infância

Cai o número de crianças nas ruas

Enquanto esperam para voltar para casa, meninos  da capital recebem atendimento no programa Criança Quer Futuro | Henry Milléo / Gazeta do Povo
Enquanto esperam para voltar para casa, meninos da capital recebem atendimento no programa Criança Quer Futuro (Foto: Henry Milléo / Gazeta do Povo)

Dados da prefeitura municipal de Curitiba mostram que o número de crianças e adolescentes vivendo nas ruas da capital está diminuindo. Entre 2010 e 2011, a quantidade de chamados ao serviço 156 pedindo o resgate de meninos e meninas em vias públicas passou de 763 para 592, uma queda de 22%. Os números se referem aos nove primeiros meses de cada ano. Em 2010, o município iniciou um trabalho de reestruturação do programa Criança Quer Futuro, fortalecendo o trabalho em rede, o que pode ser uma das explicações para a redução.

O fenômeno das crianças em situação de rua é complexo e, na maior parte dos casos, multifatorial. Meninos e meninas fogem de casa em função da violência doméstica, do uso de drogas – e quase sempre a pobreza é o pano de fundo. Por isso o atendimento dessa população é desafiador e exige políticas públicas integradas em diversos setores, como saúde, educação e geração de renda.

Em Curitiba, o principal programa na área é o Criança Quer Futuro. Funcionários fazem abordagens com os meninos e as meninas nas ruas para levá-los a um espaço de convivência no bairro Rebouças. Lá eles recebem os primeiros atendimentos e a equipe aciona uma rede de conselheiros tutelares e profissionais dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) para a identificação dos familiares.

Com a criação de equipamentos sociais como o Cras, o atendimento à população vulnerável se tornou mais eficaz. Houve o entendimento de que não adiantava tirar a criança da rua se o contexto familiar não for alvo de políticas públicas. Quando há impossibilidade de retorno para os pais, os garotos e garotas resgatados em Curitiba são encaminhados para o acolhimento institucional em organizações não governamentais parceiras do município.

Esse trabalho em rede permite que, por exemplo, os pais recebam atendimento para tratar a dependência química ou sejam encaminhados para programas de habitação social e geração de renda. Houve também a criação da "Rede Soli­dária do Morador de Rua", em que cada secretaria municipal oferece um tipo de serviço para essa população.

Serviços

Coordenadora do Resgate Social de Curitiba, Luciana Kusman explica que o espaço do Criança Quer Futuro abriga um centro de convivência e uma casa de passagem, onde os meninos dormem até que a situação seja resolvida. As meninas são atendidas em outro local, por meio de um convênio com uma ONG. Enquanto estão lá, as crianças e os adolescentes têm oficinas e atividades, como karatê, prática de esportes e informática.

O número de pessoas atendidas varia diariamente. Embora a capacidade do local seja de até 40 vagas, o recorde de 2011 foi 27. Na última terça-feira havia apenas quatro garotos no local. Há uma equipe de 24 educadores que se revezam no trabalho.

Quando os garotos precisam de atendimento médico, recebem prioridade em uma unidade de saúde instalada dentro da sede da Fundação de Ação Social, no centro de Curitiba. Há ainda um Centro de Atenção Psicossocial (Caps) e o ambulatório Cara Limpa, para o tratamento de dependência química entre jovens. "Nosso maior desafio é conseguir que a população compreenda que precisamos da ajuda de todos para avançar", diz Sueli Cortiano, gestora do Criança Quer Futuro.

Vitórias e dissabores na Quatro Pinheiros

A Chácara Meninos de 4 Pinheiros é a única organização não governamental de Curitiba e região que trabalha especificamente com crianças em situação de rua. O trabalho começou ainda na década de 80, quando o ex-frei carmelita Fernando de Gois iniciou um trabalho com esta população, na antiga favela Vila Lindoia.

Para compreender melhor a vida dos meninos e meninas que ajudava, Gois foi morar na rua e trabalhou como catador de materiais recicláveis. Em uma roda de conversa com os garotos, eles disseram que gostariam de morar em uma chácara para ter contato com animais e ficar longe das drogas. O ex-frei foi em busca de doações e conseguiu uma área em Mandirituba, onde até hoje realiza o trabalho com os meninos, que o chamam de pai.

Entre as vitórias do trabalho há jovens que conseguiram fazer curso superior e constituir uma família com base em sentimentos como amor e respeito. Mas há também muitas histórias tristes, de jovens que não conseguiram lidar com as violações sofridas durante a vida nas ruas. "A maior dificuldade é o trabalho com a família. O grande desejo dos meninos não é um projeto bonito, mas o retorno familiar. Em função da falta de políticas públicas, eles se desenvolvem aqui e a família vai no sentido oposto", diz Gois.

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