No primeiro dia de pagamento do Bolsa Família em junho, um mês após os boatos que causaram tumulto em 13 estados, a Caixa Econômica Federal promoveu um reforço de equipe e de dinheiro para prevenir eventuais confusões nas agências.
Na Bahia, estado com o maior número de famílias veiculadas ao programa, dois gerentes foram escalados por agência para dar orientações às famílias do programa.Hoje foram liberados os saques aos beneficiários com o número do cartão terminado em "1".
Amanhã será a vez daqueles com o final "2", e assim por diante, até o dia 28, àqueles com cartão de final "0".A orientação de hoje, vinda de Brasília, foi para que os funcionários das agências tivessem uma "atenção especial" ao Bolsa Família.
Em Salvador, era isso o que acontecia no final da manhã na agência da Caixa em Cajazeiras, um dos bairros mais populares da cidade.
Apesar das filas, o atendimento era normal, segundo a dona de casa Tatiana Sampaio, 31, que sacou seus R$ 178 "sem problema".
Já quem tentou antecipar o valor, como aconteceu em maio, quando houve os tumultos, não conseguiu. "Vim em vão", disse a aposentada Josenadiva da Silva, cujo cartão termina em "7".
Ela apostava em um "novo erro da Caixa", mas, segundo o calendário oficial, somente poderá sacar o benefício no próximo dia 25.Em Curitiba, o clima era de tranquilidade nas agências visitadas pela reportagem. Na tela dos caixas, uma mensagem para evitar novos boatos: "O Bolsa Família continua obedecendo o mesmo calendário de pagamentos".
Em maio, entre os boatos que causaram tumultos e quebra-quebra em agência e lotéricas estavam o possível fim do programa e o pagamento de um benefício extra relativo ao Dia das Mães.
Investigação
Após depoimentos de mais de 200 pessoas, o inquérito da Polícia Federal que investiga os boatos sobre o Bolsa Família não conseguiu comprovar ação orquestrada até agora. A apuração deve terminar até o final deste mês.
Foram ouvidos técnicos e beneficiários do programa, que relataram várias versões.Segundo investigadores consultados pela Folha de S.Paulo, até sexta-feira, a PF havia encontrado apenas um ponto em comum para o início dos saques: a antecipação do pagamento pela Caixa Econômica Federal.
A principal hipótese é a de que os erros do banco federal teriam precipitado os saques. Policiais acreditam, contudo, que é remota a hipótese de indiciamento de representantes da Caixa. Cem testemunhas ainda serão ouvidas.
Como a Folha de S.Paulo mostrou há duas semanas, o pagamento antecipado de todo o Bolsa Família tornou-se a principal linha de investigação da PF.
Os beneficiários do programa estavam acostumados a uma rotina de pagamento. A mudança, com todos os 13 milhões de benefícios disponíveis em 17 de maio, sem nenhum escalonamento, teria ajudado a espalhar os boatos, que provocaram corrida aos caixas eletrônicos em 18 e 19 de maio.Em um primeiro momento, a Caixa informou que liberou o benefício após a confusão provocada pelos boatos.
Após a Folha de S.Paulo revelar que dona de casa da região metropolitana de Fortaleza (CE) conseguiu retirar dinheiro de forma antecipada, o banco admitiu que houve mudança no calendário de repasses na véspera do tumulto.
A conclusão preliminar da PF contradiz o discurso político inicial do governo. PT e ministros disseram que a oposição seria a responsável por uma ação para espalhar os boatos.
Após o tumulto, o Ministério do Desenvolvimento Social, responsável pelo programa, que atende 13,8 milhões de famílias, informou que estabelecerá um serviço de envio de mensagens aos beneficiários que têm celular.
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