Beatriz mandou a filha para a casa de amiga e aguarda na sarjeta até novo despejo| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

As lideranças falavam em 1,5 mil famílias durante a ocupação no Fazendinha, mas o despejo obrigou a maioria a voltar para o aluguel ou casas de parentes. Cerca de 200 famílias persistiram e, menos de 24 horas após a operação da Polícia Militar, em 23 de outubro, já montavam barracas nas calçadas em frente do terreno, onde se organizam como podem. Uma secretaria, uma cozinha comunitária – para café-da-manhã, almoço e jantar – e até uma comissão de atendimento à imprensa foram criadas no acampamento improvisado.

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Permanecem ali por extrema necessidade. O esforço e a colaboração mútua não bastaram para solucionar uma grave deficiência: o banheiro. A casinha construída milimetricamente sobre o bueiro da Rua Theodoro Locker é o único lugar para as necessidades de mais de 300 pessoas. É no mínimo constrangedor para mulheres e crianças.

A precariedade da situação está no olhar, no sentimento de humilhação. Ainda assim, 60 dias após a invasão do terreno, um leve fiapo de esperança prospera. Cláudia Fonseca optou por permanecer na calçada. O aluguel de R$ 200 demolia as finanças da família, que não conseguia arcar com os custos das fraldas e das despesas médicas do pequeno e lépido Ricardo Andrei, 2 anos. "Quando soubemos da invasão, viemos com a nossa mudança e tudo, acreditando que isso iria dar certo", explica.

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Sentada no meio-fio, cuidando o filho que brincava na sarjeta, Cláudia conta que a família ainda sofreu com a destruição da moradia. "Fizemos o barraco bem estruturado, e a polícia colocou fogo. Queimou tudo, até a roupa do meu filho", recorda. "Contamos com a solidariedade de algumas pessoas. Eu, por exemplo, ganhei uma cama de solteiro, que divido com meu marido e o filho toda noite".

Na barraca ao lado, Beatriz Lima lamenta o mau destino depois da morte do marido. "Sempre morei de aluguel, mas tive tudo o que precisava. Com as despesas do funeral, fiquei sem nada", diz. Cozinheira desempregada, ela seguiu a invasão por não ter para onde ir. Juntou-se aos necessitados. "Mandei minha filha, de 6 anos, para a casa de uma amiga. Ficar aqui, nessas condições, não dá", explica. "Amanhã ou depois, eu e minha família estaremos debaixo de um viaduto", diz.