Surpresa. Essa foi a reação de três curitibanos ao se transformarem na principal notícia do jornal Hawkes Bay Today, da Nova Zelândia. Sob o título "Nos escravizaram por nada", a matéria contava que os universitários trabalharam durante três dias em uma plantação de aspargos, das 5 às 13 horas, como "escravos". O empregador não pagou nada pelo serviço: um calote de US$ 240 para cada um.
"Não gostamos muito do contexto da reportagem [publicada há cerca de 15 dias]. Afinal de contas, apesar de ser pesado e difícil colher aspargos, não foi trabalho escravo. Apenas ficamos surpresos pelo calote em um país desenvolvido", disse Julian Tourinho Orue, de 19 anos, estudante de Biologia da Universidade Federal do Paraná. Julian conta que até os caixas do supermercado os reconheceram. "O jornal é bastante conhecido aqui."
Julian foi para Nova Zelândia há um mês e meio com seus amigos de infância Augusto de Oliveira, de 20 anos, estudante de Odontologia da PUCPR, e Eric Gomes Lachowski, 20 anos, estudante de Administração da FAE.
Os jovens contam que o mal-entendido ocorreu porque ao final da entrevista Augusto teria dito à repórter do jornal local que foi uma espécie de "trabalho escravo" (querendo dizer que foi um trabalho pesado). Foi compreendido ao pé da letra.
Os curitibanos, que viajaram por conta própria, pretendem ficar no país até julho de 2006. No programa, surfe e inglês. Segundo Augusto, eles foram contratados há duas semanas na cidade de Hastings para trabalhar em uma plantação de aspargos por um indiano chamado Fred, que foi demitido dois dias depois. "Um outro indiano chamado Bablin disse que íamos trabalhar para ele. A dona do albergue onde estamos, Jennifer Norton, nos alertou sobre a possibilidade de calote e desistimos do trabalho."
"Corremos atrás do prejuízo, com a ajuda de Jennifer. Se não conseguirmos nada, vamos deixar isso de lado", diz Julian. Eric diz que depois do trabalho duro na colheita de aspargos não esperava ficar sem recompensa.
A mãe de Augusto, Cecília Veiga de Macedo, conta que o filho a alertou sobre a reportagem e disse para não ficar preocupada.
O administrador José Kuchanovicz Júnior, de 22 anos, também saiu na foto de capa do jornal, apesar de não ter trabalhado na colheita de aspargos. "Estudei com o irmão do Eric e resolvi me unir ao grupo durante a minha estada aqui."
Júnior acredita que a falta de notícias locais fez a história dos curitibanos sair como manchete do jornal. "Iriam faltar páginas nos jornais brasileiros se noticiassem todos os caloteiros do país. Aqui não tem buraco na rua, nem acidentes de trânsito. É outra realidade."
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