Parece que a escada de madeira em espiral só vai terminar embaixo do asfalto. Oito metros de descida. O ar é parado. O cheiro, de pó. O ambiente demonstra que, nos últimos anos, aquele fosso não tem sido frequentado por pessoas.

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Ao final da escada, encontra-se um quartinho. Duas lâmpadas acesas no teto. Por duas janelinhas no alto entra o chiado dos carros que passam lá fora pela movimentada avenida Nove de Julho, no centro de São Paulo. O quartinho é claustrofóbico. Se fosse uma história do Harry Potter, é aqui que estaria o basilisco.

Três meses atrás, arquitetos responsáveis pela reforma do mirante Nove de Julho, que fica em cima do túnel de mesmo nome, descobriam uma espécie de câmara secreta no espaço.

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O mirante, que há anos era ocupado por moradores de rua, foi cedido pela prefeitura ao empresário Facundo Guerra para a construção de um restaurante e de um café.

A inauguração ocorre neste domingo (23), durante a programação do segundo fechamento da avenida Paulista aos carros. A entrada fica na rua Professor Otávio Mendes, bem atrás do Masp, região da avenida Paulista.

Na reforma, o arquiteto responsável pela obra, Marcos Paulo Caldeira, viu uma porta fechada com concreto. Ficou curioso e mandou quebrar. Apareceu uma escada de madeira. Desceu e encontrou a câmara, cerca de oito metros abaixo da área do mirante.

“Essa área não estava na planta original que a prefeitura enviou para nós. Ninguém sabia que existia. Foi uma descoberta para nós”, diz Caldeira, do escritório de arquitetura MM18.

O espaço de 16 metros quadrados, que não estava no projeto inicial, estava fechado há anos. Não se sabe quantos. O arquiteto desconfia que ele foi fechado para não ser ocupado por usuários de drogas.

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Caldeira diz que, anos atrás, a câmara fazia parte da entrada da área de manutenção do túnel 9 de Julho, que passa por baixo da avenida Paulista.

Ela permanece do jeito que foi encontrada - inclusive a escada de madeira. Foi feita apenas uma instalação elétrica. Segundo Caldeira, os bombeiros aprovaram o uso do espaço.

Agora será usado como espaço de exposições e intervenções artísticas. Facundo também planeja alguns eventos na “câmara secreta”, como pequenas festas: “pode ser a menor boate do mundo”, nas palavras dele.

No domingo, o coletivo Rolê fará uma exposição de fotografias de áreas abandonadas em São Paulo. As imagens foram reunidas nos últimos dez anos.

Café e restaurante

A inauguração do mirante terá a visita do prefeito Fernando Haddad (PT). No Facebook, mais de 11 mil pessoas já confirmaram presença. Em todo o espaço, porém, cabem - a entrada será gratuita e vai seguir a ordem de chegada.

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Dentro do salão do mirante foram instalados um balcão de madeira em cada ponta. Em um deles vai funcionar um café. No outro, um restaurante. O espaço terá shows e intervenções.

Parte remanescente da primeira fase de ocupação residencial da avenida Paulista, o Belvedere Trianon era o local onde a elite fazia eventos. Quando projetou a avenida, inaugurada em 1891, o engenheiro Joaquim Eugênio de Lima reservou um espaço mais ou menos na metade da avenida para um belvedere (mirante, em italiano).

Segundo levantamento do DPH (Departamento do Patrimônio Histórico), o espaço começou a ser construído em 1912, a partir de projeto de Ramos de Azevedo, que também foi o responsável pela execução da obra.