Cinco dias após a apreensão de mais de 200 toneladas de mercadoria durante a operação "Choque de Ordem", nenhum ambulante conseguiu retirar produtos ou material de trabalho dos depósitos da Prefeitura. Diferentemente do que informavam os fiscais quando faziam as apreensões, a Secretaria de Ordem Pública informou que é necessário um processo administrativo para verificação da legalidade e posse da mercadoria, com duração de até cinco dias. Nesta sexta-feira (9), dezenas de camelôs faziam fila no depósito da Coordenadoria de Fiscalização e Licenciamento, em Bonsucesso (zona norte), para apanhar o auto de apreensão necessário para o iniciar o processo para recuperação da mercadoria.
No Centro do Rio, o número de ambulantes já era visivelmente menor. Fontes da Prefeitura afirmam que a operação, que a partir de quinta passou a atacar depósitos ilegais de mercadorias, visa a "secar a fonte" dos ambulantes sem o desgaste político da repressão aos camelôs nas ruas. Entre os ambulantes, porém, o clima era de revolta. Com medo de supostas represálias, nenhum deles quis se identificar, mas vários disseram que a operação "Choque de Ordem" tirou a única fonte de renda de centenas de pessoas. "Tenho até o dia 15 para pagar a pensão do meu filho. Se não voltar a trabalhar, pego uma faca e vou para a pista (rua) ganhar dinheiro", ameaçava um homem em frente a um depósito clandestino no Centro fechado anteontem pela prefeitura.
O mais revoltado na fila do depósito da Prefeitura em Bonsucesso era o líder comunitário acusado de chefiar uma milícia (quadrilha de policiais), Marco Aurélio França Moreira, o Marcão dono de um prédio irregular na orla do Recreio dos Bandeirantes (zona oeste) destruído pela Prefeitura na segunda-feira. Ele acusou os fiscais de "sumirem" com quatro computadores, dinheiro e uma mala de alumínio com documentos e disse que é vítima de perseguição política.
Campanha
"Vários prédios no Recreio são irregulares, porque apenas o meu foi demolido?", questionou Marcão, que é o terceiro suplente de deputado federal do PSC. Acompanhado de advogado, ele anunciou que vai entrar com um recurso pela manutenção da posse do terreno e processará a Prefeitura do Rio por perdas e danos. Cabo eleitoral do prefeito Eduardo Paes (PMDB) durante a campanha, se disse arrependido do apoio.
"Ele usou muito os meus carros na campanha para fazer isso. O fato é que ele está colado com o governo federal e estadual e se sente o dono do mundo", afirmou o líder comunitário. Por meio de sua assessoria, o secretário de Ordem Pública, Rodrigo Bethlem, se limitou a afirmar que a demolição do prédio foi feita dentro da legalidade.
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