O cardiologista Costantino Costantini costuma dizer que quem faz exercícios está fazendo uma poupança para o futuro. "É como se fosse um plano de previdência, uma aposentadoria", reafirmava ele ontem, enquanto caminhava junto com milhares de pessoas no Parque Barigüi. A diferença, segundo ele, é que o crédito obtido é de saúde. "Quem se cuida hoje tem mais saúde no futuro. Viverá mais e melhor", diz.
Se o médico estiver certo, 3,5 mil pessoas fizeram crescer ontem a sua reserva para os próximos anos. Elas aceitaram o desafio de sair de casa no domingo de manhã para andar 4,5 quilômetros. No final do percurso, não havia nenhum prêmio. Só a certeza de ter feito algo para muitos pela única vez na semana em benefício do seu corpo.
As 3,5 mil pessoas foram as que participaram da 2.ª Caminhada do Coração, promovida pelo Hospital Cardiológico Costantini e pela prefeitura de Curitiba. O trajeto começou na Praça do Japão e terminou no Parque Barigüi. O trajeto foi percorrido em uma hora.
A idéia da caminhada surgiu no ano passado. Foi inspirada pelo sucesso da Caminhada e Corrida contra o Câncer de Mama, que tem juntado pequenas multidões país afora, incluindo Curitiba. No caso do passeio do coração, a diferença é que não há taxas nem inscrições participa qualquer um que esteja com vontade.
Idade
Boa parte dos integrantes da caminhada era de pessoas da terceira idade. Vários já tiveram algum tipo de problema cardíaco. Outros estavam se prevenindo, por saber que os riscos são altos ou por conhecer histórias de pessoas próximas que sofreram do coração. Até porque não é difícil ter alguém conhecido com este tipo de problema. Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de um terço das mortes no mundo todo tem origem em doenças cardíacas.
Para Costantini, que há anos dirige o hospital cardiológico, isso é um sinal de que os jovens ainda não aprenderam a lição necessária. As pessoas ainda deixam para se prevenir quando já sentem o peso da idade, quando o que deveria acontecer é exatamente o contrário.
Mas é da terceira idade que surgem os melhores exemplos de determinação e de cuidados com a saúde. Dona Alzira Alves Ramalho é uma das que acabam servindo de inspiração. Aos 86 anos, é uma sobrevivente. Teve cinco ataques cardíacos. Precisou colocar quatro stents, pequenas molas que garantem ao sangue espaço para passar dentro de veias e artérias.
Ano passado, na primeira edição do evento, dona Alzira caminhou ao lado dos demais por mais de um quilômetro e cativou a multidão. Neste ano, esteve internada recentemente devido a um problema no intestino. Mas bateu pé. Quis porque quis ir à caminhada. Acabou transformada em "musa" do evento, transportada como símbolo de disposição em cima do carro de som que puxava os participantes. "Mas ano que vem, se Deus quiser, estou lá embaixo andando de novo", afirma.